Esportes

Mais mais do mesmo

DANIEL LIMA - 04/07/2007

O Santo André vive previsíveis turbulências por conta da passagem do modelo tradicional sob o guarda-chuva associativista, do clube social, para o empresarial, de acionistas. Colabora para tanto a gangorra de resultados da equipe em campo, namorando com a zona de rebaixamento.

Quando falta o pão de resultados todo mundo tem razão.

O presidente Jairo Livolis utiliza uma frase que precisa ser levada em conta por quem quer direcionar abruptamente o Santo André a uma administração empresarial sem considerar o legado de 40 anos de história.

“Precisamos mais do mesmo” — disse-me ele ao telefone, ontem, a respeito dos ruídos entre a diretoria executiva do clube-empresarial, do qual é o presidente, e parte de acionistas que deliberou algumas decisões que incomodaram o dirigente, sobretudo porque alcançavam o futebol profissional.

Mais do mesmo no caso do Santo André pode parecer insanidade depois de o clube ser rebaixado nesta temporada à Série B do Campeonato Paulista e de estar ameaçado de cair para a Série C do Campeonato Brasileiro.

Entretanto, nem tudo que parece é de fato.

Mais do mesmo significa outra coisa. Significa que o Santo André mais vitorioso de todos os tempos, o time que subiu para a Série B do Campeonato Brasileiro, que ganhou a Copa do Brasil, que disputou a Libertadores da América, que conquistou a Copa São Paulo de Futebol Júnior, que ascendeu à Série A do Campeonato Paulista, esse Santo André é o que consta de fato do currículo de atuação tanto de Jairo Livolis quanto de Celso Luiz de Almeida, vice-presidente de futebol desse período e hoje presidente do clube associativo.

O Santo André de tantas conquistas só entrou em rota de colisão com o sucesso depois que deixou de ter o “mais” combinado com o “mesmo”. Ou seja: o mais do mesmo fez água.

E o que era afinal o mais do mesmo? Simples, muito simples: dinheiro, dinheiro e dinheiro.

Não muito dinheiro, é verdade, mas o suficiente para que, apesar de orçamento muito abaixo em relação a tantos outros concorrentes, o Santo André chegasse àqueles resultados. Quando a fonte desses recursos extraordinários secou, o mais do mesmo afundou. E milagre, como se sabe, não é obra dos humanos.

Fez tanto sucesso a dupla Jairo-Celso, com respectivos colaboradores, que não faltaram clubes de expressão que ingressaram no regime de futebol-empresa a sondá-los como executivos. As mais de três décadas lidando com escassez os tornaram especialistas em dimensionamento de receitas e despesas.

O que o leitor pergunta é provavelmente o seguinte: afinal, que fonte era essa, de onde vinham esses recursos?

A fonte chama-se Celso Daniel e Klinger Sousa, que, em combinação com fornecedores da Prefeitura, conseguiram sensibilizá-los a investir no futebol profissional de Santo André. Pretendia-se replicar por aqui o sucesso do vizinho Azulão, de São Caetano.

O projeto político era tornar Klinger Sousa prefeito de Santo André. Para tanto, virou vice-presidente do clube. Comparecia a todas as reuniões. Cantava o hino do Ramalhão melhor que conselheiros mais antigos. O futebol era um dos elos de uma corrente da qual emergiria o então secretário municipal e vereador à sucessão de Celso Daniel. Aliás, esse é um dos muitos pontos a me opor ao Ministério Público que correlacionou a morte de Celso Daniel a supostos desvios na Prefeitura e alçou Klinger Sousa entre os possíveis suspeitos do sequestro.

Nem Jairo Livolis nem Celso Luiz de Almeida podem ser catalogados, portanto, como estorvos ao Santo André empresarial. É verdade que reforçar a estrutura de recursos humanos executivos é medida salutar, até mesmo para que tanto um quanto outro possam ser mais produtivos, concentrados em suas respectivas e complementares especialidades. Entretanto, não se pode esquecer que, sem dinheiro para dar respostas à carência de infra-estrutura material, o mais do mesmo dificilmente se alterará.

O mais do mesmo destes tempos de vacas magras é imperioso, porque a concorrência está cada vez mais encardida. Se os recursos financeiros dos recentes tempos de glórias já seriam insuficientes num mercado inflacionado, o que esperar da dieta financeira? Exatamente que o modelo empresarial introduza novos investimentos e um modelo complementar de compartilhamento de decisões estratégicas, conceituais, sem arroubos de intervenções pontuais que podem esclerosar o relacionamento entre os acionistas.

No fundo, no fundo, o Santo André precisa de fato é de “mais mais do mesmo”.


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