De maior mecenas do futebol brasileiro, Saul Klein está se tornando investidor no futebol. Tanto que ontem foi recebido com festas em Araraquara. Autoridades públicas, dirigentes e torcedores da Ferroviária festejaram o reforço. É a largada para comandar o clube-empresa. Mas Saul Klein não esquece o São Caetano.
Tanto não esquece o São Caetano que vai investir 10% do dinheiro necessário para a equipe se manter competitiva na Série A2 do Campeonato Paulista. Os outros 90% precisam ser obtidos por dirigentes, conselheiros, torcedores e autoridades públicas da cidade. A fórmula jurídica do investimento ainda não foi definida, mas tem como premissa a condição de patrocínio, sem intervenção direta ou indireta na agremiação.
O São Caetano deixará de ser um clube-empresa bancado pela generosidade de um mecenas porque no mundo da bola não é assim que funciona. Saul Klein cansou de ser exceção à regra. Agora o São Caetano terá de ter o que pode ser chamado de institucionalidade, ou seja, reunir um conjunto de apoiadores e, com isso, contar com receitas versáteis e sustentáveis. Tudo que Nairo Ferreira, presidente desde a fundação do clube, jamais alcançou. Pior que isso: nem se deu ao trabalho porque o dinheiro chegava sem dificuldades.
Não além do limite
Portanto, e para que não resistam dúvidas, a fonte suprema de recursos financeiros de Saul Klein, derivada de anos a fio de trabalho como executivo da Casas Bahia, criada pelo pai, Samuel Klein, agora será cuidadosamente administrada. Nada de intermediários. Saul Klein vai investir e comandar a Ferroviária de Araraquara. Não entregará o dinheiro de bandeja para alguém fazer gato e sapato.
Isso quer dizer de forma resumida que Saul Klein não aplicará recursos financeiros além dos próprios limites estabelecidos. E os limites de Saul Klein são o orçamento da empresa esportiva que constituiu para administrar o dinheiro que aplicará no futebol.
Não à toa Saul Klein se juntou a um grupo mais que experiente na arte de transformar futebol em lucro e que tem Júlio Taran como interlocutor. Saul Klein está ingressando no circuito mundial do futebol. Para alguém que no passado era considerado o grande articulador do setor de vendas da Casas Bahia, não parece haver espaço a improviso.
Especialista em vendas
Futebol virou negócio faz bom tempo e seguirá cada vez mais. “Quer pagar quanto? ”, frase que Saul Klein lançou campanha de vendas da rede de varejo com origem em São Caetano, poderá ser um dos motes da nova etapa no futebol. Certo mesmo é que Saul Klein já sabe quanto vai destinar ao São Caetano e à Ferroviária de Araraquara.
Portando, o que São Caetano não pode mais esperar é que Saul Klein carregue o futebol nas costas. Os ganhos políticos e de imagem de São Caetano, que só o futebol é capaz de proporcionar a uma cidade incrustrada na Região Metropolitana de São Paulo, poderão ter continuidade. Basta que se preencham os 90% orçamentários.
Saul Klein mudou completamente o roteiro de vida esportiva. Tudo começou quando descobriu que o então presidente Nairo Ferreira não aplicava com competência e parcimônia os dinheiros que liberou em forma de doações.
10% do orçamento
Quanto o São Caetano receberá de Saul Klein como um dos 10 necessários investidores ou patrocinadores de que precisaria para disputar a Série A2 Paulista com possibilidades de acesso? Saul Klein está disposto a colocar na próxima temporada o equivalente a R$ 600 mil na equipe. O orçamento anual não passaria de R$ 6 milhões. Mais ou menos o orçamento do Santo André desta temporada na Série A1 do Campeonato Paulista.
Para quem doou perto de R$ 80 milhões no acumulado dos últimos cinco anos, a quantia parece bastante modesta. Mas é isso de que conta Saul Klein para o São Caetano. O dinheiro garantirá ao clube o pagamento de obrigações contratuais com profissionais da equipe sob o controle da empresa do qual é o único sócio.
A Ferroviária terá um modelo diferente de investimento entre outros motivos porque Saul Klein estará diretamente ligado à agremiação. O contrato preliminar já foi encaminhado e a consumação se dará antes do início do Campeonato Paulista. A Ferroviária está na Série A1.
Sem interferência
Nas outras equipes em que decidir colocar profissionais ou mesmo dinheiro em forma de investimento ou patrocínio, os montantes serão bem inferiores e atrelados a ativos profissionais. Não haverá interferência na condução das equipes. Como tantos agentes de futebol, Saul será mais um no mercado da bola. Já o é, na verdade. O Nacional da Capital também contaria com uma parcela dos recursos financeiros da empresa de Saul Klein.
O São Caetano deste final de dezembro volta a contar com comando único do clube esportivo (Associação Desportiva São Caetano) e do clube-empresa (São Caetano Futebol Limitada). Nairo Ferreira não suportou o aperto financeiro após a retirada de doações de Saul Klein e se escafedeu. Agora quem está no comando é Roberto Bia Campi. O dirigente tem boas relações com Saul Klein, mas isso não significa que haverá algum tipo de puxadinho que subverteria o planejamento da empresa esportiva que assumirá a Ferroviária.
As relações entre Saul Klein e o prefeito José Auricchio parecem interrompidas. Não houve nenhum contato do chefe do Executivo com qualquer dirigente do São Caetano desde que eclodiu a possibilidade de Saul Klein abandonar o mecenato que sustentava a equipe.
A movimentação em torno da substituição de Nairo Ferreira partiu de conselheiros da Associação Desportiva São Caetano. O distanciamento entre o Poder Público Municipal e um dos integrantes da família Klein, que colocou São Caetano no mapa do varejo brasileiro como modelo de empresa familiar, é ponto-chave que levou Saul Klein a aceitar a proposta da Ferroviária de Araraquara.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André