Esportes

Uma lição a ser aproveitada

DANIEL LIMA - 16/09/2009

Depois do jogo que perdeu em casa nesta terça-feira à noite para o líder Vasco da Gama, aflorou pelo menos uma interrogação envolvendo o São Caetano: será aquele futebol o teto da equipe?

Se o for, a disputa por uma das quatro vagas à Série A do Campeonato Brasileiro não está comprometida, porque o time de Antonio Carlos Zago não decepcionou, mas a briga será ainda mais árdua, porque há outros competidores com qualificações semelhantes. Ou seja: o São Caetano não fugiria da regra e do compasso do emparelhamento das equipes que disputam três vagas.

O Vasco da Gama que amadurece taticamente a cada rodada e sobre o qual não resta dúvida de que é questão de tempo a volta à Série A, deixou lição importante no Anacleto Campanella: definiu um limite da força do adversário que, possivelmente, a série de vitórias na espetacular arrancada que levou o São Caetano às primeiras colocações, poderia induzir a juízo de qualificações superestimadas.

O São Caetano é um dos principais times da competição, mas, Vasco da Gama fora, não se diferencia para mais ou para menos de forma indiscutível dos concorrentes mais diretos às vagas que restam. Portanto, terá de colocar a mão na massa com mais empenho ainda para retomar o posto na principal divisão do País. Desta forma, o melhor mesmo é esquecer o passado recente de acúmulo de vitórias que poderiam sugerir a ideia de lugar garantido entre os quatro. A disputa é acirradíssima. Guarani, Atlético Goianiense, Ceará, Portuguesa e Ponte Preta também têm amplas possibilidades de sucesso.

Até que o empate poderia ter caído bem, mas não necessariamente satisfatório ao São Caetano na noite de terça-feira. A vitória do Vasco da Gama encaixou-se melhor no rendimento das equipes, embora imprimisse um tom de mérito excessivo porque conquistada nos últimos minutos.

Quando aquela bola cruzada da esquerda encontrou Elton na posição em que é mais fértil, com espaço para dominar e chutar com a violência de sempre, o São Caetano pagava o preço de ter perdido um jogador de defesa por expulsão. Mas mesmo com 11 em campo a equipe de Antonio Carlos Zago penou para tentar igualar o jogo. Mais por méritos do Vasco de Dorival Júnior, time fortíssimo na marcação, razoavelmente rápido no contragolpe e, principalmente, concentrado o tempo todo na virtude de ter o controle das ações.

O São Caetano perdeu para um grande adversário sem ter decepcionado. É importante enxergar o outro lado em qualquer análise.

O sucesso do Corinthians nesta temporada, campeão paulista invicto e também campeão da Copa do Brasil, retira o preconceito de que a Série B do Campeonato Brasileiro é uma competição qualquer.

Com poucas mudanças, o time de Mano Menezes fez sucesso em duas competições importantes com a base consolidada na Série B. Estão aí também o Avaí e o Barueri como exemplos de que Série B não é depósito de lixo técnico e tático.

O Santo André de infortúnios recentes também consolida essa tese, porque mexeu tanto naquele grupo vitorioso que se dá mal na Série A.

O que quero dizer com isso? Que o Vasco da Gama é o divã dos principais concorrentes da Série B. É espécie de momento único da competição em que se aferem virtudes e limitações. Por isso, transformar uma derrota como a de terça-feira em catástrofe seria a pior saída do São Caetano. O resultado foi normal dentro das regras do mercado que, em condições normais de altitude e temperatura, determinam que quem mais investe tem mais possibilidades de sucesso. O gostinho amargo da derrota de terça-feira não pode passar de situação passageira ao São Caetano.

Talvez o melhor reforço que a equipe possa ter nas próximas rodadas é o retorno do técnico Antonio Carlos ao banco de reservas. A extravagante punição imposta pela CBF por rotineira invasão de campo para comemorar um gol não pode estender-se mais.

Quem conhece a influência de Antonio Carlos no elenco sabe o quanto a ausência no espaço determinado pelo regulamento atrapalha o grupo. A segurança que Antonio Carlos transmite à beira de campo é essencial à dinâmica de jogo. O São Caetano de terça-feira possivelmente teria sido mais vibrante e menos calculista se seu técnico estivesse mais próximo dos atletas. Um técnico com a força pessoal de Antonio Carlos relegado à arquibancada é um baita desfalque.

Há determinados momentos de um jogo em que só quem é do ramo sabe que é possível aproveitar o desnível adversário. E houve esse momento durante pelo menos 15 minutos pós-expulsão do zagueiro do São Caetano. O Vasco pareceu refluir o ímpeto de marcação por conta da vantagem numérica. O São Caetano acertou dois ou três contragolpes mas poderia ter contado com a velocidade e a boa técnica do jovem e promissor atacante Wendel, que demorou para entrar.

O Vasco da Gama foi o primeiro de uma série de confrontos diretos do São Caetano porque vem a Ponte Preta e o Ceará na sequência. Para chegar a 58% de produtividade geral nos 14 jogos que restam, ao São Caetano não sobra alternativa senão acumular vitórias e vitórias. Se souber extrair do resultado de terça-feira os ensinamentos que muitas vezes escapam nas derrotas, poderá chegar ao objetivo traçado. É hora portanto de maturidade avaliativa.


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