Esportes

Vamos especular sobre futuro de
Saul Klein no futebol brasileiro?

DANIEL LIMA - 14/11/2019

Quem já respondeu a alguma pesquisa eleitoral sabe que uma das ferramentas para tirar o que se pode do entrevistado é um disco rígido de papelão plastificado com a distribuição dos concorrentes nos respectivos e democráticos espaços. Nessas condições geométricas, por assim dizer, evita-se suposto favorecimento a quem quer que seja. O eleitor gira o disco no sentido que quiser e, com isso, decide o destino que dará nas urnas.

Vamos brincar de disco de papelão para saber as alternativas que se apresentam ao futuro do ex-maior mecenas do futebol brasileiro, o agora empreendedor Saul Klein.

Como se sabe -- e não é força de expressão --, Saul Klein é mesmo e estouradamente o maior mecenas que o futebol brasileiro já contou. E que deixou de contar. Ele descobriu que o dinheiro que doava ao São Caetano Futebol Limitada não obedeceu a certos rigores de encaminhamentos.  

Red Bull é contraste

Traduzindo: o São Caetano recebeu muito mais do que entregou em campo e não entregou em campo tudo o que recebeu porque havia outros canais de dispêndios que não correspondiam ao fortalecimento da equipe.  Como fez, por exemplo, o Red Bull nesta temporada de incorporação do Bragantino.

O time de Bragança chegou à Série A do Campeonato Brasileiro consumindo o equivalente ao São Caetano do ano passado na disputa da Série A2 do Campeonato Paulista, da qual subiu para a Série A1 desta temporada para ser rebaixado dentro de campo e assaltado pelos alquimistas da Federação Paulista de Futebol, que rasgaram o regulamento.

Resumo da história: Saul Klein caiu fora recentemente do São Caetano Futebol Limitada presidido por Nairo Ferreira. A partir daí começaram a surgir no horizonte de verdades precárias e especulações permanentes umas alternativas de aplicação de recursos sempre legais do empresário. Definitivamente, Saul Klein deixou de ser mecenas para virar investidor no futebol.

Feito esse prólogo, vamos aos espaços que se abrem até agora no disco de papelão rígido e plastificado que sugiro à imaginação do leitor para tentar chegar ao que mais lhe interessaria: desvendar o futuro de Saul Klein no futebol.

Quem quiser usar outra metáfora, como aquela do coelhinho que, entre várias casinhas de portas abertas, escolhe uma para se acomodar, que escolha. Prefiro o disco de papelão rígido. Vamos então às divisões de alternativas que se apresentam: 

 Acerto de contas com Nairo Ferreira e retomada do São Caetano Futebol Limitada, agora na condição de dono, não de vítima.

 Atendimento à demanda de conselheiros da Associação Desportiva São Caetano e acordo para presidir o clube após ruptura do contrato da agremiação com o São Caetano Futebol Limitada.

 Acerto com um clube da Região Metropolitana de São Paulo, de qualquer divisão, desde que assuma o controle total.

 Retomada de negociações com o Santo André.

 Compra de um clube de Segunda ou Terceira Divisão do futebol português.

 Fechamento de acordo com a Ferroviária de Araraquara.

 Desistência de qualquer projeto que envolva futebol profissional.

 Qualquer alternativa, menos as sete anteriores. 

Não vai me dizer que não está gostando da brincadeira? Brincadeira séria, é bom que se diga. E fundamentada. Vamos então às explicações, ponderações e conclusões que possam iluminar o caminho rumo ao voto, ou melhor, rumo ao que de fato pretenderia Saul Klein. 

 Acerto de contas com Nairo Ferreira e retomada do São Caetano Futebol Limitada agora na condição de dono, não de vítima.

Nada é impossível quando se trata da paixão de Saul Klein por futebol e sobretudo pelo São Caetano. Alguém que fez o que ele fez pode fazer ainda mais, mas há ponderação fortíssima que inviabilizaria a negociação. Trata-se da dívida de R$ 30 milhões que Nairo Ferreira construiu com administração top de linha enferrujada. Os especialistas desaconselham Saul Klein a pegar essa bucha porque a bucha de Nairo Ferreira sobraria para ele. Pior que isso: a visibilidade econômico-financeira de Saul Klein industrializaria credores e o buraco financeiro que já é grande viraria uma cratera.

 Atendimento à demanda de conselheiros da Associação Desportiva São Caetano e acordo para presidir o clube após ruptura do contrato da agremiação com o São Caetano Futebol Limitada.

Para entender essa alternativa é preciso lembrar que São Caetano Futebol Limitada e Associação Desportiva São Caetano são metades da mesma laranja. O Futebol Limitada é de responsabilidade empresarial de Nairo Ferreira. A Associação Desportiva é oficialmente a representação de São Caetano na Federação Paulista de Futebol e na Confederação Brasileira de Futebol. É um clube associativo com hierarquia administrativa convencional, inclusive com Conselho Deliberativo. O mesmo Conselho Deliberativo que, nos bastidores, fez Nairo Ferreira renunciar à presidência. Nairo comandava as duas metades da laranja. Um contrato que ainda vai durar sete anos coloca o São Caetano Futebol Limitada como mandachuva do futebol da cidade. Um contrato que poderia ser rompido com certa facilidade no Judiciário. Haveria provas provadas de que o Limitada cometeu série de irregularidades que infringiram os termos regulamentares que possibilitaram a representação legal do futebol. Saul Klein já teria ouvido a proposta de presidir o futebol do clube associativo, mas não se empolgou. Ainda sobrariam, nesse caso, dúvidas sobre sucessão da dívida milionária. Se há algo de que Saul Klein foge porque se sentiria duplamente enganado é matar no peito e baixar na terra um tostão sequer do que Nairo Ferreira teria malversado. 

 Acerto com um clube da Região Metropolitana de São Paulo, de qualquer divisão que seja, desde que assuma o controle total.

Não faltam ofertas a Saul Klein. Os porta-vozes representam clubes da metrópole. Saul Klein já pensou muito no assunto porque não pretenderia deixar de estar fisicamente próximo ao clube que comandaria de verdade. Barueri, onde mora, foi um dos primeiros a constar da lista. Há informações que o colocam no centro de negociações discretíssimas. Há empecilhos de ordem prática. Saul Klein não teria encontrado ainda o time dos sonhos, onde possa chegar e mandar sem se preocupar com eventuais passivos financeiros e diretivos. Ele não tem mais paciência para lidar com cacarecos.

 Retomada de negociações com o Santo André.

As negociações frustradas com o Santo André foram as que mais avançaram desde que Saul Klein anunciou libertação das garras do clube-empresa de Nairo Ferreira. Entretanto, a informação publicada pelo Diário do Grande ABC de que a decisão envolveria R$ 7 milhões e, mais que isso, que o valor seria baixo, o fizeram recuar. Retomar as tratativas é sempre uma possibilidade quando se trata das alquimias de Saul Klein em criar situações que contribuam para atrapalhar terceiros que pretendem especular sobre seu futuro. Pode ser que haja ainda resquícios dessa articulação. Tanto quanto pode ser que seja apenas uma medida dissuasiva. 

 Compra de um clube de Segunda ou Terceira Divisão do futebol português.

Essa alternativa não pode ser desprezada e tem fundamentação que vai além do empreendedorismo nascente de Saul Klein no futebol. Há também vetores que o sensibilizam. Caso da Segurança Pública. Em Portugal, Saul Klein não precisará viver enclausurado, cercado de seguranças. Além disso, potencialmente Portugal é uma porta aberta à monetização mais rentável de talentos do futebol. Quanto mais próximo dos grandes centros futebolísticos para transformar revelações em negociações, melhor. Ronaldo Fenômeno não investe na Espanha porque adoraria a língua de meus avós. Como eu, ele deve preferir o francês, muito mais charmoso. 

 Fechamento de acordo com a Ferroviária de Araraquara.

O noticiário mais recente coloca Saul Klein na presidência executiva da Ferroviária de Araraquara, fruto de suposta compra da maioria das ações. É uma possibilidade que não pode ser desprezada, embora Araraquara seja no fim do mundo quando se contextualiza a presença física permanente de Saul Klein em Barueri. As negociações estariam avançadas, segundo o noticiário. Mas convém sempre lembrar que Saul Klein não teria assinado nada ainda, talvez apenas uma carta de intenções. Quem conhece Saul Klein sabe que, até o último minuto do segundo tempo, com mais sete minutos de VAR, tudo pode se alterar. Caso não sinta segurança jurídica, Saul Klein tira o time de campo. Se captar algum tipo de pressão, igualmente. Quem considera a Ferroviárias favas contadas pode até acertar nos próximos dias, mas também pode quebrar a cara.

 Desistência de qualquer projeto que envolva futebol profissional.

Tirar Saul Klein do futebol é algo como admitir peixe fora dágua, mas quem o conhece e sabe o quanto é obcecado pelo São Caetano jamais imaginaria que rompesse os vínculos com o clube a partir das estripulias da gestão de Nairo Ferreira. É pouco provável que Saul Klein chute para longe o futebol de sua vida, ou que aceite brincadeiras dos amigos mais chegados para que redirecione dinheiro ao voleibol feminino, por exemplo. Saul Klein se mantém irredutível. Pode ser, quem sabe, que acorde um dia desses e decida ouvir os amigos que o querem longe de tantas preocupações e perto de meninas talentosas. 

 Qualquer alternativa, menos as sete anteriores.

Acho interessante os leitores-especuladores não subestimarem essa alternativa, que completa o disco de papelão rígido típico dos entrevistadores do Ibope. Saul Klein é um homem divertido e muitas vezes surpreendente. Nem tudo que verbaliza significa caminho traçado com o destino de resoluções. Quero dizer com isso que ele pode estar dando corda a alguma coisa que vá num sentido enquanto acelera o ritmo no sentido oposto, de outra empreitada. Isso quer dizer em termos práticos que, por exemplo, uma Ferroviária de Araraquara pode tanto estar no passo seguinte de decisões quanto o pretexto a uma jogada inesperada que o faria dar um cavalo de pau. Saul Klein é homem de palavra, mas nem sempre detecta a mesma matriz nos interlocutores. Alguma sinalização contrária aos pressupostos delineados o faz criar alternativas.



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