Esportes

Ramalhão melhor

DANIEL LIMA - 07/05/2008

O Santo André que acaba de subir para a Série A do Campeonato Paulista sob o comando de Ronan Maria Pinto é melhor que o Santo André que o presidente Jairo Livolis deixou em meados do ano passado.

Mas o Santo André que todos queremos está a sete léguas do ideal.

A prova disso, mais que qualquer outra, é tecnicamente irrefutável: mesmo num jogo decisivo como o de sábado no Estádio Bruno Daniel, o público foi sofrivelmente pequeno.

Só para traçar um paralelo entre o Santo André que ascendeu à Série A em 2001 e o Santo André de sábado: foram mais de 17 mil pagantes naquela oportunidade, contra menos de quatro mil agora.

Nada surpreendente, porque ao longo desta temporada, e apesar de todos os esforços para chamar o público ao Bruno Daniel, o que tivemos foram médias muito abaixo do esperado e um pouco acima da temporada passada.

Quem enxergar o Santo André apenas pelas lentes de aumento da glória recente está desprezando a possibilidade de o clube contribuir magnificamente com a cidadania municipal e regional.

O Santo André de Ronan Maria Pinto é estruturalmente melhor que o Santo André de Jairo Livolis porque Ronan Maria Pinto tem mais poder de fogo para liderar o clube do que Jairo Livolis. Não só mais poder de fogo como também muito mais sociabilidade pessoal.

Ronan Maria Pinto é um especialista em conquistar corações e mentes porque é um empresário acostumado a oferecer-se elegantemente ao diálogo. Poucos têm o carisma de Ronan Maria Pinto.

Jairo Livolis é introvertido, de relações pessoais muito seletivas (sem juízo de valor nesse conceito) e de temperamento explosivo.

Ronan Maria Pinto é marcante na capacidade de conseguir o que pretende e, por mais que pareça derrotado, sabe reagir.

Haja vista que é o único dos acusados pelo Ministério Público de Santo André no caso Celso Daniel que de fato deu a volta por cima publicamente. Ele comeu o pão que o diabo amassou em matéria de imagem pública, ainda sofre muitas restrições por isso, mas o peso do Diário do Grande ABC neutraliza preconceitos da elite conservadora de Santo André que sempre o viu como um estranho no ninho, um invasor de cidadelas aparentemente inexpugnáveis ocupadas por muita gente que chegou primeiro e tomou conta do barraco.

A subida do Santo André é um troféu que Ronan Maria Pinto vai merecidamente propagar porque é uma espécie de redenção pessoal. Até mesmo para apagar a má impressão que tem deixado aos leitores do Diário do Grande ABC, por conta do definhamento da qualidade daquele produto.

É claro que a maioria dos leitores do Diário do Grande ABC não está nem aí com a realidade de que Ronan Maria Pinto pegou um frango em terreno aberto, cheio de dívidas e complicações deixadas pelos acionistas que se foram. Mas essa é outra história.

Com Ronan Maria Pinto, o Santo André provavelmente terá um futuro menos sombrio se for considerada a possibilidade de resultados sequenciais no campo de jogo porque o presidente do Diário do Grande ABC sabe como incrementar as receitas do clube com a sinergia da empresa que domina o mercado publicitário na região. Estão aí os novos patrocinadores que não me deixam mentir.

Tem Ronan Maria Pinto a força midiática que Jairo Livolis jamais teve. Por isso o trabalho da diretoria presidida por Jairo Livolis ao longo dos anos deve ser reverenciado. Ele conseguiu resultados extraordinários mesmo praticamente isolado, voluntariamente ou não.

Jairo Livolis poderia ter sido melhor se abrisse mais o clube a novos colaboradores, mas também neste ponto ele tem um caminhão de razões para contrapor-se a eventuais detratores, porque a sociedade regional faz de cidadania penduricalho, não se envolve para valer em organizações diversas que, infelizmente, acabam dominadas por pequenos grupos.

É assim rigorosamente em todas as instâncias corporativas e institucionais.

Poucos têm a coragem de abrir-se, por exemplo, para um Conselho Editorial, como LivreMercado deste jornalista.

É o futuro de isolamento que infelizmente também se apresenta ao Santo André de Ronan Maria Pinto porque são poucos os que se dispõem a participar de empreitadas coletivistas, inclusive porque o dono do Diário do Grande ABC tem viés de fortíssimo controle de decisões tanto quanto Jairo Livolis.

Tanto Jairo Livolis no passado quanto Ronan Maria Pinto no presente só dirigiriam o Santo André de maneira mais aberta e participativa se houvesse colaboradores de fato para arregaçar as mangas e, convenhamos, peitá-los — no bom sentido, no sentido de maior democratização de fato das deliberações.

O que mais me chateia quando leio o noticiário do Santo André é a reincidência de um crime de lesa-verdade, quando se tenta desprestigiar a diretoria que saiu do clube e endeusar a que entrou, atribuindo-se à segunda os méritos da fuga do rebaixamento à Série C do Campeonato Brasileiro e de acesso à Série A do Campeonato Paulista. Essa é uma mensagem esquizofrênica.

Convém lembrar a esses oportunistas de plantão que o Santo André deste Acesso e o Santo André da fuga do rebaixamento do Brasileiro do ano passado foram legados da diretoria anterior. O elenco é praticamente o mesmo.

Provavelmente o elenco do ano passado que foi utilizado na temporada paulista deste ano e que é a melhor explicação para o acesso, por conta do coletivismo superior ao dos adversários, teria se desmilinguido sem que uma nova direção com recursos financeiros mais substantivos não tivesse aparecido.

Nesse ponto, a liderança de Ronan Maria Pinto e os recursos financeiros que injetou na agremiação foram valiosíssimos.

Até porque há limites para uma fórmula franciscana como a aplicada pela diretoria de Jairo Livolis dar continuamente certo. Quando houve mais recursos financeiros disponíveis, à época do prefeito Celso Daniel, o Santo André ascendeu à Série B do Brasileiro e conquistou o maior título de sua história, a Copa do Brasil na finalíssima contra o Flamengo, no Maracanã.

Além disso, não se pode esquecer também que o rebaixamento no Paulista do ano passado teve como origem uma campanha retaliatória à diretoria de Jairo Livolis por conta da tentativa de um conselheiro assumir a presidência do clube poliesportivo, impulsionado por matérias publicadas no Diário do Grande ABC.

Jairo Livolis e companheiros daquela diretoria perderam o foco estratégico do futebol que sempre souberam definir e se meteram na enrascada política de ganhar as eleições no Poliesportivo que, até então, comandava o futebol. Mantiveram a direção do Poliesportivo mas perderam a Séria A Paulista.

O Santo André que pretensiosamente ou não alinhavei num documento encaminhado aos acionistas no ano passado está longe do Santo André que vemos. Isso significa que as possibilidades de alcançar mais sucessos no futebol serão proporcionalmente maiores na medida em que o clube compreender que, por mais que eventualmente deva ter um quadro de acionistas restrito, jamais poderá abdicar da coletivização dessa paixão que, convenhamos, está disparadamente longe do potencial não só municipal como regional.

O Santo André de Ronan Maria Pinto é melhor que o Santo André de Jairo Livolis entre outras razões porque tem mais respaldo para dar saltos em direção a novos triunfos. Mas não se pode esquecer que, mesmo com inúmeras dificuldades, o Santo André de Jairo Livolis conseguiu as maiores glórias que uma agremiação de porte médio jamais alcançou no Grande ABC, exceto o São Caetano de estrutura completamente diferenciada por conta de um regime diretivo empresarial que o Santo André procura copiar.

O Santo André massificado de torcedores com que se sonhou no passado parece não ter mais vez no futebol empresarial destes tempos, num paradoxo sem tamanho porque o mercado consumidor de futebol é tão importante quanto o mercado empresarial de futebol.


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