O final de semana na sede da Associação Desportiva São Caetano foi um festival de substituição de fechaduras de várias salas. Principalmente da sala do presidente. Tudo com direito a fotografias e filmagens espalhadas nas redes sociais. O São Caetano virou atração em tempo real.
Foi um troca-troca incompreensível para quem desconhece esses tempos bicudos do futebol da cidade. Tempos bicudos a partir da decisão do mecenas Saul Klein de afastar-se do clube. Mais precisamente do clube-empresa chamado São Caetano Futebol Limitada, então presidido por Nairo Ferreira tanto quanto a Associação Desportiva São Caetano.
Nairo Ferreira afastou-se dos dois postos na semana. Na mesma semana, aliás, em que o Legislativo de São Caetano o premiava com o título de Cidadão Emérito. Há informações que dão conta de que o título fora concedido ainda quando Nairo Ferreira reinava soberano no clube com dinheiro farto de Saul Klein. Antes, portanto, de informações sólidas (inclusive ou principalmente deste CapitalSocial) de que Nairo Ferreira fez mais lambanças financeiras do que conquistas técnicas, dentro de campo, pelo menos nos últimos cinco anos.
Festa e invasão
Contando com alguns parceiros no Legislativo, Nairo Ferreira teria se mobilizado para uma saída honrosa -- que o Legislativo e a mídia factual lhe concederam. Só não se esperava contragolpe da nova direção do São Caetano, parte social e parte futebolística, agora sob o comando de Roberto Bia Campi.
Nenhuma invasão é catalogada como prova de respeito e companheirismo. O São Caetano é um barril de pólvora porque dias piores poderão vir. O futebol caminha para a insolvência. Saul Klein promete um patrocínio que representaria 10% da projeção orçamentária para o próximo ano. E os 90% restantes, virão de onde?
Foi com o novo presidente à frente que as dependências da Associação Desportiva São Caetano viraram objeto de trocas de fechaduras. Praticamente todas as portas do setor administrativo passaram pela presteza de um chaveiro em domicílio.
Quando soube da informação que já invadira as redes sociais, Nairo Ferreira reagiu. Contratou outro chaveiro, chamou seguranças municipais e, com a pequena comitiva, substituiu aparentemente apenas a fechadura da sala presidencial. Uma gravação mostra Nairo Ferreira inspecionando a própria sala. Nada parecia fora do lugar, como fazia questão de enfatizar Genivaldo Leal, dirigente do São Caetano Futebol Limitada nos tempos em que Nairo Ferreira comandava o futebol. Genivaldo Leal repetiu que nada fora mexido.
O que está por trás do troca-troca que a mídia esportiva, de papel e digital, não vasculhou nem insinuou? Simples: os 30 anos de Nairo Ferreira estão sendo cuidadosamente inspecionados. Há desconfiança de que haveria documentos importantes à nova direção do São Caetano. Sobremodo quanto a algumas pedras preciosas da divisão de base. Jogadores com talento que deixaram o clube ou estariam sendo negociados. Talentos que poderiam ajudar a minimizar a dívida de aproximadamente R$ 30 milhões acumuladas pela gestão de Nairo Ferreira. Mesmo com perto de R$ 80 milhões que Saul Klein doou regularmente ao clube nos últimos cinco anos.
Ninguém troca e destroca fechadura de graça. Até porque o trabalho em domicílio não é de graça. Mais que isso: poder fazer alguém cair em desgraça.
Divisão de base
O São Caetano de novos dirigentes procura tratar tudo com discrição, mas não faltaram curiosos que ouviram determinados comentários enquanto o vaivém de chaveiros dava o tom na sede da agremiação. Ouviu-se especialmente um nome, a de uma das grandes sensações do futebol brasileiro nesta temporada, o volante Matheus Henrique, ou Matheusinho nos tempos de São Caetano. Sucesso de público no Grêmio e convocado para a Seleção Olímpica, Matheus Henriques significaria uma negociação nebulosa. O novo presidente do São Caetano quer saber tudo porque, mesmo com apenas 1% de participação societária no São Caetano Futebol Limitada, a agremiação social pode ser acionada por credores no futuro. Nada indica que Nairo Ferreira vai sustentar as cobranças de ações trabalhistas, fiscais e com fornecedores.
A mais recente informação dá conta de que, nesta segunda-feira, novas fechaduras seriam trocadas. Agora em definitivo, com a anuência de Nairo Ferreira. E sem intervenção preventiva de guardas civis municipais. A ocupação da sede social da Associação Desportiva São Caetano criminaliza o caso. Ninguém chama para dentro da própria casa profissionais que cuidam da segurança patrimonial. O prédio é público, cedido pela Prefeitura, mas é de uso privado.
O São Caetano associativo é uma entidade autônoma. Não está no cronograma oficial da Prefeitura. Não é uma repartição pública, embora ocupe imóvel que pertence à Prefeitura. Se os seguranças foram solicitados, Nairo Ferreira precisaria explicar as razões. Pela reação que aparece em vídeos, nada foi mexido.
A câmera detectou entre muitos objetos e pastas um porta-recados em que se destacava um palavrão ofensivo de cinco letras -- começa com “c” e termina com “o”.
O que mais interessa mesmo (e disso Nairo Ferreira nada disse) é saber o porquê do troca-troca? Não seria à toa o chamado de chaveiros duas vezes no mesmo dia para abrir e fechar as mesmas portas. Ainda não existe nada que indique que o São Caetano pretende levar ao Comitê Olímpico Internacional proposta que testaria a habilidade de trocadores de chave para disputar medalhas de ouro, prata e bronze.
Nairo Ferreira supostamente não teria mais direito a entrar na sala que ocupou durante muito tempo como presidente porque já formalizou o pedido de afastamento do cargo. Tudo exatamente 48 depois de os vereadores o consagrarem como exemplo de dirigente esportivo.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André