Política

Seria bom se o Clube dos
Prefeitos fosse Carolina?

DANIEL LIMA - 10/05/2022

Carolina é a mulher do prefeito Paulinho Serra. Paulinho Serra foi reeleito prefeito de Santo André com 48% dos votos disponíveis. Bem mais que os demais. Até porque, adversários viraram galinhas mortas, submetidos a pressões inimagináveis. Carolina é candidata a deputada estadual. O Clube dos Prefeitos é presidido por Paulinho Serra, em regime de rodízio. Ou seja: Paulinho Serra é temporariamente prefeito dos prefeitos do Grande ABC.  

A pergunta da manchetíssima aí em cima tem razão de ser. Se o prefeito dos prefeitos do Clube dos Prefeitos fizesse pelo Clube dos Prefeitos o que faz para eleger a mulher deputada estadual o resultado em forma de regionalidade seria melhor do que o que se apresenta em forma de desastre? 

Vou responder à indagação com a certeza de quem conhece bem o prefeito que também é prefeito dos prefeitos: Paulinho Serra, certamente seria ainda pior como prefeito dos prefeitos do que já se cristalizou, caso dedicasse atenção ao Clube dos Prefeitos como dedica à eleição da mulher, dona Carolina, com a qual está em todas as paradas de Santo André. Da feira livre à feira do livro, da feira da fraternidade à feira de assistencialismo, da feira da sucata à feira do plástico. 

BEIJAMIN BUTTON  

Paulinho Serra é um velho político como tantos jovens políticos de velhos costumes. Diferentemente de Benjamin Button, personagem cinematográfico, o político Paulinho Serra envelhece ainda mais precocemente na medida em que exerce funções públicas, enquanto aquele, o personagem, recuava no tempo, rejuvenescendo. Ou seja: Paulinho Serra é o Benjamin Button do começo de vida, aos 80 anos, sem a contrapartida de alcançar a juventude com experiência. Nada surpreendente, porque está associado a fósseis partidários.  

Como novo-velho político, Paulinho Serra tem tudo para se dar bem como cabo-eleitoral de luxo da mulher Carolina. Afinal, o modus-operandi social da política é o que todos sabem. Entretanto, não conseguirá jamais, no Clube dos Prefeitos, reproduzir o provável resultado eleitoral.  

Economia e política são especialidades distintas. O conhecimento agregado da primeira geralmente ganha o nome de oportunismo na segunda. É o preço da democracia.  

CLUBE DAS MONTADORAS  

Vou dar apenas um exemplo atualizado para dizer o quanto o prefeito dos prefeitos do Clube dos Prefeitos repete a inapetência econômica no cargo de prefeito de Santo André há mais de 50 meses: um novo presidente do Clube dos Montadoras (Anfavea, oficialmente) assumiu o cargo e, como os antecessores, e provavelmente como os sucessores, não provoca nenhuma reação regional. 

Ora bolas: é tão fácil e previsível entender o que estou querendo dizer, embora o embotamento cerebral na região seja coisa seriíssima: chamem o homem que representa a atividade econômica mais proeminente do passado, do presente e do futuro do Grande ABC.  

Chamem o homem, convoquem o setor produtivo relacionado à produção automotiva, façam o que for possível, mas tragam o homem para um encontro que trace com segurança o desenho escabroso destes dias do setor sobrerrodas e o que vem pela frente num mundo em fase de desglobalização.  

Não estivesse tão preocupado com a eleição de Carolina, e se lixando para os carros que significam a qualidade de vida do Grande ABC, o prefeito dos prefeitos do Clube dos Prefeitos já teria se movimentado.  

Mas está ocupado demais como cabo-eleitoral da mulher para se preocupar com a Economia.  

SOMENTE POLÍTICA  

Como pensa pouco e porcamente, nem mesmo essa grande jogada com repercussão eleitoral (pois é nisso que ele pensa desde que acorda) ganhou perspectiva.  

Ou seja: a política eleitoral do prefeito dos prefeitos do Grande ABC é tão tacanha, tão desprovida de qualquer sentimento que enxergue os contribuintes e os cidadãos como algo que transcende as urnas eleitorais, que o óbvio dos óbvios é ignorado.  

Mesmo considerando que um evento com o presidente e assessores técnicos da Anfavea fosse revestido subliminarmente de interesse eleitoral, o encaminhamento posterior ao encontro poderia engatar mesmo que uma primeira marcha num processo que está em marcha-a-ré desde muito tempo.  

Ou seja: a desindustrialização campeia, aprofunda-se, destrói o tecido de mobilidade social do Grande ABC e não emerge nada, absolutamente nada, que ao menos dê uma ilusão, mesmo que seja uma ilusão passageira, de que alguma coisa acontece no coração econômico da região.  

DUPLO OBJETIVO  

Basta acompanhar a mídia local – tanto impressa quanto digital – para entender que só existe uma motivação a conduzir os passos de Paulinho Serra à frente da Prefeitura de Santo André e, mesmo assim constrangida, no Clube dos Prefeitos: uma sincronia fina entre a busca de espaço político pós-mandato e a eleição de dona Carolina, a rainha das manchetes subliminares, tanto se agarra ao marido nas fotos fartamente publicadas.  

O novo presidente da Anfavea concedeu uma entrevista na semana passado ao jornal Valor Econômico. Disse muitas coisas importantes que cabem perfeitamente no figurino do presente do Grande ABC.  

Um assessor qualquer do prefeito dos prefeitos do Clube dos Prefeitos teria reagido de forma prospectiva se houvesse na entidade ou na Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Santo André algo que se chamaria de cultura do trabalho, do empreendedorismo público.  

Ou seja: teria reagido imediatamente para organizar uma agenda extraordinária com aquele executivo.  

CAPTAÇÃO DE VOTOS  

Qual nada. É demais esperar que um prefeito dos prefeitos que não entende bulhufas de economia tenha a sensibilidade tocada exatamente numa quadra de tempo em que a mulher Carolina precisa ser cuidadosamente presenteada com uma estrutura de captação de votos. Elegê-la é questão de honra.  

Se Carolina dançar, o que é difícil de acreditar porque toda a máquina está em franca atividade, o prefeito Paulinho Serra também dança. Ou alguém tem coragem de questionar que o futuro de Paulinho Serra como prefeito e também como marido tão devotado depende dos votos que a mulher Carolina obterá? 

Por isso, o Clube dos Prefeitos que se dane. Por isso, a Agência de Desenvolvimento Econômico que se dane. Até porque, convenhamos, são instituições gêmeas em tudo, na subserviência e cumplicidades políticas e partidárias, além de inadimplentes nas funções básicas que deveriam exercer.  

BANCADA DE PROTEGIDOS  

Não vi nem quero ver porque tenho frequentado muito pouco as emissoras de televisão, mas me disseram que dona Carolina frequenta a programação das emissoras em propagandas partidárias obrigatórias, juntamente com o deputado Alex Manente, ambos que são do Cidadania.  

Nada surpreendente; o mesmo grupo político de Manente presta louvores à mulher de Paulinho Serra. É uma dobradinha oficial que conta com o suporte da mídia regional.  

O que no passado durante o período eleitoral vestia a camisa enganadora da Bancada do ABC se tornou Bancada dos Protegidos.  

Paulinho Serra está jogando todas as fichas nas eleições que estão chegando e pouco se lixando em exercer o cargo a que foi eleito quando se trata de Desenvolvimento Econômico --- e tampouco ao cargo ao qual foi transplantado, no Clube dos Prefeitos, por combinações políticas locais.  

OLHOS ELETRONICOS  

Ganhar o jogo com Carolina, a mulher com sede de poder, é, portanto, a obsessão do prefeito de Santo André. Os olhos de Paulinho Serra estão grudados nos olhos de Carolina em forma de urna eletrônica.  

Não fosse candidata privilegiada que é, Carolina não ocuparia espaço aqui. Se há algo que sempre separei é a vida particular da vida profissional dos personagens da política regional.  

O que se deve lamentar com o protagonismo da mulher do prefeito é que o privado, o particular, soterre o interesse público.  

Nada surpreendente, aliás, já que o estágio institucional do Grande ABC é uma mistura de desprezo e zombaria à sociedade.  

Por mais que o Clube dos Prefeitos valha tão pouco, jamais deveria valer menos que o interesse de um casal privilegiado em se ajeitar na política.  

Quando uma sociedade assiste a tudo isso e não reage, incapaz de juntar meia dúzia de rebeldes com causa, tudo indica que, definitivamente, coisas piores estão por vir. 



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