Provavelmente será a última competição estadual que o Santo André disputará em forma de clube associativo. Depois de encerrada a Série A do Campeonato Paulista, em abril do ano que vem, deverá ser confirmado o novo formato do Esporte Clube Santo André, que passará a ser denominado Santo André Sociedade Anônima. A decisão está se encaminhando para isso, mas o processo requer alguns meses até ser ratificado.
O Santo André Sociedade Anônima será uma agremiação empresarial que vai atuar oficialmente à parte do clube que se desdobra no Parque Poliesportivo Jairo Livolis, no Bairro Jaçatuba.
Alguns passos importantes já foram dados em direção à nova identidade jurídica e organizacional do Santo André. O Conselho Deliberativo que se reunirá em dezembro ouvirá do presidente Sidnei Riqueto que a definição do futuro da agremiação já está sendo digerida por consultorias especializadas.
Concessão priorizada
Outra significativa decisão já está tomada nos bastidores da Prefeitura de Santo André. O prefeito Paulinho Serra encaminhou solicitação interna para que se analise detidamente modelos de concessão privada em vários municípios até chegar ao mais apropriado ao Estádio Bruno Daniel. O secretário de Assuntos Estratégicos José Police Neto cuida pessoalmente da iniciativa do prefeito. E antecipa que espera atender às demandas dos esperados investidores que assumiriam a responsabilidade de comandar o futebol do Santo André. Police é um dos entusiastas da iniciativa.
Há convergência da Administração Municipal em todas as instâncias de poder. O Bruno Daniel será legalmente preparado como estímulo à transformação do Santo André em clube-empresa.
O processo de mudança de modelo jurídico que contemplará a nova legislação aprovada pelo Congresso Nacional culminou na SAF (Sociedade Anônima de Futebol). Há série de atrativos fiscais que estimulariam investidores a observar o futebol como negócio rendável para quem for competente. Os incompetentes jogam fora todas as alternativas possíveis de superar obstáculos.
Exigência maior
A redução da carga tributária é um dos pontos marcantes da nova legislação, mas não terá poderes mágicos. No futebol europeu de alto nível as agremiações dirigidas por investidores dominam as competições dentro de campo, mas os resultados financeiros nem sempre são os melhores.
Ser competente no futebol profissional como clube associativo é um desafio e tanto, mas no futebol tratado como negócio será exigência ainda maior.
A diferença é que haverá uma mudança de cultura importante. O Santo André associativo chegou ao limite de competitividade num mundo em que cada vez mais há concentração de agremiações de orçamentos milionários.
Sem maiores recursos, o Santo André é dirigido com cuidado extremo para não se tornar uma montanha de dívida. A falta de empuxo necessário para dar saltos constantes na hierarquia do futebol brasileiro parece decisiva à aprovação do clube-empresa. Há pressões de torcedores e associados latentes. O Santo André do presente não é o Santo André do futuro com que se sonha. A importância relativa da agremiação perde viço no âmbito estadual e nacional.
Circuito nacional
O Santo André está fora do circuito nacional há muitos anos. Nesta temporada participou com orçamento modesto tanto da Série A do Paulista quanto da Série D do Campeonato Brasileiro. A competição nacional é mais desclassificatória do que classificatória. Apenas os quatro primeiros colocados sobem para a Série C, enquanto os demais voltam a disputar vaga na temporada seguinte na Série A do Campeonato Paulista. Ou seja: é subir ou ser rebaixado.
A maior preocupação de dirigentes do Santo André é conciliar dois pesos ponderáveis: dar agilidade aos procedimentos que se concluirão com esperada chegada de um grupo investidor ligado ao futebol e fugir da demanda que parece exacerbada por investimentos, o que torna a competição por interessados mais acirrada.
Ou seja: a tendência é de que os valores envolvidos serão cada vez menos robustos. No caso do Santo André, mais que qualquer situação o que deve prevalecer é a busca por um parceiro que ofereça segurança nos compromissos assumidos e longevidade de atuação dentro de campo.
Sonho dourado
Um Bragantino Red Bull é o sonho dourado de todos os clubes do tamanho do Santo André, mas se sabe de antemão que é sonhar demais. O efeito-Bragantino, maior sucesso nacional de clube-empresa, deverá pautar as negociações. Mas a realidade deve ser considerada. Bragança Paulista ganhou um bilhete premiado.
De qualquer forma, a expectativa dos dirigentes do Santo André é que o peso geral da história do clube, do clube de campo destinado à preparação das equipes de base, da torcida sempre presente e de um Município que está entre os maiores do País, além de constar de uma região com quase três milhões de habitantes, será importantíssimo nas negociações.
Além disso, a proximidade com a Capital também teria repercussão como ingrediente positivo. Especialmente se os investidores estiverem baseados na maior metrópole do País. Preve-se que novas tecnologias e novos formatos de transmissão de jogos poderão agregar valor à marca na medida em que potencializaria o crescimento do número de torcedores comprometidos com o futuro do clube. O Santo André tem um mercado de potenciais três milhões de habitantes como plataforma inicial de marketing. Os mais de 700 mil andreenses são público natural.
Passionalidade contida
Sabe-se que a saúde econômica do Santo André é razoavelmente satisfatória num ambiente nacional no qual prevalece perfil de dívidas muitas vezes incalculáveis de agremiações que sucumbiram à passionalidade geneticamente desorganizadora de finanças.
O Santo André teria um balanço financeiro controlado e financiado sem grandes atropelos. Não é necessariamente um clube sem dores de cabeça, mas segue uma rotina anual de contenção de gastos. Na disputa do Campeonato Paulista e também da Série D do Brasileiro desta temporada não faltaram comedimento e equilíbrio. Não é pouca coisa diante de pressões por resultados em campo.
O Santo André é seguramente uma das equipes médias do futebol brasileiro que mais soma pontos na comparação com gastos. É uma produtividade muito acima do considerado usual. Um dos segredos é que a direção do clube se antecipa na formação da equipe a cada temporada, com a definição do treinador que comandará o grupo e a efetivação de contratações antes mesmo que o calendário da temporada se encerre.
Cuidados estratégicos
O presidente do Conselho Deliberativo do Santo André, Celso Luiz de Almeida, também ex-presidente do clube, é discretíssimo quando se trata de explicar os motivos que tornam o Santo André participante de respeito na Série A do Paulista. Para ele, não existe segredo no futebol para quem não dispõe de dinheiro farto. Basta observar os modelos que dão certo entre os clubes de menor porte e adaptá-los de acordo com o orçamento financeiro disponível. E, sobretudo, não se deixar levar pela paixão.
Contratar bem é o primeiro e maior passo em direção ao princípio básico dos clubes de menor porte, ou seja, fugir do rebaixamento na Série A do Paulista. Por isso a atenção preparatória não pode sofrer desvios.
Calendário nacional
A expectativa é que futuros comandantes do Santo André Sociedade Anônima tenham apetite e estrutura de sobra para recolocar a agremiação no calendário nacional. Ao longo deste século, apenas em 2009, com o empresário Ronan Maria Pinto na presidência da Saged, em experiência de clube-empresa que durou cinco anos, o Santo André disputou uma temporada de Série A do Brasileiro, depois de ficar apenas atrás do rebaixado Corinthians na Série B de 2008.
O título da Copa do Brasil contra o Flamengo em pleno Maracanã em 2004 é a maior façanha. A expectativa é de que títulos semelhantes serão raros, mas com investidores responsavelmente ousados e articulados no ecossistema do futebol, não seria exagero imaginar participação mais frequente e sistemática na Série B do Brasileiro, espaço considerado autossustentável para quem tem juízo administrativo.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André