Esportes

Quem você prefere: homens
ou mulheres. Veja lá, hein!

DANIEL LIMA - 16/11/2021

Nada que insinue homofobia ou qualquer coisa do gênero. Aviso de bate-pronto antes que seja caçado por intolerantes de gênero. Estou me referindo à prática do futebol dentro e fora de campo, mas sempre no sentido do espetáculo mais prestigiado no esporte brasileiro. No meu caso, prefiro homens e mulheres. Depende de cada situação.  

Você prefere homens ou mulheres? No meu caso, para ser reto e de direto, sou adepto de uma suruba qualitativa.  

O que é suruba qualitativa? Vou responder já: suruba qualitativa significa não ter preconceitos, discriminação ou coisa que o valha. E também não ter medo, autocensurar-se para ficar em paz com a plateia. Nada disso.  

Suruba qualitativa é assistir à final da Copa Paulista vencida domingo pelo São Bernardo no Estádio Primeiro de Maio contra o Botafogo de Ribeirão Preto, nas penalidades máximas, e preferir o primeiro jogo da final do Campeonato Paulista Feminino, vencido pelo Corinthians diante do Palmeiras, quando o futebol foi muito melhor em todos os sentidos.  

Mais bola das meninas  

Não pretendia escrever esse texto com a comparação que acabo de formular, mas é indissociável à condição jornalística expor o que se pensa e o que se observa sem temores. Não me vejam como assediador esportivo.  

Por isso vou repetir: as meninas do Corinthians e do Palmeiras fizeram na final do Campeonato Paulista um espetáculo muitas vezes, muitas vezes, superior ao que o São Bernardo e o Botafogo de Ribeirão Preto apresentaram na decisão da Copa Paulista. 

Para ser franco, a comparação é um acinte. Isso mesmo: os marmanjos dos dois times não podem sequer ser confrontados com as moças que foram a campo. Elas foram muito melhores em todos os aspectos: individual e coletivamente.  

Diferenças ponderadas  

As meninas não têm os mesmos músculos, as mesmas virtudes fisiológicas, o mesmo arranque e mais algumas especificidades biológicas que separam homens e mulheres na prática do futebol, mas as meninas tiveram muito mais talento individual e organização conjunta. Fizeram dois grandes jogos das finais (principalmente o primeiro, mais equilibrado).  

Se não bastasse o fosso técnico-operacional favorável às meninas palmeirenses e corintianas, ainda tivemos molduras de espetáculos totalmente distintas. A transmissão da final da Copa Paulista pela TV Jovem Pan sofreu avaria, porque o Estádio Primeiro de Maio não está apetrechado tecnologicamente a transmissões. Além disso, o gramado é uma espécie de pasto ressecado. E o vazio do estádio (a torcida se concentrou praticamente fora do ângulo das câmeras) sugeria que havia drásticas restrições pandêmicas a obedecer.  

Já os dois jogos das finalistas paulistas tiveram tratamento televiso especial, com câmeras bem-posicionadas, e transmissões mais compatíveis com o espetáculo. Um show de imagens que agregam valor ao espetáculo, tornando-o mais detalhadamente rico.  

Mas o que fez mesmo a diferença e a preferência pelas mulheres foi o conjunto da obra. E principalmente os fundamentos técnicos e táticos empregados.  

Talento e burocracia  

Corinthians e Palmeiras fizeram dois jogos (sempre realçando o primeiro) em que prevaleceram metodologias táticas bem definidas e empregadas. As duas equipes se dividiram em virtudes individuais e coletivas. Bem diferente de São Bernardo versus Botafogo, de uma burocracia exasperante: o Botafogo sempre atrás para explorar a vantagens de dois gols consolidados no primeiro jogo, em casa, e o São Bernardo sempre atacando. Até mesmo depois de desfazer a desvantagem. Um perde e ganha dos diabos. Passes errados em profusão. Lançamentos em profundidade a dar com pau. O segundo gol do São Bernardo saiu de uma jogada assim.  

Como de vez em quando dou uma pescada em jogo de séries de acesso do Campeonato Brasileiro, especialmente a Série D, a conclusão a que chego é simples: os jogos das principais equipes femininas do País são muito mais agradáveis como programação televisiva.  

Indigência e dominância  

Há uma quase indigente prática de futebol por homens em competições menos estelares. Os times são geralmente muito mal organizados, repetitivos em ações táticas, incrivelmente miseráveis na qualificação técnica e renitentemente pouco combativos. Pratica-se um futebol quase marginal. É preciso gostar muito de futebol para acreditar que o que se vê em determinadas situações é mesmo futebol.   

É lógico que o melhor do futebol brasileiro entre os homens, que se observa nas séries B e A do Campeonato Brasileiro, é destacadamente superior às melhores partidas das mulheres futebolistas. Até porque há uma camada cultural que beneficia os homens, formada pela memória de jogos com maior intensidade e aplicação.  

Perto desses espetáculos, as mulheres boas de bola e de organização tática parecem de outro planeta, porque cada vez mais a mobilidade espacial combinada com a força física e o intenso adestramento técnico colocam os homens mais próximos de um estágio superlativo da prática futebolística.  

Querer que as mulheres cheguem ao estágio de alta competição dos homens é exagerar. E acreditar que tenham atingido esse estágio também é uma aberração do politicamente correto. 

Analistas competentes 

Se dentro de campo há essas nuances que não podem ser esquecidas e desprezadas, ou seja, que nem tudo que reluz no mundo do futebol masculino é superior ao futebol feminino, fora de campo, entre ainda algumas analistas e alguns analistas, o melhor é prestar atenção redobrada.  

Há profissionais femininas que entendem muito mais do riscado da bola do que a maioria dos homens, ainda presos a uma linha de raciocínio dos tempos voluntaristas. 

O que significa tempos voluntaristas? Tempos de improviso, de proselitismo, de sensacionalismo a cada jogada e a cada espaço a comentários.  

A racionalidade imposta ao desafio de traduzir em forma de observações sustentáveis as razões dos resultados em campo ainda é exceção entre os comentaristas de futebol na mídia nacional. Contrariamente, portanto, ao padrão internacional. Aqui vale mais o oba-oba do que o esclarecedor.  

Tudo tem explicação  

Costumo dizer que todo jogo tem uma história tática e técnica a ser contada. Não há resultado que não seja explicável. Não há goleada que possa ser colocada num compartimento lotérico. Por mais que o imponderável apareça num jogo de futebol, a realidade sempre se impõe como regra geral.  

Vejo futebol menos como paixão e mais como profissão, mesmo que não escreva constantemente sobre o assunto. Futebol é minha origem profissional. Tenho quase quatro dezenas de indicadores que construí para avaliar detalhadamente cada equipe, cada jogo. São espécies de “algoritmos” que preparei para mim mesmo, sem uso de tecnologia, portanto. E não há disponível ainda tecnologia que possa reproduzir o que organizei.  A Inteligência Artificial deverá chegar lá. Mas ainda não chegou.   

Algoritmos próprios  

Para os leitores terem uma ideia sobre meus “algoritmos”, que são, portanto, mais bem apurados e sensíveis quando comparados aos algoritmos sem aspas, apenas uma equipe de futebol nos últimos 20 anos se aproximou da perfeição em forma de preenchimento da quase totalidade dos quesitos listados. É claro que me refiro ao Barcelona de Xavi, Messi e companhia.  

O Flamengo de Jorge Jesus também flertou com a maioria dos indicadores. O maior campeão brasileiro de todos os tempos era uma máquina moedora de adversários no âmbito sul-americano. Nada comparável, claro, ao Barcelona internacional. Colocar as duas equipes frente a frente seria uma estupidez se o referencial fosse medir pormenorizadamente qualidades e deficiências. Cada uma no respectivo quadrado, entretanto, era exemplar a ser perseguido.   

Conclusão final? Estou com as mulheres e com os homens, dependendo das circunstâncias e dos contextos futebolísticos. Quem imaginou outra coisa que procura um psicanalista. Está com sexo demais na cabeça. Ou sexo jamais seria demais na cabeça? 



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