Dois anos e meio depois de virar Reportagem de Capa de LivreMercado, a proposta de o Esporte Clube Santo André transformar-se em clube-empresa está consumada. Entretanto, não será adotado o formato inicialmente imaginado, de sociedade anônima à moda Thatcher, referência à pulverização de ações de empresas estatais que a ex-primeira ministra empreendeu na Inglaterra. A opção que prevaleceu, muito mais fácil de ser costurada na prática, é de sociedade limitada.
O modelo será aplicado contratualmente durante os próximos três anos, a partir deste janeiro, e já valerá para a disputa do Campeonato Paulista da Primeira Divisão. A previsão orçamentária para 2002 atinge R$ 5 milhões, praticamente o dobro da do ano passado. Dinheiro, acredita-se, suficiente para boa participação no Campeonato Paulista e também para disputar o título da Série C do Campeonato Brasileiro.
Nos primeiros dias de janeiro deverão ser anunciados os nomes de empreendedores da região que constituirão a Santo André Licenciamentos, responsável pelo gerenciamento técnico e administrativo das divisões de futebol profissional e amador do Santo André. À frente do grupo de investidores está o empresário do setor de transporte coletivo Ronan Maria Pinto. Até o final do ano passado estava sendo definida a lista de investidores da Santo André Licenciamentos. Dava-se como certa a participação de vários dirigentes históricos do clube, como o presidente Jairo Livolis e o vice Celso Luiz de Almeida, entre outros.
A administração financeira da Santo André Licenciamentos será compartilhada entre representantes da empresa esportiva e do clube, conforme decisão da assembléia geral extraordinária realizada no final de dezembro na sede do Poliesportivo, no Parque Jaçatuba, quando os conselheiros aprovaram a separação das atividades futebolísticas e sociais.
Prestes a completar 35 anos de fundação, o Santo André ingressa na chamada modernidade de clube-empresa com poucas restrições do quadro de conselheiros. A quase totalidade aprovou a medida que acaba por fazer jus à própria denominação da agremiação. De um lado o Esporte, de outro, o Clube.
Houve oposição de alguns conselheiros, preocupados com o que afirmam ser problemática a composição da Santo André Licenciamentos com membros ligados direta e indiretamente à Administração Municipal. A estabilidade institucional entre o Santo André social e a Santo André Licenciamentos está assegurada com a introdução de mudança estatutária, também aprovada pelos conselheiros.
O mandato do presidente Jairo Livolis foi estendido até dezembro de 2004, data em que se encerraria o compromisso inicialmente formalizado para a constituição do clube-empresa. Há quase 10 anos na presidência do Santo André, período no qual transformou uma tradição esportiva em respeitável endereço patrimonial e associativo, Jairo Livolis teria o mandato encerrado em julho do ano que vem. A possibilidade de ocorrerem ruídos nas relações entre o clube e a nova administração do futebol inquietava os torcedores/investidores.
O acordo entre o Santo André e a Santo André Licenciamentos prevê que os investidores vão adquirir os direitos federativos (é assim que se denomina o que antes da Lei Pelé se chamava passe) do elenco de jogadores que estão contratualmente vinculados ao clube. A negociação deverá girar em torno de R$ 1 milhão a R$ 1,5 milhão, conforme ficou acertado preliminarmente. Se os jogadores egressos do Santo André forem negociados pela Santo André Licenciamentos, a repartição da receita líquida será em partes iguais: 50% para cada lado.
Os reforços que serão contratados pela Santo André Licenciamentos e que eventualmente forem negociados com outros clubes representarão 75% dos valores líquidos para os investidores e 25% para o Santo André. Já os jogadores que forem revelados nas equipes amadoras do Santo André e que sejam negociados também terão receita líquida dividida igualmente.
O presidente Jairo Livolis, empresário do setor de confecções que há muito tempo acalentava o sonho de mudar o figurino estatutário do Santo André, antes mesmo de o São Caetano emergir para o estrelato, é um dos dirigentes mais confiantes na mudança. Ele explica que o Conselho Deliberativo tomou uma das medidas mais importantes da história do clube porque possibilita o gerenciamento mais qualificado e específico do Poliesportivo, de um lado, e a concentração de esforços igualmente especializados, de outro. O vice-presidente Klinger Sousa, que contribuiu muito para o acesso à Primeira Divisão, tornou-se um dos principais aliados de Jairo Livolis na mudança.
O advogado João Zanforlin está detalhando juridicamente o documento que reservará à Santo André Licenciamentos a tarefa de consolidar o futebol profissional da cidade. Dois terços dos 380 clubes profissionais paulistas que estavam registrados na Federação Paulista de Futebol na virada dos anos 80 já desapareceram do mercado. O Santo André mudou não só para não entrar no obituário esportivo como, principalmente, para dividir as atenções com o São Caetano.
Total de 985 matérias | Página 1
05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André