Como era previsto, o Santo André já começa a pagar o preço do sucesso na temporada mal-iniciada. Depois de ganhar 75% dos pontos nas quatro primeiras rodadas da Série A1 do Campeonato Paulista, a vitória na largada da Copa do Brasil por quatro a um diante do Criciúma provocou dois dos sete previsíveis riscos capitais que sugerimos nesta semana.
O primeiro é que contusões podem tirar dois titulares do jogo deste domingo contra o São Paulo no Estádio Bruno Daniel. O segundo é que a visibilidade prevista começa a invadir os vestiários. Empresários começam a assediar jogadores titulares e reservas. A disputa por um espaço agora exige mais cuidados da Comissão Técnica e de dirigentes.
Um time marcado para dispersar assim que o campeonato terminar é um time em constante monitoramento para não descarrilar. Seja no sucesso, seja no fracasso. Time marcado para desmanchar é time que não tem calendário nacional, sobretudo na Série A e na Série B Nacional. A Série D vai ser mais extensa nesta temporada, mas está longe de ser compensatória.
Copa do Brasil exacerba
Um condimento inesperado também passou a constar da agenda do Santo André de resultados acima do esperado na temporada. O anúncio de que o clube receberá muito dinheiro pela participação na Copa do Brasil (primeiro pela simples estreia na competição; segundo por classificar-se à próxima rodada) criou alvoroço entre fornecedores com créditos parcelados a receber.
E até mesmo antigas demandas até então não manifestadas de inadimplência do Santo André sob o controle acionário esportivo do Saged, empresa que terceirizou o futebol e deixou rombos que o Judiciário tem reconhecido como do clube – pelo menos até que os acionistas do Saged sejam cobrados.
Um caso já foi julgado pelo Judiciário e o Santo André foi condenado ao pagamento de mais de R$ 6 milhões, em parcelas mensais que hoje são de R$ 118 mil. Praticamente um terço do que é direcionado à equipe que disputa o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil.
A maior preocupação da direção do Santo André é evitar que efeitos colaterais contaminem o ambiente da equipe. E que os efeitos positivos sejam devidamente calibrados.
Trabalha-se muito com a possibilidade de deslumbramentos individuais dos jogadores. O assédio da Imprensa é um convite à dispersão, quando não à negligência involuntária dentro de campo.
Na conta do chá
As condições financeiras do Santo André não são nada favoráveis. A equipe que tem ido a campo conta com orçamento baixíssimo, pré-estabelecido pela diretoria com base principalmente na cota de patrocínio da Federação Paulista de Futebol.
Os recursos adicionais da Copa do Brasil foram calculados previamente como necessários ao equilíbrio durante toda a temporada. Nada, entretanto, que fizesse parte do planejamento de números consolidados.
Exceto no caso de campanha extraordinária, o Santo André da Copa do Brasil contava desde o princípio com a viabilidade de encaminhar classificação à segunda fase. Chegou-se ao destino, porque depois do Criciúma virá o Goiás.
Sem paralelismo com 2004
Não há quem na diretoria do Santo André faça qualquer alusão a um sucesso retumbante da equipe na Copa do Brasil, como a inesperada campanha de 2004, vitoriosa numa final épica diante do Flamengo no Maracanã.
Trocando-se em miúdos, ninguém fala em gastar por conta de perspectivas otimistas. O Santo André reconhece que o que vier a partir da segunda etapa será lucro. A conquista da Copa do Brasil em 2004 é lembrada como um ponto fora da curva de probabilidades. Projetar algo semelhante agora seria imputar aos jogadores e dirigentes responsabilidade que poderia quebrar uma das espinhas dorsais do grupo: a certeza de que podem surpreender os adversários, desde que não se coloque a equipe como protagonista.
O Santo André faz questão de ser coadjuvante até mesmo para não perder o fator surpresa como aliado técnico-tático dentro de campo. Como foi o jogo contra o Criciúma.
Pelo mata-mata
Praticamente fora do rebaixamento após ganhar nove dos 12 primeiros pontos, o Santo André poderá começar a pensar mais seriamente em chegar à primeira fase de mata-mata do campeonato se passar pelo São Paulo neste domingo no Estádio Bruno Daniel.
Há oscilações numéricas que garantiriam um lugar entre os oito primeiros colocados (dois de cada grupo), mas é possível que com 19 ou 20 pontos a classificação esteja garantida.
Os números do passado do Campeonato Paulista oferecem essa instabilidade por conta da forma de disputa da competição. Há grupos que exigem mais e há grupos que exigem menos pontuação. Tudo porque os dois primeiros colocados de cada grupo se classificam independentemente do posicionamento geral dos 16 participantes.
Com quantos pontos?
Um time de um determinado grupo pode somar menos pontos que um time de outro grupo, mas mesmo assim garante presença no mata-mata. Casos assim não são raros na história da competição.
No ano passado, por exemplo, o São Paulo ganhou apenas 15 pontos na fase classificatória mas garantiu lugar no primeiro mata-mata porque ficou em segundo lugar no Grupo D, no qual o Ituano chegou em primeiro com apenas 17 pontos. Dez pontos a menos que o Red Bull, líder do Grupo A que também teve o Santos classificado com 23 pontos. O Corinthians fez dois pontos a menos que o Santos no cômputo geral, mas terminou em primeiro no Grupo C com três pontos ponto acima da Ferroviária, que fez 18.
A fórmula de disputa do Campeonato Paulista da Série A1, portanto, não é um poço de virtudes classificatórias. A roda da sorte muitas vezes fala mais alto quando do sorteio dos grupos. Tanto que no ano passado a Ponte Preta fez 19 pontos na fase de classificação, acima, portanto de Ferroviária, Ituano e São Paulo, mas não teve espaço no mata-mata porque ficou em terceiro lugar no grupo de Red Bull e Santos.
Também houve distorção em disputa anterior: o Santo André chegou em segundo lugar e ao mata-mata com 15 pontos, enquanto São Bento e Ituano fizeram 17 pontos e foram excluídos do baile.
Os números erráticos do Campeonato Paulista são resultado de uma espécie de tapa-buraco das competições estaduais no calendário do futebol brasileiro, cada vez mais elitista porque é assim que os negócios da bola nos pés funcionam depois que a televisão entrou no jogo. Há socialistas que atuam no futebol como cronistas esportivos que apoiam o elitismo das competições. Eles são incoerentes, mas sempre têm resposta quando colhidos no contrapé. Não é só na política partidária que sempre há alguém decidido a reinar com subjetividades.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André