O Santo André (o Barueri e o Avaí) que disputa a Série A do Campeonato Brasileiro está tentando repetir mesmo que em menor escala a trajetória de Palmeiras, Botafogo do Rio, Sport Recife e Náutico.
O São Caetano que está na disputa da Série B do Campeonato Brasileiro pode percorrer o mesmo caminho que já trilharam Grêmio, Vitória, Coritiba, Atlético Mineiro e Corinthians.
O Santo André está na mesma perspectiva de situação vivenciada por Palmeiras, Botafogo, Sport e Náutico, equipes integrantes da Série A que saíram das profundezas da Série B em 2003, quando se iniciou o que chamaria de Era dos Pontos Corridos do Campeonato Brasileiro.
Até aquela temporada, a principal competição do País foi disputada em variadas fórmulas — nenhuma em turno e returno — com rebaixamento e acesso inicialmente de duas e depois de quatro competidores.
Em 2003 o Santo André disputava a Série C, o Avaí estava na Série B e o Barueri ainda era um protótipo de time profissional com ambições nacionais. Disputava divisões de baixo do futebol paulista.
Palmeiras, Botafogo, Sport e Náutico estavam na Série B quando foi dada a largada da fórmula de pontos corridos em dois turnos na Série A em 2003. Apenas em 2006 a Série B passou a obedecer o mesmo critério de disputa em turno e returno, mas o acesso e o descenso já funcionavam. Sport e Náutico subiram exatamente naquele ano. Também o América de Natal saiu da Série B em direção à Série A, mas, em seguida, retornou à Série B. Por isso não entra nessa contabilidade.
A situação do Santo André (e também do Avaí e do Barueri) é aparentemente complicada quando se traça perspectiva tomando-se como base a longevidade das equipes da Série B que chegaram à Série A e ali se mantiveram. São quatro entre as 20 atuais ocupantes da Série A. Ou 20%. Santo André, Barueri e Avaí podem aumentar a representação desse agrupamento se permanecerem na disputa à próxima temporada. Aí seriam oito em 20, ou 40%. Ou seja: o ritmo de renovação da principal competição do País em relação à origem, em 2003, chegaria quase à metade dos participantes atuais. Uma baita margem.
Independente da posição que ocupa na tábua de classificação atual, próximo da zona de rebaixamento, as estatísticas são inquietantes para o Santo André, porque a melhor metáfora para a situação é do copo pela metade, meio cheio e meio vazio.
Explico a dualidade: depois de seis anos de aplicação de acesso e descenso dentro da configuração de pontos corridos, registram-se quatro casos de equipes originárias da Série B que subiram e desceram rapidinho para a divisão de origem. Brasiliense, Portuguesa, Ipatinga e América de Natal caíram no mesmo ano em que estrearam na Série A.
Então, para que a contabilidade seja bem feita, ficamos assim com relação à situação do Santo André, considerando-se as estatísticas: foram quatro até agora as equipes da Série B que subiram para a Série A e continuam entre as principais do Brasil. Já as equipes da Série B que subiram para a Série A e voltaram para a Série B também são quatro. Daí a metáfora do copo pela metade, meio cheio e meio vazio, de otimismo e de desconfiança. Ou seja: em 50% dos casos o rebaixamento vem a cavalo, e em outros 50% o acesso é assegurado por bom tempo.
A mudança drástica de demandas e obrigações, que explicaremos outro dia, está na raiz dos problemas de sustentabilidade na Série A para quem veio de divisão inferior. Palmeiras e Botafogo são grandes clubes brasileiros rebaixados no Brasileiro de 2002 que retornaram à divisão de elite depois de chegarem na frente como campeão e vice-campeão em 2003. Sport e Náutico são antigos rivais que se auto-alimentam em boa parte do marketing de torcidas fanáticas, que respondem em larga escala às necessidades de investimentos.
Nada menos que 11 equipes (46%) que constavam da relação da Série A na origem do calendário da Era dos Pontos Corridos não resistiram e permanecem rebaixadas. Ocupam a Série B desta temporada, depois de frequentarem a Série A a partir de 2003: Ponte Preta, Fortaleza, Bahia, Guarani, São Caetano, Juventude, Paraná e América de Natal. A lista se completa: Criciúma e Paisandu estão na Série B e o Santa Cruz desabou para a Série D.
Qual seria, nestas alturas das estatísticas, a probabilidade de o Santo André permanecer na Série A do Campeonato Brasileiro e do São Caetano deixar a Série B do Campeonato Brasileiro? Antes é preciso lembrar que projeções numéricas não podem representar festejos ou infortúnios antecipados. Dentro de campo é sempre possível sufocar as estatísticas. Melhor ainda, é possível empurrá-las a terceiros. Ou seja: que as estatísticas valham para outras equipes, mas não para as equipes do Grande ABC.
É claro que estatística é uma ciência sujeita a chuvas e trovoadas de interpretação, porque, como se sabe, a média de consumo das famílias, por exemplo, de 100 quilos de carne de primeira por ano esconde a desigualdade social que divide ricos que se alimentam muito bem e pobres que mal sentem o cheiro de uma picanha.
Mas não se pode nem se deve desclassificar números comparativos.
A Era dos Pontos Corridos do Campeonato Brasileiro congrega 18 acessos à Série A e 22 rebaixamentos à Série B. A diferença é fácil de explicar: em 2003 havia 24 equipes na Série A e a CBF decidiu, nas temporadas seguintes, promover o rebaixamento equalizado com o acesso até ajustar o total de 20 equipes. Em 2004 e 2005 subiram duas equipes e desceram quatro. Antes, em 2003 desceram duas. Daí em diante, subiram a cada ano quatro equipes e desceram igualmente quatro.
Santo André, Barueri e Avaí são casos de equipes que ocupam pela primeira vez a Série A e ainda não sabem o destino mais próximo. Entrarão nas estatísticas das equipes que permaneceram na Série A ou voltariam à Série B? Estarão na situação de Palmeiras, Botafogo, Sport e Náutico ou vão mimetizar Brasiliense, América, Ipatinga e Portuguesa?
Repito que a análise se restringe à Era dos Pontos Corridos porque o conceito tático e estratégico desse tipo de disputa é completamente diferente do que prevalecia até então, de turno único e de mata-matas para a definição dos primeiros colocados. A engenharia dos pontos corridos e de jogos em turno e returno é muito mais rebuscada e profunda do que o modelo anterior.
Voltaremos outro dia para tentar explicar ao sobe e desce no Brasileiro. Um dos fatores que pesam consideravelmente é a própria cultura da Série A, que aumenta a possibilidade de, aos rebaixados, retomar seus postos. Apenas oito equipes entre as 24 da relação da Série A do Campeonato Brasileiro de 2003 não conheceram nesse período o desgosto do rebaixamento (Cruzeiro, Santos, São Paulo, Internacional, Flamengo, Goiás, Atlético Paranaense e Fluminense). São absolutamente virgens. Outros cinco foram apeados da Série A mas retornaram: Coritiba, Atlético Mineiro, Corinthians, Vitória e Grêmio. Sobram sete vagas para as demais equipes brasileiras.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André