O maior mecenas que o futebol brasileiro já conheceu pode deixar de se interessar pelo Santo André, um dos 12 clubes paulistas que o procuraram após anunciar que virou investidor. Enquanto segue à espera de segurança jurídica na formulação do clube-empresa que seria a cabeça de ponte para administrar uma agremiação profissional, Saul Klein teria arrefecido o interesse pelo Santo André. Sugiro à diretoria do Ramalhão que se prepare a uma potencial e comprometedora orfandade. De favorito, o Santo André teria passado para a lista de reserva dos investimentos.
É preciso explicar o significado dos investimentos de Saul Klein muito além do curtoprazismo com que a maioria observa futebol.
O projeto da empresa a ser criada por Saul Klein é tornar o clube ao qual estará vinculado um progressivo somatório de sucessos a ponto de se sustentar sem sustos na Série A1 do Campeonato Paulista e chegar à Séria B do Campeonato Brasileiro. Algo que a empresa que controla o Red Bull só alcançou depois de muitos anos de investimentos frustrados, até que optou pelo atalho chamado Bragantino, com custo anunciado de R$ 45 milhões.
Projeto de longo prazo
Uma ação de longo prazo requer mais recursos financeiros do que imagina quem faz cálculos levando-se em conta apenas uma temporada. Para chegar à Série B do Campeonato Brasileiro, qualquer clube que esteja na condição do Santo André (integrante da Série A1 do Campeonato Paulista com alto risco de rebaixamento) precisaria investir perto de R$ 50 milhões em quatro temporadas. E mesmo assim as possibilidades de sucesso não são garantidas, porque futebol não é ciência exata. De novo o Red Bull está aí como prova provada.
Saul Klein quer percorrer esse caminho de forma sólida, com base num projeto em que investimentos financeiros e competitividade esportiva sejam observados como valores intrínsecos. Portanto, quem faz as contas levando em conta que os resultados ficariam por conta do destino errático de uma bola de futebol está precisando rever os conceitos e também a matemática.
Saul Klein anunciou recentemente que não mais faria doações ao São Caetano. Ele descobriu série de irregularmente cabeludas na gestão do clube-empresa que mais sucesso fez no futebol brasileiro no início deste século. O São Caetano Futebol Limitada é o desdobramento esportivo da Associação Desportiva São Caetano.
Convite do Santo André
A mudança de rota de Saul Klein em relação ao Santo André é especulada no entorno do empresário e se teria fortalecido ontem com uma notícia publicada pelo Diário do Grande ABC. A informação teria irritado o integrante da família Klein, da rede Casas Bahia-Ponto Frio.
A interpretação de que o Santo André estaria aquecendo as fornalhas de debates sobre o interesse de Saul Klein o teriam irritado especificamente porque aborda números monetários sobre os quais não teria havido nenhuma abordagem até agora. O jornal publicou que o comando do futebol do Santo André custaria de imediato a Saul Klein a bagatela de R$ 7 milhões.
O empresário foi procurado por dirigentes do Santo André assim que se anunciou a retirada do São Caetano e não houve tratativas financeiras como condição à aproximação.
Salvação da lavoura
Saul Klein ouviu de dirigentes do Santo André que ele representava a salvação de um clube insistente num processo esportivo de roda-gigante, subindo e descendo na hierarquia do futebol paulista e incapaz de retomar o calendário nacional. O Santo André chegou ao topo da Série A do Campeonato Brasileiro em 2009, mas, em seguida, foi rebaixado sucessivamente durante a gestão da Saged, empresa a quem a diretoria transferiu a gestão do futebol durante cinco anos, a partir de 2008.
O empresário Ronan Maria Pinto levou o Santo André aos céus do título de vice-campeão paulista em final contra o Santos e ao segundo lugar na Série B do Brasileiro, atrás apenas do Corinthians, e, depois de disputar a Série A do Brasileiro, deixou a equipe fora do calendário da CBF.
Valor da discórdia
A inferência de suposto valor monetário que envolveria a incorporação do futebol do Santo André pela empresa de Saul Klein -- mencionado na reportagem do Diário do Grande ABC -- é considerada pelo entorno de Saul Klein como quebra de confiança. A citação deslocaria o projeto do ambiente desejado, ou seja, a premência de o dirigente continuar no futebol da região.
Sabe-se que as informações do Diário do Grande ABC abriram provável fosso na relação de Saul Klein com a diretoria do Santo André. O pressuposto de que teria sido o presidente Sidney Riquetto o responsável pela versão publicada pelo jornal daria caráter oficial às eventuais restrições que se anteporiam à migração de Saul Klein ao Santo André. O que deveria ser uma viagem sem percalços pode ter criado um circuito insanável.
Há tentativas no entorno de Saul Klein de amenizar a situação. Sugere-se que o presidente Sidney Riquetto se excedeu no entusiasmo de contar com um grande investidor e tenha sido contaminado por eventuais conselheiros igualmente deslumbrados.
Entretanto, a citação do valor na reportagem não está vinculada a declarações de Riquetto, embora haja espaço suficiente de subjetividade à interpretação no sentido oposto, ou seja, de que tudo teria partido mesmo do presidente do Santo André.
Pendências no São Caetano
Até que ponto essa situação poderá ser contornada é um grande ponto de interrogação. Saul Klein estaria aborrecido com o noticiário entre outros motivos porque o material não refletiria as tratativas preliminares. A reportagem do Diário do Grande ABC teria sido observada por assessores de Saul Klein como espécie de pressão do Santo André por recursos financeiros do empresário.
Em suma, o Santo André teria deixado de ser favorito a contar com o controle da empresa que está sendo criada por Saul Klein. E não faltariam pretendentes. Inclusive a Ponte Preta de Campinas, que vive situação financeira delicadíssima. Um dirigente da Ponte Preta manteve contato com Saul Klein há 15 dias.
A situação de Saul Klein no São Caetano é bastante complexa. Sabe-se que nos últimos meses ele decidiu se dedicar à agremiação empresarial comandada por Nairo Ferreira. Havia informações suficientes que mereceriam investigações. Foi aí que Saul Klein deixou a condição de doador sem preocupação com o destino dos recursos e passou a atuar nos bastidores, com série de aliados, inclusive especialistas nas áreas Cível e Criminal. Saul Klein virou uma espécie de corregedor das próprias doações.
Divida comprometedora
O que teria visto e constatado seria estarrecedor. Daí os conselheiros da Associação Desportiva São Caetano terem exigido a renúncia de Nairo Ferreira que, desde então, comanda exclusivamente o São Caetano Futebol Limitada, do qual é sócio-proprietário de praticamente todas as ações.
Haveria um buraco financeiro de mais de R$ 20 milhões a ser resgatado. Nairo Ferreira está buscando parceiros. Tem oferecido o São Caetano a vários agentes que trabalham com jogadores. No mercado de agremiações esportivas, o custo-benefício que seria proporcionado pelo controle do São Caetano é visto como desanimador. Há muitas ofertas na praça nacional. O quadro macroesportivo também teria pesado na reação de Saul Klein ao noticiário do Diário do Grande ABC.
O futuro de Saul Klein e do São Caetano Futebol Limitada parece não correr na mesma raia. Considera-se muito pouco provável que o homem que colocou mais de R$ 80 milhões na agremiação empresarial nos últimos cinco anos recuará da decisão de, a partir de novembro agora, canalizar qualquer recurso à agremiação. Inclusive, já teria reduzido o fluxo previsto para esta temporada. Uma redução que já produz reflexos: salários e direitos de imagem de jogadores e comissão técnica estão atrasados.
Sustentação total
Esperar que Nairo Ferreira contorne a situação é ignorar os fatos pretéritos e a incapacidade administrativa do dirigente. Praticamente todos os recursos que constam do orçamento do São Caetano Futebol Limitada saíram de contas correntes de Saul Klein. Doações legalizadas junto à Receita Federal. Nairo Ferreira é incapaz de gerar dinheiro para pagar sequer gandulas nos jogos do São Caetano.
Os desdobramentos do noticiário do Diário do Grande ABC de ontem são na verdade cafés pequenos ante as batalhas jurídicas que se prenunciam no relacionamento entre o então mecenas Saul Klein e o presidente Nairo Ferreira. Embora se mantenha certa discrição sobre as descobertas de Saul Klein, sabe-se que há alguns caminhos a serem percorridos que não levariam a outra consequência senão ao campo criminal.
Nunca é demais lembrar que o agravamento do quadro de irregularidades praticadas pelo presidente do São Caetano Futebol Limitada se deu durante vários anos, período no qual Saul Klein viveu problemas de saúde. Diferentemente, portanto, dos anos dourados do São Caetano, no início do século, quando era ativíssimo dirigente controlador dos bastidores do futebol, nos mais que os últimos cinco anos, Saul Klein se manteve praticamente fora de combate. Coincidentemente, a equipe foi rebaixada seguidamente no circuito nacional e estadual.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André