A equipe que acaba de flertar com as semifinais da Série A do Campeonato Paulista e que no ano passado chegou à Série A do Campeonato Brasileiro está entre os melhores Santo André da história. Nem o fato de ficar a poucos metros da fita de chegada à semifinal do principal torneio estadual do País retira o brilho de uma campanha extraordinária, que dá sequência ao rendimento igualmente fantástico no Brasileiro da Série B.
Estar entre os melhores times que o Santo André já levou aos gramados em mais de quatro décadas de disputas não é tarefa fortuita, ocasional. Há planejamento, dedicação, empenho, inteligência e determinação que se refletem nos gramados. Do ponto de vista esportivo, de competição, de bola rolando, o Santo André é o time médio que todos os times médios gostariam de ser, que todos os times pequenos sonham alcançar e que todos os times grandes que de vez em quando desandam ao sair do prumo imaginam se tornar.
O Santo André que se vê nos gramados é um time completamente diferente dos grandes, finalistas do Campeonato Paulista. Tem mais alegria e racionalidade, combinação incompatível apenas para quem não viu a equipe em campo.
Não fosse a bobagem tática do jogo com o Santos na Vila Belmiro, quando substituiu a dinamicidade da movimentação coreográfica malemolente apenas para enganar os desatentos por um esquema excessivamente defensivo e castrador, com três volantes presos à marcação, possivelmente o Santo André teria chegado às semifinais. O confronto direto foi praticamente eliminatório.
A vaga acabou com o Santos que está longe de ter a mesma qualificação tática, o mesmo entrosamento, a mesma engenhosidade de mover-se por todos os cantos de um gramado, embora, sem dúvida, reúna alguns valores individuais mais elevados e mais recursos no banco de reservas.
Quais seriam os melhores times do Santo André ao longo da história, perguntariam os leitores — os mais antigos querendo matar a saudade, os mais novos curiosos por informações?
Pela ordem cronológica, listo as equipes a partir do título da então Segunda Divisão paulista de 1981, em jogos decisivos no Parque Antarctica, contra o XV de Piracicaba e o Paulista de Jundiaí. Tempos do presidente Breno Gonçalves. Foram jogos memoráveis que aplacaram a decepção de dois anos antes, quando, num Pacaembu com 20 mil andreenses, o Santo André bateu a Esportiva de Guaratinguetá mas não levou o título porque ali perto, no Parque Antarctica, o Taubaté superava o São José. No rebolo, disputa que envolvia o vice-campeão da Segunda e o penúltimo colocado da Primeirona, deu Marília.
Em 1984, agora sob a presidência de Lourival Passarelli, o Santo André chegou ao quadrangular decisivo do Campeonato Paulista da Série A e disputou a Série A do Campeonato Brasileiro. Tonho era o goleiro e quem quiser saber os outros titulares e reservas deve ouvir os torcedores e dirigentes mais antigos porque estou com minha memória embolada nestes dias.
Na década seguinte, tivemos um time que não chegou ao título, como a Seleção Brasileira de 1982, mas fez imenso sucesso na Série B do Campeonato Paulista. Invicto em 24 jogos, um recorde da competição, acabou derrotado pelo Matonense num jogo estranho, de arbitragem estranha, de expulsões estranhas, e acabou morrendo na praia. Vivíamos o ano de 1997 e Jairo Livolis era o presidente.
Neste novo século, ainda sob a presidência de Jairo Livolis, a equipe campeã da Copa do Brasil em 2004 entrou sem contestação no firmamento do Ramalhão. Agora, esse grupo de jogadores, comissão técnica e dirigentes, ingressa no que chamaria de clube dos melhores times que o Santo André já produziu. Ronan Maria Pinto é o presidente.
Sei lá se na pressa deste texto esqueci algum outro grupo de atletas que tenha encantado tanto quanto os destacados. O critério que utilizei para chegar a esse resgate combina a eficiência tática e técnica dentro de campo com os resultados práticos, contabilizados na classificação.
O time de 1997 é exceção que confirma a regra, porque seria impensável retirá-lo do pódio apenas porque não chegou ao objetivo mais importante da temporada. Como, aliás, não chegou o Santo André da Série A do Campeonato Paulista deste ano, porque a semifinal seria o corolário de uma campanha excelente. Um corolário dispensável em nome da coerência e da compreensão de que da mesma forma que o futebol de vez em quando premia a mecanicidade tática e técnica de um agrupamento obediente mas burocrático, como a Seleção Brasileira campeã do mundo em 1994 com o jogo irritante de Carlos Alberto Parreira, também castiga a plástica, a organização e a inventividade com travessuras no placar em momentos decisivos.
A direção do Santo André precisa estar atenta às novas demandas por resultados, exatamente numa competição que se apresenta extremamente desafiadora à longevidade do projeto de fortalecimento da equipe, a Série A do Campeonato Brasileiro. Manter a toada que já dura um ano não é fácil, porque cada vez mais o Santo André será observado atentamente pelos adversários.
Tomara que jovens craques, desses de encher os olhos, continuem a brotar nas equipes de base. São meninos que encantam pela sem cerimônia com que enfrentam adversários badalados mas sem a mesma capacidade de incubar e lançar revelações.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André