Esportes

Sete riscos capitais ao
Santo André na Série A1

DANIEL LIMA - 04/02/2020

O Santo André precisa ser um fenômeno da natureza esportiva para repetir nos dois conjuntos de quatro jogos da fase de classificação da Série A1 do Campeonato Paulista o que foi nos primeiros quatro jogos. Dividido o campeonato em três blocos de quatro jogos cada (para efeito de observação de rendimento e resultados), o Santo André encontrará perigos mais explícitos nos oito jogos que faltam. Ou seja: os dois terços que restam exigem muito mais, conforme a perspectiva que se abriu.

Os nove pontos conquistados em 12 disputados até agora foram um caminhão de tranquilidade para fugir do rebaixamento, cujo corte seria de 11 pontos. Entretanto, de agora em diante é preciso se preparar para resultados menos nobres. A missão de chegar à fase de mata-mata é árdua, mas não impossível.

As estatísticas não contribuem com projeções seguras quanto a isso. O regulamento favorece distorções nos quatro grupos classificatórios – cada grupo com quatro equipes, classificando-se as duas primeiras, independentemente da pontuação geral. 

Reverso relevante 

À parte as armadilhas da tabela e do regulamento do campeonato, o Santo André não pode se descuidar dos potenciais efeitos deletérios do sucesso das primeiras quatro rodadas. O reverso da medalha precisa ser colocado em campo como contraponto indesejável.

Há sete riscos capitais em jogo. Todos precisam ser cuidadosamente observados e escrutinados para não causarem estragos maiores que as dificuldades técnicas de enfrentar, nos oito jogos restantes, três grandes do futebol paulista. Nesses confrontos, qualquer ponto conquistado é ponto a ser comemorado, mas rebaixa o índice de aproveitamento registrado até agora. O que pode custar a classificação ao mata-mata.

Conheça os sete riscos capitais que aparecem na tela de preocupações de quem tem juízo no lugar e sabe que as primeiras quatro rodadas de 75% de aproveitamento são um ponto fora da curva. 

 Visibilidade inebriadora.

 Mineração de dados.

 Paradas indigestas.

 Descontrole emocional.

 Cartões disciplinares.

 Competição paralela.

 Baixas de contusões.

Instalados esses quesitos, vamos agora ao destrinchamento. Lembrando sempre o contexto desta análise em formato de futuro de quem pode chegar ao mata-mata do Campeonato Paulista.

 Visibilidade inebriadora

Seria interessante ao Santo André que a grande mídia da Capital não enchesse a bola após as quatro primeiras rodadas, mas será inevitável o grau de complicações que novos resultados positivos evocariam. O jogo de domingo contra o São Paulo no Estádio Bruno Daniel pode ser um divisor de águas. Uma vitória do Santo André despertará de vez a sede da espetacularização tão comum na imprensa esportiva. A visibilidade inebriadora teria efeitos colaterais preocupantes porque poderiam afrouxar a engenharia coletiva da equipe de Paulo Roberto dos Santos. O segredo do Santo André é o conjunto mobilizado na disputa dos três pontos. O coletivismo é a alma da equipe. Deslumbramentos podem ser fatais.

 Mineração de dados

É claro que o Santo André está sendo observadíssimo pelos próximos adversários. O mundo do futebol não é um mundo à parte da tecnologia. Incorporam-se aplicativos que praticamente desnudam o desempenho das equipes nos mínimos detalhes. Essa situação de suporte tecnológico seguido de profissionais que procuram desvendar os meandros técnicos e táticos das equipes tornou o provável menos provável no futebol. O Santo André é um time a ser batido pela concorrência. Características individuais e coletivas estão sendo devassadas. A mineração de dados não cede espaço a improvisações como nos tempos de penumbra tecnológica. O Santo André que entra em campo a partir de agora será muito mais íntimo dos concorrentes. É pouco provável que terá capacidade de reinventar-se, como a maioria das equipes raramente a tem.

 Paradas indigestas

Três dos oito jogos que restam ao Santo André serão disputados contra equipes grandes de São Paulo. O confronto com o Tricolor neste domingo será o único no Estádio Bruno Daniel. Menos mal. Na contabilidade prática de sucesso, enfrentar os grandes é um osso duro de roer. O melhor mesmo é que a planificação do campeonato não considere qualquer ponto nos confrontos com os grandes. O que vier é lucro. Enfrentar o São Paulo no contexto do jogo deste domingo é quase uma roubada. A arbitragem deverá estar pressionada depois de o time do Morumbi ser assaltado pelo apitador de ontem no jogo com o Novorizontino. Todo cuidado é pouco. Uma das leis não escritas do futebol diz que time grande roubado é time grande a ser favorecido no jogo seguinte, principalmente se o adversário for time pequeno.

 Descontrole emocional

O risco que corre o Santo André de perder o controle emocional em campo começa a germinar nos vestiários diante da possibilidade de encantamento com os próprios resultados das primeiras rodadas. Se controlar o ambiente no dia a dia de preparação, como é esperado porque o técnico Paulo Roberto dos Santos é um especialista em psicologia esportiva de campo, tudo estará contornado. Mas há sempre surpresa à espreita. Se existe algo entre os jogadores de futebol é a inexorável vocação de seguirem o perfil comportamental dos seres humanos em estado de euforia. Controlar a empolgação é peça-chave.

 Cartões disciplinares

A gestão dos cartões amarelos é uma das artes da competitividade de qualquer equipe, mas é muito mais importante nos times pequenos que pretendem fugir do rebaixamento ou encontrar uma porta aberta rumo à notoriedade temporária ou não de uma classificação à fase de mata-mata. O Santo André não pode perder a perspectiva de que o conjunto é a arma que o move rumo às vitórias e que qualquer mudança na escalação dos 11 titulares sempre causa transtornos. Sustentar a melhor formação durante o maior número de jogos possível é, portanto, um desafio e tanto para reduzir os danos colaterais. Afinal, embora a argamassa coletiva seja a marca da equipe, há individualidades que podem não contar com reservas de características semelhantes. Caso do meio-campista Dudu, um atrevido segundo volante que a todo momento entra na área e causa embaraços aos adversários. Dudu é uma válvula de escape possivelmente sem reposição à altura. E já está pendurado com dois cartões.

 Competição paralela

Disputar a Copa do Brasil (a equipe estreia nesta quarta-feira no Estádio Bruno Daniel contra o Criciúma de Santa Catarina) é uma possibilidade de reforço financeiro considerável. Cada jogo é dinheiro no caixa. Sem contar que a exposição televisiva valorizaria o elenco. O risco, entretanto, é que o acumulo de jogos desencadeia fadiga do material. O Santo André não conta com elenco numeroso e qualificado para dar conta de duas competições e de três jogos por semana. Tanto é verdade que contra o Água Santa de Diadema e o Guarani em Campinas, a equipe sofreu efeitos do cansaço. Fosse um time preguiçoso, não sofreria tanto. Mas o empenho geral e irrestrito para reduzir espaços e contragolpear em velocidade expõe o Santo André à recarga de desgastes físicos.

 Baixas de contusões

Quanto mais uma equipe se desgasta, mais e mais se acentuam os casos de contusões. Perder jogadores também porque os músculos ou os traumas não mandam aviso prévio é perspectiva que deve ser avaliada no futuro próximo do Santo André. Nesse ponto é preciso contar com porção de sorte. Um lance qualquer pode tirar de campo ou mesmo da competição um jogador indispensável ao conjunto tático. A história do futebol raramente registra sucesso de equipes cujas marcas de imprevistos musculares e traumáticos fugiram à normalidade. Não há técnico por mais competente que seja evite resultados negativos quando tolhido de peças que, ajustadas ao coletivo, são requisitadas pelo Departamento Médico. O Santo André joga no limite das forças e como tal precisa rezar para não acusar avarias do destino.



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