O Campeonato Paulista da Série A1 e da Série A2 começa hoje com uma expectativa e uma dúvida. A expectativa é que o modelo flamenguista de jogar, imposto pelo técnico Jorge Jesus, provoque mudanças para valer na qualidade de jogo das equipes. A dúvida é se a Federação Paulista de Futebol vai respeitar o regulamento que, esquartejado e pisoteado, proporcionou fraudulento acesso de três equipes e o rebaixamento de outras três na última temporada, quando apenas duas deveriam subir e outras duas descer.
Por razões mais que evidentes, será impossível ver em campo a repetição do futebol invejável do Flamengo da temporada passada, mas é possível acreditar que a inspiração de um jogo denso, intenso, de ocupação inteligente de espaços ofensivos, de versatilidade na utilização dos jogadores, seja levada aos gramados em quantidade que minimize os efeitos da qualidade individual e coletiva inferior.
Lições flamenguistas já puderam ser vistas em algumas competições de equipes do futebol brasileiro neste início de temporada, como a copa disputada na Flórida, Estados Unidos. Corinthians e Palmeiras deram sinais de que vão abandonar de vez o modelo mais cadenciado e reativo que marcou principalmente as conquistas do alvinegro. Também na Copa São Paulo de Futebol Junior houve sinais de nova postura das equipes.
Caixinha de surpresa
Qualquer que seja, desde que se remeta aos conceitos do Flamengo, o resultado será bem-vindo ao futebol brasileiro tão defasado em relação às principais competições da Europa, de onde Jorge Jesus veio para revolucionar.
Quanto à Federação Paulista de Futebol o melhor mesmo é esperar. Ao inserir uma equipe penetra na competição (Água Santa de Diadema), diante do silêncio acomodatício da maioria da crônica esportiva e em confronto não só com o regulamento aprovado pelos clubes, mas também com a legislação esportiva e o Estatuto do Torcedor, a FPF deu provas de que não tem limites de maldades para uns e bondades para outros. Seus dirigentes podem fazer qualquer coisa (e geralmente o fazem) caso apareça uma oportunidade de ouro para subjugar os critérios de meritocracia e de legalidade.
Ou alguém é capaz de defender a idiotice juramentada de que um terceiro colocado na Série A2 do Campeonato Paulista (equivalente ao 19º lugar em nível estadual) vale mais que um 15ºcolocado na Série A1? É o caso específico do São Caetano e do Água Santa. O Azulão ainda é defendido na Justiça Comum por um torcedor na expectativa de que a qualquer hora pode tomar o lugar indevidamente ocupado pelo Água Santa. Resta saber o que dirá o Judiciário diante da insensatez da FPF. Recorrer à Justiça Esportiva sob o controle da FPF seria perda do tempo. Por isso o São Caetano optou por entregar a rapadura.
Ranking de probabilidades
De volta à questão técnica e tática, não custa lembrar que a tabela da Série A1 carrega distorções ao se referir às equipes potencialmente mais propensas ao rebaixamento. Expliquei detalhadamente a situação em análise publicada nesta revista digital em 25 de novembro do ano passado sob o título “Tabela ajuda Água Santa e dá força ao Santo André. Confira”.
Expliquei que a Série A1 comporta três grupos tecnicamente diferentes. O primeiro é formado pelos quatro times grandes (Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos), o segundo conta com equipes que disputam a Série A e a Série B do Campeonato Brasileiro (Botafogo de Ribeirão Preto, Guarani de Campinas, Ponte Preta de Campinas, Oeste de Barueri e Bragantino Red Bull de Bragança Paulista), e o terceiro grupo é integrado por Ferroviária de Araraquara, Mirassol, Internacional de Limeira, Novorizontino, Santo André, Ituano e Água Santa --- todos sem calendário nacional.
Três grupos distintos
Preparei naquela edição uma métrica que expunha as possibilidades das equipes de acordo com a hierarquia que ocupam no futebol brasileiro desta temporada. Levei em consideração série de fatores. E fomentei o que chamei de ranking de probabilidades de fugir do descenso. Resultado? O Ituano somou 400 pontos, o Internacional 405, a Mirassol 410, o Novorizontino 415, o Santo André 425, a Ferroviária 430 e o Água Santa 440 pontos. Nesse caso, o Ituano e o Internacional teoricamente são as equipes mais ameaçadas de queda à Série A2.
Para chegar ao ranking considerei as probabilidades de vitórias das sete equipes que formam o bloco dos potencialmente mais rebaixados contra os demais adversários e também entre si, nos confrontos diretos. O Água Santa obteve a maior pontuação porque dos seis jogos que fará em casa, cinco serão contra os demais integrantes das equipes sem calendário nacional. Um exemplo único entre os concorrentes.
Na projeção que elaborei, as equipes sem calendário nacional somam 20 pontos contra os grandes dentro e nada fora de casa; somam 65 pontos em cada vitória dentro de casa e 35 fora de casa contra equipes do mesmo tamanho e, completando, somam 50 pontos em casa contra equipes médias que têm calendário nacional e 20 fora de casa.
Chotometria pura
Qualquer projeção sobre o rendimento das duas equipes da região que vão disputar a Série A1 ou sobre as duas equipes que vão disputar a Série A2 seria chutometria. Não existe base sustentável às avaliações aprofundadas quando se sabe que os elencos estão ainda em fase de formação. Possivelmente ao fim de cinco rodadas será possível afirmar a que grau de eficiência os participantes da competição chegaram e, com isso, traçar o destino mais provável.
Olhar para as equipes que representam o Grande ABC nas duas divisões principais do Campeonato Paulista (sim, na prática são duas divisões distintas, Primeira e Segunda, mas a FPF gosta de brincar com nomenclaturas) e sugerir que sejam favoritas a qualquer coisa é acreditar que as demais concorrentes são apenas apêndices. Exatamente porque não se tem o controle da realidade individual dos demais times, principalmente dos que contam com o mesmo tamanho financeiro, sobretudo os excluídos do calendário nacional, qualquer análise não passará de palpite que pode se tornar infeliz.
Cautela faz bem
Não faltam casos de prognósticos arrebatadoramente patéticos em temporadas passadas. Na Série A1 de 2017 o São Caetano foi derrotado na estreia em Itu e um comentarista de uma emissora local engatilhou uma sentença supostamente profética: o time é fraco e será rebaixado sem dó nem piedade. O São Caetano ficou entre os oito e só foi eliminado no mata-mata diante do São Paulo porque o goleiro Paez fracassou num lance infantil e abriu o caminho para a reação tricolor.
Traçar um possível destino de rebaixamento na Série A1 envolvendo os sete times de calendário apenas estadual, ou de incerta Série D do Campeonato Brasileiro, faz parte do conjunto de uma obra em que os investimentos na formação dos elencos estão muito vinculados às cotas financeiras da Federação Paulista de Futebol e, principalmente, à garantia legal de que as demais agremiações terão um ano inteiro de competições oficiais.
No caso da Série A e da Série B do Campeonato Brasileiro, mais que isso. Se trata de uma garantia de que os investimentos estarão respaldados por cotas expressivas, além de visibilidade televisiva suficiente para viabilizar negociações com os direitos econômicos dos jogadores.
Na Série A1, a primeira equipe da região a estrear será o Água Santa, que enfrenta o São Paulo a partir das 21h30 no Morumbi. O Santo André estreia na quinta-feira, às 19h contra a Ponte Preta, em Campinas. Na Série A2, o São Bernardo estreia sábado às 20h contra o São Bento de Sorocaba no Estádio Primeiro de Maia. E o São Caetano joga às 19h30 contra o Penapolense no Interior.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André