Não consigo enxergar alguém que tenha sido mais importante do que o empresário Jairo Livolis na história do Esporte Clube Santo André. Talvez Breno Gonçalves se aproxime. Por isso, a renúncia que ofereceu durante a assembléia geral dos acionistas do clube-empresa que representa a cidade no futebol profissional não pode deixar de ser contextualizada. Inclusive para evitar interpretações que coloquem o ex-dirigente num santuário ou num serpentário.
Jairo Livolis garante que provocou a situação. Teria se imolado para tentar salvar a equipe do rebaixamento. Ao invadir os vestiários do Estádio Bruno Daniel após o empate com o Barueri e ao ofender aos brados todos os jogadores e membros da comissão técnica, exceto o zagueiro Dedimar, Jairo Livolis afirma que sabia o que viria. Teria de se afastar porque o ambiente ficaria pesado, mas criaria situação psicológica de unir jogadores e comissão técnica em torno de uma resposta a ele, Jairo Livolis, dentro de campo.
Em outros tempos, a tática de gritar com o elenco deu certo porque os jogadores se encheram de brios, técnicos foram demitidos e a equipe reagiu nas competições. Entretanto, a formulação nas atuais circunstâncias jamais se estabeleceria. O futebol do Santo André estava dividido entre ele, Jairo Livolis, presidente do clube-empresa, e o empresário Ronan Maria Pinto, dono do Diário do Grande ABC e presidente do Conselho Consultivo dos acionistas.
Jairo e Ronan tão antípodas. O que falta de flexibilidade a um sobra ao outro. Ronan conquistou os jogadores e a comissão técnica com algo que pode ser chamado de assistencialismo. Jairo Livolis sempre se manteve à distância da maioria do grupo. Não é de distribuir sorrisos nem se entrega a abraços como Ronan Maria Pinto. Tampouco se presta a socorrer jogadores em dificuldades pessoais.
Imaginem os leitores uma família recheada de filhos e um choque de tratamento de um pai generoso e uma mãe durona. Jairo Livolis era a mãe excessivamente rigorosa e Ronan Maria Pinto o pai extensamente carinhoso.
Não se coloca em discussão juízo de valor sobre o certo e o errado. Havia fundamentalmente uma divisão de tratamento que os resultados em campo agravaram. Por isso, quando Jairo Livolis entrou como furacão nos vestiários e fez o que fez, seu destino estava traçado. O grupo de jogadores e a comissão técnica ficaram instintivamente com o sempre solícito Ronan Maria Pinto.
Como bem se expressou no encontro de acionistas, Jairo Livolis queimou todas as caravelas naquela investida nos vestiários. Diferentemente, portanto, dos tempos em que o comando era único, sabia que sobraria. Por isso o fez com estardalhaço. A versão de que tentara de fato um golpe branco, de retomar o controle da equipe e com isso provocar a saída de Ronan Maria Pinto, não ganha credibilidade. Havia evidente distinção relacional entre os dois dirigentes exatamente por conta do estilo de trabalho. Jairo Livolis dispunha de informações suficientes para reconhecer que o enfrentamento lhe seria prejudicial.
Agora a batata quente do Santo André na Série B do Campeonato Brasileiro está concentradamente com os jogadores, com a comissão técnica e também com Ronan Maria Pinto. As respostas precisam ser dadas em 12 rodadas. O Santo André está ameaçadíssimo de rebaixamento, com apenas 37% de Índice de Aproveitamento de pontos. Precisa, nas rodadas que restam, obter a média de 50%. Desta forma, chegaria à média final um pouco acima de 40%.
O modelo de clube empresarial passa, portanto, por essa ponte de resultados.
Jairo Livolis deixou o Santo André num momento delicado, aparentemente inadequado para quem não acompanha os bastidores da equipe, mas, sem dúvida, providencial como última possibilidade de fuga do rebaixamento.
Jogadores e comissão técnica sabem que o protetor Ronan Maria Pinto pode ser a próxima vítima de um 2007 que provavelmente será excluído da trajetória da equipe rebaixada à Série A-2 do Campeonato Paulista quando Jairo Livolis comandava sozinho o futebol.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André