Esportes

Falta pouco para o São Caetano
e São Bernardo luta por milagre

DANIEL LIMA - 28/09/2020

Os jogos de volta da fase semifinal da Série A-2 do Campeonato Paulista (amanhã entre São Bernardo e São Bento e na quarta-feira entre São Caetano e XV de Piracicaba) colocam o futebol da região entre uma luta por um milagre e uma classificação bem encaminhada rumo à Série A-1, integrada pelas grandes equipes do Estado. O São Bernardo perdeu de três a zero na semana passada em Sorocaba e depende de reação considerada improvável, mas não impossível. Já o São Caetano que empatou de zero a zero em Piracicaba tem tudo para comemorar presença na fase final e consequente acesso.  

O que colocou as duas equipes da região nas situações contrastantes em que se encontram foi uma combinação de excesso de erros de um lado e equilíbrio de outro. O São Bernardo praticamente se despediu do acesso por conta de erros individuais crassos em Sorocaba. E o São Caetano voltou com favoritismo porque não perdeu o controle do jogo e joga em casa.   

Entre os três vetores essenciais que decidem jogos de mata-mata (individualidade, força do conjunto e comando técnico), o São Bernardo conseguiu a proeza de exagerar em equívocos. O fator individualidade foi catastrófico em Sorocaba. O primeiro gol do São Bento foi contra, o segundo numa falha monumental do goleiro e, antes que o primeiro tempo terminasse, uma expulsão mais que justa deixou a equipe com 10 jogadores. O terceiro gol do São Bento no segundo tempo foi consequência natural de um desastre. Poderia ter sido pior se o time mandante fosse mais ambicioso.  

Arranjo arrumado  

Já o São Caetano do empate em Piracicaba extraiu o máximo possível de um arranjo sem oscilações entre individualidade, coletivismo e comando técnico. E o resultado se tornou heroico porque o São Caetano perdeu três dos quatro titulares da defesa no segundo tempo, por conta de problemas físicos, e, mesmo assim, sustentou o zero a zero sem que o goleiro Luiz Daniel se convertesse em destaque.  

Não se tem notícia de que na fase semifinal do acesso à Série A-1 do Campeonato Paulista alguma equipe derrotada por três gols de diferença jogando fora de casa se reabilitasse no jogo de volta. Esse é o desafio que o São Bernardo precisará superar. Ganhar de três gols de vantagem é o mínimo necessário para levar a decisão à cobrança de penalidades máximas.  

Não parece nada provável, mas não custa acreditar mesmo que com carregamento de descrédito maior. O São Bento não é um bicho papão sugerido pela elasticidade do placar do primeiro jogo. O time de Sorocaba foi totalmente refeito após a pandemia que paralisou o campeonato durante cinco meses. Dos titulares, apenas dois constavam da equipe antes que o vírus chinês desembarcasse no Brasil.  É, portanto, uma equipe em construção em plena disputa.  

Conjunto se salvou  

O São Bernardo sofreu a derrota acachapante porque individualidades fracassaram.  O conjunto não decepcionou a ponto de se justificar a diferença de gols. Por mais que o time dirigido por Marcelo Veiga seja excessivamente lento e previsível, a realidade é que conta com algumas jogadas mortais, sobretudo em bolas paradas. E criou pelo menos quatro oportunidades durante o jogo. Uma das quais logo no começo, quando Alan Dias cabeceou uma infração batida rente à linha lateral e deslocou a bola fora do alcance do goleiro, mas para fora.  

A perspectiva para o jogo desta terça-feira no Estádio Primeiro de Maio é de pressão intensa. O São Bernardo está sem opção senão ir ao ataque. Não existe fórmula esquadrinhada para quem está na situação de desvantagem do São Bernardo, mas os manuais do futebol indicam que quanto mais cedo marcar o primeiro gol de vantagem, menos entrará em pânico no restante da partida. Tudo isso é tão sólido quanto maleável.  

Equilíbrio mais ousado 

Já o São Caetano precisará sustentar o controle tático que impôs em Piracicaba mesmo quando perdeu três titulares da defesa. O time de Alexandre Gallo foi cuidadoso durante todo o tempo. Não deixou o ambiente naturalmente de mandante a favor do XV de Piracicaba ganhar corpo. Tanto que em nenhum período que alcançasse 10 minutos seguidos o São Caetano foi pressionado para valer pelo adversário.  

Para quem conta com dois volantes que atuam de forma vertical no apoio ao ataque, um lateral-direito que finaliza como poucos as cobranças de falta e de escanteio, e um meia de armação que atua com inteligência especial na construção de jogadas e ainda chuta com precisão, o São Caetano está sempre próximo do gol adversário. Mesmo sem contar com um centroavante na melhor forma física. 

Provavelmente o técnico Alexandre Gallo repetirá o que se converteu num brilho tático em Piracicaba, quando escalou o jovem Dudu na lateral-esquerda e deu maior densidade ao meio de campo com Di Maria como falso ponteiro. O lado esquerdo do São Caetano ganhou mais robustez defensiva para conter o apoio sistemático do lateral-direito do XV de Piracicaba e como isso praticamente anulou uma das principais jogadas do adversário. 

Questão de juízo?  

Quem tem juízo sabe que é pouco provável um clássico entre São Caetano e São Bernardo na decisão da Série A-2 desta temporada e, portanto, disputem a Série A-1 do ano que vem juntamente com o Santo André como representantes do Grande ABC. Esse triunvirato na Primeira Divisão do futebol paulista seria repetido pela segunda vez neste século.  

Apesar das dificuldades, não custa lembrar que futebol não é um jogo em que o resultado final de cada partida é uma ciência exata de acordo com a vontade do torcedor mais otimista. O São Bernardo está mesmo quase fora da Série A-1, enquanto o São Caetano encaminhou um jogo de volta sob medida para quem conhece o campo bem melhor que o adversário e pode fazer do ambiente, mesmo sem torcida, fator de definição.  

Resta saber, mais uma vez, qual vértice da equação que define vencedores e perdedores pesará mais durante os dois jogos. É pouco provável que o São Bernardo repita o desastre de individualidades do primeiro jogo e que o São Caetano reproduza um equilíbrio cautelar ajustado ao interesse circunstancial do primeiro jogo.  

Elevar o patamar de eficiência e contar com alguma expressão individual acima da média podem virar a porta da felicidade do São Caetano retornar à principal divisão paulista, depois do rebaixamento arbitrário do ano passado. 



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