Só há uma possibilidade pior do que se viu na prática e em cores na noite de sábado no Estádio Anacleto Campanella, quando o São Caetano foi goleado por nove a zero pelo Pelotas, em jogo da Série D do Campeonato Brasileiro. O que se pergunta é quantos novos vexames a equipe mais vitoriosa do futebol paulista na primeira década deste século precisará passar para que entre em rota de reorganização ou de dissolução? Teria a “namoradinha do Brasil” se transformado em “Geni do futebol brasileiro”?
Não é nada pessimista essa perspectiva. Uma catástrofe é mesmo a possibilidade que se descortina no sentido de que da teoria à prática bastam alguns passos de novas inapetências e desvarios. Basta levar em conta que o São Caetano está praticamente acéfalo.
Nairo Ferreira, maior responsável pela situação do clube, é o presidente que finge ser presidente, mas é odiado pelos jogadores, pela comissão técnica e por funcionários. Ele cavoucou o buraco em que se meteu a agremiação. Salários atrasados, premiações atrasadas, despejos de moradias alugadas, tudo isso forma um caldo de cultura de aniquilamento do tecido institucional.
Sem qualquer apoio
O São Caetano não desperta apoio de nenhuma organização da cidade. A Prefeitura dos tempos de Luiz Tortorello que tanto se mobilizou nos tempos de fartura, quer distância agora que a vaca é magra. Magra e maltratada.
O apoio socorrista do empresário Saul Klein com um grupo de patrocinadores estaria se extinguindo. Uma das prerrogativas para seguir em frente seria a retirada de Nairo Ferreira com respectiva responsabilização pela montanha de dívidas.
O São Caetano vive do sonho de Nairo Ferreira e do empresário de futebol Ângelo Canuto de que uma missão chinesa estaria estacionando no Estádio Anacleto Campanella para arrebatar o clube-empresa.
A dívida de mais de R$ 40 milhões construída por Nairo Ferreira não seria obstáculo. Cultua-se o múltiplo poderio econômico dos chineses, que vai de vacinas contra o próprio vírus chinês à compra de times de futebol.
Chineses chegando?
A grande questão é até que ponto é possível cobrir de veracidade a chegada de chineses. Não falta quem atribua a delírios de Nairo Ferreira a perspectiva de que o São Caetano Futebol Limitada encontrará ancoradouro tão supostamente poderoso vindo da Ásia. Um ancoradouro que potencialmente recolocaria em cinco anos o São Caetano entre os 40 maiores times do futebol brasileiro. Seria esse o projeto para levar a equipe à Série B do Campeonato Brasileiro.
É melhor não acreditar nessa versão. O passado recente condena Nairo Ferreira. Desde que se afastou do clube, para voltar agora em outubro, três parcerias muito estranhas foram anunciadas e levadas a cabo pelo São Caetano. Gente de fora e de dentro do futebol. Gente sem lastro.
É claro que tudo isso está na estrutura do caos representada na prática pelo resultado de nove a zero contra o Pelotas. O São Caetano mandou a campo um bando de juvenis despreparados para um encontro com profissionais experientes que vieram do Rio Grande do Sul. Foi um massacre.
O que se pergunta é como serão os próximos jogos do São Caetano na fase classificatória da competição. Já neste meio de semana disputa um jogo atrasado com o Novorizontino, integrante da Série A-1 do Campeonato Paulista e líder do grupo na Série D do Brasileiro.
São Caetano “A”, “B” e “C”
Torce-se primeiro para o time de meninos encontrar respaldo financeiro para a viagem. E, em seguida, torce-se para que a extravagância no placar de sábado não seja realidade. Foi a maior derrota da história do São Caetano. E a maior da Série D do Campeonato Brasileiro em todos os tempos. A marca vice-campeã da Libertadores da América ganhou uma mancha demarcadora do passado e do presente. Resta saber o que vem aí em forma de futuro.
O que é preciso distinguir entre o São Caetano da goleada de nove a zero e o São Caetano que acabou de ganhar o título da Série A-2 do Campeonato Paulista, garantindo uma vaga entre os maiorais do Estado, é que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.
Quem disputava o Brasileiro até outro dia era uma versão “B” do São Caetano. O time campeão, “A”, ficou concentrado na competição estadual. Agora, nos nove a zero e nos próximos jogos, o time “B” tem poucos representantes no time “C”, dos jovens imaturos e mal-arrumados taticamente.
Federação monitora
Parece não haver dúvida de que o São Caetano cumprirá o regulamento da Série D do Brasileiro e vai a campo nos jogos que restam com o sentimento de quem carrega uma enorme cruz. Qualquer outra saída, sobremodo um acúmulo de WOs, seria catastrófico. O São Caetano poderia, com isso, não só ser eliminado da competição nacional como, por extensão, ser barrado do baile do próximo Campeonato Paulista.
Dirigentes da Federação Paulista de Futebol estão monitorando o dia a dia do São Caetano com informações privilegiadas junto a várias facções diretivas do clube. O recado teria sido dado pelo presidente Reinaldo Bastos antes do jogo com o Pelotas: qualquer iniciativa que não seja entrar em campo e jogar comprometeria não só a história do clube, como também a imagem da Federação Paulista de Futebol.
O São Caetano é lanterninha do Grupo 8 do Brasileiro da Série D com apenas cinco pontos ganhos em oito jogos. O saldo negativo de 15 gols expressa o desastre de sábado passado. Ainda faltam seis jogos a ser disputados pela equipe. Qualquer tentativa de medir quanto será o rombo classificatório e no saldo de gols ao final da competição não será um exercício saudável. O São Caetano do vexame de sábado quer evitar novos tropeços alarmantes. Enquanto isso o presidente Nairo Ferreira sonha com chineses e procura atribuir a terceiros o que ele e o então vice-presidente, Genivaldo Leal, ergueram em forma de descalabro diretivo.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André