O São Caetano pode voltar ao circuito menos precário do futebol brasileiro no ano que vem, mas também pode desaparecer para valer do futebol. Isso não é terrorismo. É possibilidade potencialmente tóxica.
Depois de vencer o XV por três a dois no final de semana em Piracicaba pela final da Copa Paulista, e de precisar apenas do empate no jogo de volta no Estádio Anacleto Campanella, o São Caetano está com um pé na Série D do Campeonato Brasileiro e o outro na cova da extinção.
Tudo por conta da saída do mecenas Saul Klein. Cansado de ver o dinheiro mal aplicado, a equipe poderá não ter sustentação financeira para a próxima temporada. E desaparecer, sim, do mapa do futebol.
Lidar com os fatos é projetar o futuro com os pés no chão ou pelo menos em terreno seguro. O São Caetano corre sim o risco de desaparecer do futebol brasileiro. Ou de vegetar a ponto de, em pouco tempo, sumir do mapa de forma discreta, mas inexorável.
Prevenir é bem melhor
Sem o dinheiro de Saul Klein e com um presidente, Nairo Ferreira, acuado por série de irregularidades que o levaram a renunciar à presidência da Associação Desportiva São Caetano, o melhor mesmo é os torcedores se prevenirem.
Não custa explicar que o São Caetano que todos conhecem e que virou a namoradinha do Brasil no começo deste século é dividido em duas partes legais. A representação oficial na esfera esportiva é da Associação Desportiva São Caetano. Nairo Ferreira se afastou dessa porção e não retornará porque os conselheiros não o querem mais. A outra metade é o São Caetano Futebol Limitada, do qual Nairo Ferreira segue presidente. Está louco para largar o abacaxi que soma quase R$ 30 milhões de dívidas.
Na bolsa de valores do futebol brasileiro não há quem queira comprar um clube fora das duas principais divisões (Série A e Série B) que carregue o peso desmesurado desse volume de obrigações a pagar.
O que vai acontecer com o São Caetano que vai ganhar maior importância se a equipe garantir um lugar na Série D do Campeonato Brasileiro? Tudo, menos valer tanto dinheiro, ou esse imenso buraco no balanço geral.
Não há acesso que baste
O acesso à Quarta Divisão aumenta o valor de eventual negociação de transferência das ações do São Caetano Futebol Limitada. Entretanto, nada que ao menos sugira viabilidade de negociações que envolvam a dívida provocada por Nairo Ferreira.
Há informações que seguem inacessíveis aos mais curiosos jornalistas. A situação é tão grave que há quem trace uma linha de risco fatal que chegaria ao fim em dezembro, qualquer que seja o resultado dentro de campo. A torneira de dinheiro de Saul Klein está se fechando aos poucos. O prazo-limite seria o próximo dia 30.
Nairo Ferreira jamais construiu articulações para estruturar uma diretoria que gerasse recursos financeiros sequer para cumprir os compromissos da divisão de base. O dirigente sempre viveu à sombra do dinheiro farto de Saul Klein. A festa acabou. Nairo Ferreira está encurralado dentro e fora de campo. Dentro porque o elenco poderá ser desfeito. Fora porque o aperto vai além da inapetência administrativa. Seguiria um roteio que poderia virar série da Netflix.
Custo elevadíssimo
O entorno de Saul Klein dá conta de que não existe a menor possibilidade de o herdeiro da Casas Bahia assumir o controle das ações do São Caetano Futebol Limitada. Ao recuperar-se de enfermidade que o retirou de combate durante quase cinco anos, Saul Klein assegurou a interlocutores próximos que o São Caetano não constará mais de suas atividades. Nem mesmo como anunciado investidor que tomaria o posto de doador. Saul Klein estuda uma série de propostas para alocar recursos financeiros e participação efetiva na gestão de futebol, um de suas paixões.
Nos últimos cinco anos Saul Klein doou mais de R$ 80 milhões ao São Caetano. Quando se somam esses valores à dívida consolidada, têm-se com clareza o tamanho dos desvarios administrativos de Nairo Ferreira.
Time no lucro
A diferença entre as barbeiragens econômicas da gestão de Nairo Ferreira e a atuação do São Caetano sábado à noite em Piracicaba é que pelo menos o time de Marcelo Vilar ganhou três pontos mais que improváveis.
O resultado foi uma espécie de aberração do futebol. O XV foi sempre melhor, moderno na aplicação tática, contundente nas finalizações, mas perdeu porque o adversário estava iluminado.
O São Caetano foi uma vez mais decepcionante, como o fora no final de semana anterior ao vencer o Esporte Clube São Bernardo no Estádio Anacleto Campanella. O um a zero foi uma fraude meritocrática.
Essas conclusões não significam, entretanto, que o São Caetano não tenha qualificação alguma. O futebol que praticou nos últimos jogos é uma mistura de chutões, lançamentos, erros de passes, baixíssima compactação e tudo o mais, mas tem resquícios de pragmatismo. Bolas paradas, por exemplo, são um ponto fortíssimo. Os contragolpes são erráticos, mas de vez em quando dão certo. Como em Piracicaba.
Se há quatro anos o São Caetano do técnico Luiz Carlos Martins deixou escapar a oportunidade de seguir no circuito nacional, desta vez é pouco provável que perca a passagem de volta ao calendário da CBF.
Empate é ameaça
Naquele ano a equipe decidiu em casa o acesso à Série C do Brasileiro com o Botafogo de Ribeirão Preto, após voltar do Interior, na semana anterior, com derrota de dois a um no lombo. Precisava vencer por placar simples na volta, mas ficou no zero a zero e frustrou a torcida que lotou o estádio.
Agora a situação é menos complicada. Basta não perder para o XV de Piracicaba. Mas precisa se cuidar porque o adversário joga muito mais e a Copa Paulista das quatro últimas edições terminou em cobranças de penalidades máximas.
Voltar ao circuito nacional tanto pode ser um capítulo de esperança de novos dias ao São Caetano quanto ingresso ao circo de horrores de epitáfio surpreendente, ou seja, de ganhar uma competição e sujeitar-se à guilhotina em seguida.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André