A reportagem publicada na edição de domingo do Diário do Grande ABC sobre o desembarque do maior mecenas do futebol brasileiro no Santo André acabou com o sonho da diretoria do clube: Saul Klein desistiu de investir na agremiação que disputa a Série A1 do Campeonato Paulista nesta temporada, embora não conste do circuito nacional para se sustentar em nível considerado competitivo mesmo entre os clubes pequenos-médios do futebol brasileiro.
O que seria um bilhete premiado virou grande decepção. Viraram sonho de verão os projetados R$ 50 milhões de investimentos que forneceriam combustível logístico para instalar o Santo André na Série B do Campeonato Brasileiro.
Um dirigente do Santo André foi comunicado informalmente ontem à noite sobre a decisão de Saul Klein. As relações entre as partes não foram abaladas. A direção do Santo André assegurou em comunicado oficial e em contato com assessores de Saul Klein a improcedência de informações veiculados no Diário do Grande ABC.
Improcedência no caso se refere ao fato de que nada partiu das bases oficiais do clube. Há quem fale em sabotagem de terceiros que teriam interesse em controlar o Santo André de forma menos profissional.
R$ 80 milhões em cinco anos
Saul Klein teria compreendido as alegações dos dirigentes do Santo André, mas mesmo assim não arredou pé do recuo. O empresário recupera-se de problemas de saúde que o afastaram do São Caetano. Foi um longo período, mas mesmo assim ele doou mais de R$ 80 milhões nos últimos cinco anos. Saul Klein viu de longe o São Caetano ser rebaixado sistematicamente, além de construir uma dívida monstruosa que pode levar o presidente Nairo Ferreira a constrangimentos criminais.
Afinal, o que o Diário do Grande ABC publicou em forma que se constata de especulações sobre o que seria o controle do futebol do Santo André pelo empresário Saul Klein?
1. Uma reunião jamais programada.
2. Um valor atribuído ao negócio que jamais foi cogitado.
3. A atribuição de interesse de Saul Klein pelo clube, não o inverso.
4. A especulação de que Saul Klein usaria o Santo André como moeda de troca temporária.
5. Burburinhos sobre demandas de conselheiros do Santo André a respeito do negócio.
Esses são os principais pontos que teriam levado Saul Klein a inicialmente repensar e em seguida apertar o botão de cancelamento do investimento. Sabe-se que já estava delineado um projeto de fortalecimento do Santo André tanto nos gramados como nas divisões de base e também junto à comunidade. O Santo André seria tratado por Saul Klein como um produto de valor agregado.
Clube com valor agregado
A gestão do Santo André sob o controle de Saul Klein fugiria completamente do perfil de duas décadas em que o empresário financiou o São Caetano com doações milionárias. Desta vez, por estar à frente da iniciativa, Saul Klein aplicaria ideias inovadoras, contando para tanto com uma equipe de assessores.
Uma das medidas transformaria as torcidas organizadas em grupos de reforço do marketing de massificação popular do Santo André. Publicamos recentemente série de iniciativas que estavam na alça de mira do empresário.
Saul Klein se desgastou com o noticiário que mercantilizou a aproximação com os dirigentes do Santo André. Houve quem visse nas informações publicadas pelo Diário do Grande ABC uma conotação que poderia comprometer a idoneidade ética e moral do empresário, colocado como oportunista.
O Diário do Grande ABC divulgou que a chegada de Saul Klein para comandar o futebol do Santo André representaria repasse de R$ 7 milhões ao clube. Não houve nenhum acerto nesse sentido, mas sim de probabilidades de grandes investimentos do empresário para manter o Santo André a salvo de solavancos na hierarquia do futebol paulista. Mais que isso: solidificando-o no cenário nacional.
Milhões de embaraços
Mais que instalar as tratativas num patamar monetarista com rastros subjetivos de suspeição, o noticiário causou embaraços à própria direção do Santo André. Sabe-se que, ao estabelecer R$ 7 milhões como precificação da introdução de Saul Klein no Santo André, a reportagem do Diário do Grande ABC colocou a direção do clube em situação incômoda caso o controle do futebol pelo empresário se desse em valores inferiores. Ou seja: o noticiário rompeu o lacre de confidencialidade das tratativas sem que houvesse base para tanto.
Por conta desse ramal idiossincrático, a reportagem do Diário do Grande ABC deu conta de que haveria uma reunião da diretoria do Santo André nesta semana para discutir o assunto. Jamais houve programação mesmo informal desse encontro. O que há no cronograma de eventos diretivos do Santo André é a renovação de um terço do Conselho Deliberativo, cuja importância é apenas estatutária.
Carta-convite
Também teria irritado o empresário Saul Klein a informação repetida em várias edições do Diário do Grande ABC de que partiu dele e não da direção do Santo André o interesse de se juntarem as partes para impulsionar o futuro da equipe.
A informação não tem sustentação fática. Distante disso, aliás: Saul Klein conta inclusive com carta-convite assinada pela direção do Santo André para dirigir o futebol pelo tempo que considerasse importante.
Mais que a inversão do fluxo de interesse pelo comando do futebol do Santo André que o jornal repassou aos leitores em várias edições, inclusive na matéria publicada nesta semana, Saul Klein também se irritou com outra premissa considerada falsa: a de que o Santo André era apenas uma válvula de escape provisória, espécie de plano reserva, uma moeda de troca temporária de Saul Klein diante do impasse que o levou a anunciar afastamento como doador de recursos milionários ao São Caetano.
Saul Klein teria considerado a informação descabida, segundo assessores, entre outras razões porque a proposta de dirigir o futebol do clube partiu do Santo André e também porque o São Caetano está fora do radar de investimentos por conta das descobertas sobre o que Nairo Ferreira fez nos verões passados.
Moeda de troca
Para completar a lista do que Saul Klein teria chamado de impropriedades da reportagem do Diário do Grande ABC, a possibilidade de encontrar resistência de conselheiros da agremiação o colocou de sobreaviso. Saul Klein tem recomendações médicas para fugir de contendas que o abalem emocionalmente.
O recado transmitido pela reportagem do jornal o incomodou porque teve conotação interpretada como paradoxal. Afinal, se a diretoria do clube o procurou para impulsionar o Santo André tanto no Campeonato Paulista como rumo ao calendário nacional hoje fora do horizonte, não teria sentido espécie de aviso prévio de como deveria se comportar como investidor com vasto currículo de benemerência esportiva.
Não custa lembrar que os milhões de Saul Klein doados ao São Caetano foram integralmente registrados na Receita Federal. Saul Klein é uma das poucas exceções de desprendimento material no futebol brasileiro. Tanto que cansou e decidiu virar investidor.
Repensando negócios
A frustração com o desenlace no Santo André e a desistência de continuar a irrigar o campo árido e comprometedor de Nairo Ferreira no São Caetano devem levar Saul Klein a repensar a cronologia de investimentos no futebol.
Tanto que está sendo constituída a empresa que vai formalizar a relação do empresário no mundo do futebol e que serviria para tornar legal o compromisso com o Santo André.
É possível que Saul Klein desacelere os passos e ganhe tempo para se definir sobre a mais de uma dezena de propostas preliminares que recebeu para, mais que aportar recursos financeiros, controlar o futebol.
Saul Klein tem sido aconselhado, até por conta da redução da debilidade física que o acometeu, a não se deixar levar pelo calendário das competições. Ou seja: os investimentos poderiam esperar por uma oportunidade mais pensada e voltada seguramente ao futuro, sem riscos maiores.
O Santo André de especulações teria servido de lição. A constatação preliminar é que Saul Klein está frustrado com a desistência irrevogável da aterrissagem no Santo André. Os planos foram engavetados e poderão ser ativados para valer apenas em outra agremiação.
Mais que isso: o Grande ABC, que constava como prioridade socioeconômica de investimentos do clube-empresa de Saul Klein, pode ter ido para o acostamento. Consequências poderão se estender aos torcedores organizados que, durante o clássico com o São Caetano recentemente no Estádio Anacleto Campanella, gritaram refrãos de boas-vindas ao empresário. “Ão, Ão, Ão, Saul é Ramalhão” foi entoado em forma de convocação a que assumisse o clube. Faltou combinar com os especuladores.
Banda de música
Há ambientes menos deliberadamente hostis no mercado do futebol. Surgem informações de que alguns dirigentes de clubes prometem retribuir a chegada de Saul Klein inclusive com banda de música.
Algo semelhante à recepção que a cidade mineira de Lavras ao empresário Abraham Kasinski nos anos 1980, quando do investimento em uma nova unidade da Cofap, companhia com sede em Santo André. Tempos em que o capitalismo era mal visto num Grande ABC excessivamente sindicalista. Saul Klein seria a versão futebolística da desindustrialização.
A reportagem do Diário
Para complementar, reproduzo a reportagem do Diário do Grande ABC de domingo, assinada pelo jornalista Anderson Fattori, sob o título “Saul Klein oferece R$ 7 milhões para assumir controle do Santo André”:
A diretoria do Santo André vai tomar nesta semana uma das decisões mais importantes na história de 52 anos do clube. Há muitos anos em dificuldade financeira, a equipe tem nas mãos proposta de R$ 7 milhões para se livrar das dívidas, mas para isso teria de transferir a gestão do departamento de futebol ao empresário Saul Klein, parceiro histórico do rival São Caetano. Segundo apuração do Diário, a proposta dividiu a diretoria e o conselho deliberativo. Alguns são favoráveis alegando que o time não consegue se manter com as próprias pernas e o recurso seria importante na manutenção da equipe na elite do Paulistão. Ala mais conservadora rebate, com argumento de que a diretoria perderia o controle do departamento de futebol e o dinheiro oferecido por Saul Klein é baixo, tendo em vista que o Ramalhão vai receber em 2020 cerca de R$ 4 milhões por participar do Estadual e da Copa do Brasil.
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Saul Klein, filho de Samuel Klein, fundador da Casas Bahia, se aproximou do Santo André há um mês, quando percebeu que teria portas fechadas para comandar trabalho de renovação nas categorias de base e na diretoria do São Caetano. Neste período, seus advogados têm se reunido com frequência com o departamento jurídico do Ramalhão para definir modelo de negócio, que deve ser apresentado nesta semana para aprovação do conselho deliberativo. Os principais receios do Santo André são quanto ao futuro, saber como será a manutenção da parceria e em relação à possível reconciliação de Saul com o São Caetano, já que nos últimos anos o empresário viveu momentos de amor e ódio com os dirigentes azulinos. Caso seu grupo passe a administrar o Ramalhão e em outro momento assuma também o controle do Azulão, as duas equipes não poderão ficar na mesma divisão do Campeonato Paulista, ou seja, um dos clubes teria de se manter na Série A-2.
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O presidente Sidney Riquetto, que ocupa o cargo até dezembro, quando vão acontecer eleições sem candidatos definidos, disse que espera resolver o imbróglio o quanto antes para finalizar a contratação do treinador e a montagem do elenco para o Paulistão. “Tinha para mim um prazo até 15 de outubro, porque em um mês temos de ter o elenco todo montado”, comentou. Com as reuniões com Saul em andamento, o acordo com o novo treinador está paralisado. Se recusar a proposta do empresário, o nome preferido da diretoria é de Paulo Roberto, que tem ido assistir aos últimos jogos da equipe. Caso o Ramalhão aceite transferir a administração do futebol ao grupo de Saul, o preferido para comandar o time é Celso Roth.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André