Esportes

Santo André forte

DANIEL LIMA - 17/03/2009

Independentemente de chegar às semifinais do Campeonato Paulista, o Santo André é um time vitorioso nesta temporada que se inicia, como o foi na temporada passada de duplo acesso, à Série A do Campeonato Paulista e à Série A do Campeonato Brasileiro.

A velha máxima de que uma grande equipe começa com um grande goleiro é mais que perfeita no caso do Ramalhão: Neneca é impressionantemente bom há três temporadas. Não há outro jogador no elenco, mesmo Marcelinho Carioca da temporada passada no Brasileiro, muito melhor do que no Paulista, que lhe chegue aos pés.

Mas não é de individualidades que vive o Santo André. Entra jogador, sai jogador, entra técnico, sai técnico, e eis que o time se mantém praticamente inabalável.

Dentro dos limites orçamentários de que dispõe, maiores do que a média da história porque conta com reforços de patrocinadores conquistados pelo presidente Ronan Maria Pinto, o Santo André é praticamente imbatível. O índice de produtividade é elevadíssimo, levados em conta os investimentos e os pontos obtidos.

O jogo de domingo contra o Corinthians foi de extraordinário valor tático, embora tecnicamente e como espetáculo a maioria desaprove. A paixão está acima de tudo para quem não se envolve diretamente com a disputa. Quem enxerga futebol muito além do espetáculo, do entretenimento, sabe que o que se disputou no Bruno Daniel foi um jogo de xadrez.

Mano Menezes ganhou a disputa contra o sempre atento Sérgio Guedes, mas não conseguiu o nocaute, que seria a vitória. Para tanto, algumas individualidades corintianas não poderiam desperdiçar tantas oportunidades. Com Ronaldo e Elias certamente o resultado seria outro, mas o enredo tático possivelmente se manteria.

O Corinthians mostrou na maioria do tempo regulamentar como é possível trancafiar o Santo André e, com isso, reduzir sua força. Mas não é fácil. Mais que isso: apenas as equipes mais bem dotadas são capazes desse feito. Não é a toa que o Santo André faz campanha extraordinária. Mano Menezes atravancou a arremetida dos laterais-alas Cicinho e Elvis com a escalação de Dentinho e Jorge Henrique pelas extremidades, fortaleceu a marcação no meio de campo para sufocar a troca de passes em triangulações laterais e centrais e avançou a defesa para retirar as penetrações em bolas longas tanto em profundidade quanto em diagonal. Restava ao Santo André a bola parada de Marcelinho Carioca, praticamente sob controle.

As deficiências e os limites do Santo André certamente vão explicar eventual ausência do G-4 final. Há liberalidade demais na marcação pelas extremidades, a recomposição defensiva é mais lenta do que a desejada, as bolas alçadas na área não têm a interceptação garantida porque, entre outros motivos, os adversários se aproximam com certa frequência da linha de fundo, e a certa indolência na troca de passes permite que o adversário se restabeleça defensivamente. Mesmo assim, para amenizar as dificuldades defensivas, Neneca é insuperável e a explicação para o fato de a equipe ter uma das defesas menos vazadas. E para aquecer o planejamento tático ofensivo, há sempre uma surpreendente capacidade individual de uma bola bem lançada, suficiente para quebrar o marasmo e encontrar um companheiro sempre bem colocado, ou de arremetidas individuais em velocidade.

A maturidade tática do Santo André é um apetrecho pouco comum em equipes que sofrem quebra de continuidade, com a perda de praticamente meio time titular nesta temporada.
Quem enfrentar o Santo André imaginando que estará diante de um clube médio qualquer, desses que se desmancham a um aperto de marcação mais rígida, de uma pressão mais incisiva, acaba caindo do cavalo. A equipe de Sérgio Guedes reage com equilíbrio e contundência. Não é à toa que, mesmo soltando mais um pouco a equipe nos últimos 25 minutos, Mano Menezes não abriu mão de defensores.

É claro que todas as qualidades do Santo André contam com aparato organizacional de recursos humanos e financeiros sob a liderança de um empresário que mergulhou de cabeça à frente do clube-empresa que ainda é muito menos empresa do que clube, mas que é melhor do que clube-clube de antes pela simples razão de que o futebol não permite romantismo.


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