Esportes

São Caetano retoma vaga que
perdeu nos bastidores em 2019

DANIEL LIMA - 01/10/2020

O São Caetano está de volta à Série A-1 do Campeonato Paulista um ano depois de ser barrado do baile da competição por conta de interpretação equivocada, quando não esperta demais, do regulamento. E toma justamente o lugar da equipe beneficiada pelo erro de interpretação do Departamento Técnico da Federação Paulista de Futebol, no caso o Água Santa de Diadema, rebaixado nesta temporada juntamente com o Oeste de Barueri. Quem retorna também à Série A-1 é o São Bento de Sorocaba, rebaixado sem queixas justas na temporada passada.  

O São Bernardo vai ter de esperar mais uma temporada. Tanto quanto o XV de Piracicaba que, pela terceira vez seguida, desmorona na fase semifinal. Os cinco títulos da Série A-2 ao longo da história não são suficientes para o time do Interior encarar as semifinais como passo imediato rumo ao céu. A cada nova frustração, o pesadelo de nadar e morrer na praia torna-se aguda inquietação.  

Siameses em campo 

Os jogos de volta da fase semifinal confirmaram a tendência natural consequente dos resultados dos jogos de ida. Em fase de mata-mata, o primeiro jogo tem sempre envolvimento estreito com o segundo. É impossível separá-los como se fossem independentes. Cada um com narrativa própria. São irmãos-siameses.  

Mas, mesmo assim, e contraditoriamente, na maioria dos casos o primeiro jogo não desperta tanta determinação das equipes. O ambiente fica sempre mais efervescente na volta.  

O São Caetano subiu ao vencer o XV de Piracicaba ontem no Estádio Anacleto Campanella por dois a um de virada porque voltou do Interior com a vantagem subjetiva de decidir em casa sem ter de correr atrás do prejuízo e contando com maior intimidade com as dimensões e as condições do gramado.  

A falta de torcida por conta do vírus chinês pode ter até ajudado a equipe do técnico Alexandre Gallo. Afinal, depois do primeiro tempo arrasadoramente sofrível, não seria surpreendente se os jogadores perdessem o equilíbrio emocional diante de torcedores mais raivosos. A torcida do São Caetano é mais impaciente que a regra geral. O passado de glórias cobra um presente mais iluminado.   

Um time encaixotado  

O ambiente do jogo de volta encaixotou o São Bernardo na outra semifinal. O time da região foi eliminado pelo São Bento de Sorocaba mesmo ganhando por dois a zero num jogo que começou na terça-feira e terminou no dia seguinte. O revés de três a zero no Interior colocou o São Bernardo em desespero. O placar foi elástico demais para ser encarado com normalidade e factível de reversão sem que o estado psicológico dos jogadores fosse alterado. 

O São Bernardo perdeu a classificação à final e o consequente acesso porque desequilibrou-se no vetor individualidade no jogo de ida. Dois erros crassos seguidos de um novo erro, de expulsão de um jogador ainda no primeiro tempo, foram decisivos. Aqueles três a zero significaram um adeus antecipado.  

O pós-jogo em Piracicaba foi tormentoso ao São Bernardo durante a semana de preparação à revanche. O goleiro Moisés Júnior, que falhou grotescamente no segundo gol do XV, foi praticamente banido do grupo. Nem no banco de reservas ficou.  

Decisão em dois dias  

Nada, entretanto, do que aconteceu no segundo confronto que não tenha feito do São Bernardo um time de valentes. No tempo regulamentar incompleto de terça-feira o time de Marcelo Veiga fez um a zero. Aos 29 minutos do segundo tempo o árbitro deu o jogo por suspenso depois de esperar uma hora pela dissipação da densa neblina que tomou conta do Grande ABC. O Estádio Primeiro de Maio lembrava tudo, menos um campo de futebol. Não se enxergava mais que alguns metros à frente do nariz. A bola tornou-se, portanto, invisível. E sem bola não tem jogo. 

O jogo recomeçou às 15h de ontem. Foram 22 minutos de desespero, contando-se, claro, o período de descontos. O São Bernardo fez mais um gol, mas faltou o terceiro para levar o jogo às penalidades máximas.  

Curto-circuito  

Se a neblina atrapalhou a vida dos jogadores em São Bernardo na tarde de terça-feira, no dia seguinte no Estádio Anacleto Campanella o São Caetano foi impactado durante o primeiro tempo por curto-circuito técnico-tático.  

O XV de Piracicaba dominou de tal forma os 30 minutos iniciais que poderia ter feito muito mais que um gol apenas. E, para contemplar as preces do São Caetano, o lateral Alex Reinaldo errou um cruzamento da linha lateral de ataque e a bola encaixou-se como peça sob medida no ângulo superior oposto do goleiro adversário. O empate caiu do céu. O próprio jogador confessou no intervalo que o empate era obra do acaso. Atribuiu ao vento forte o desenho errático da trajetória da bola.  

O São Caetano do segundo tempo foi uma equipe totalmente diferente, com mais mobilidade, empenho na marcação, infiltrações e tudo que se recomenda a quem quer chegar ao gol adversário. E depois de perder duas oportunidades gêmeas, de penetração no vazio pelo meio, o São Caetano finalmente chegou à vitória numa penetração também pelo meio de Anderson Rosa, que finalizou ante a saída do goleiro. Anderson Rosa perdera uma oportunidade semelhante pouco antes.  

Chave de ignição  

Diferentemente do deslize individual que levou o São Bernardo à frustração no jogo com o São Bento, o São Caetano não cometeu falhas significativas tanto isoladas como no conjunto. E ainda teve como importante razão de sucesso a frieza e o conhecimento do técnico Alexandre Gallo. Esse ex-volante que brilhou em várias equipes grandes soube fazer o básico para sustentar uma equipe estável numa disputa diferente como é qualquer mata-mata.  

Poucos poderiam imaginar que após o primeiro tempo sofrível como conjunto, mas sem gravidades individuais, o São Caetano voltaria tão transformado na etapa final do jogo de ontem.   

A chave de ignição da mudança parece tem nome de artista de cinema: Marlon. Produzido na base do São Caetano, o atacante substituiu um pesadíssimo, lento e isolado Joel e eletrizou a equipe com a busca permanente de espaços vazios. E atormentou tanto os pesados zagueiros do XV que uma comparação com baratas tontas seria justa.  

Com Marlon em cena, o armador Anderson Rosa também virou do avesso a mediocridade do primeiro tempo. Os dois, mais livres de marcação, dinamitaram o sistema defensivo do XV. O São Caetano mais compacto entre os setores virou o jogo e fez a festa com sabor dublo. Retomar dentro de campo a vaga perdida nos bastidores é um capítulo e tanto de sucesso.  



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