Esportes

Perspectivas inalteradas

DANIEL LIMA - 23/09/2009

A mais recente rodada da Série A e da Série B do Campeonato Brasileiro confirmou minha suspeita.

Primeiro, o São Caetano não se deixou abalar pela derrota na terça-feira da semana passada para o Vasco e registrou na sexta-feira resultado estrondoso em Campinas contra a Ponte Preta. Com isso, confirmou a expectativa de que luta para valer pelo acesso, com possibilidades de sucesso além da frieza da matemática.

Segundo, o Santo André surpreendeu apenas no resultado com o indolente São Paulo. Com melhora coletiva tênue, não mais que isso, a equipe de Sérgio Soares não transmitiu a segurança de que vai escapar da zona de rebaixamento. Se escapar numa ou noutra rodada, a degola deverá atormentar a equipe até as últimas rodadas, com possibilidades avantajadas de cair.

É bom explicar que não pretendo jamais estimular área de conflito, de competição, de rivalidade, nos enunciados expostos.

Garanto que torço muito para ver as duas equipes na Série A, mas são incontornáveis as comparações nestes momentos em que a reta de chegada aparece no horizonte.

Confrontar as possibilidades das duas principais equipes do Grande ABC está, portanto, distante de antagonizá-las, de recrudescer uma rivalidade mesmo que sadia. Trata-se de esquematização analítica, nada mais.

Insisto na seguinte teoria: o São Caetano está tão próximo embora não tão próximo da Série A do Campeonato Brasileiro do ano que vem quanto o Santo André está tão próximo, flagrantemente tão próximo, da Série B do Campeonato Brasileiro do ano que vem. O jogo de palavras é proposital, para forçar o leitor a reler a frase e memorizar o conteúdo aparentemente confuso, só aparentemente confuso.

Tanto o São Caetano pode frustrar-se ao final da competição quanto o Santo André festejar a manutenção na Série A. São possibilidades conectadas com as probabilidades compulsórias do futebol. O problema é que o Santo André não inspira confiança de que escapará e o São Caetano transpira a sensação de que pode mesmo voltar à Série A.

Além da matemática, que não pode ser lançada ao vento, o que conta nessa avaliação é o que se vê em campo.

A rodada iniciada na sexta-feira e encerrada no sábado não poderia ter sido mais satisfatória ao São Caetano. A vitória contra a Ponte Preta não responde por tudo de bom que ocorreu com a equipe do técnico Antonio Carlos Zago.

Além daqueles três pontos com três gols em 30 minutos o São Caetano ganhou outros 12. Explico: a vitória do Vasco sobre o Guarani, do Figueirense sobre o Atlético Goianiense, do Paraná sobre o Ceará e do Ipatinga diante da Portuguesa mantiveram a pontuação dos principais rivais rumo ao Acesso e, consequentemente, reduziu o índice de aproveitamento individual.

O São Caetano está a um passo do G-4 e tem nas duas próximas rodadas todas as possibilidades de fincar estacas na zona classificatória, porque joga em casa contra Ceará e Guarani, adversários diretos por uma das três vagas que restam. A primeira, como se sabe, é do Vasco da Gama.

Aliás, a única dúvida quanto ao futuro do Vasco na competição é se conseguirá atingir a marca do Corinthians, recordista de eficiência desde que a Série B ganhou a atual roupagem. Para isso, precisará somar pelo menos (para empatar) 85 pontos, ou 74,56% de produtividade geral. Ou seja: nos 13 jogos que restam, o Vasco precisará ganhar 33 pontos, com 10 vitórias e três empates. Quase impossível.

O São Caetano não conta apenas com o suporte da tabela para entrar provavelmente consolidado no G-4. Há dois jogos na próxima rodada que poderão beneficiar a equipe. São os clássicos Atlético Goianiense versus Vila Nova e Guarani versus Ponte Preta.

Não vou me estender em observações técnicas e táticas, mas é evidente que o São Caetano está no mesmo nível dos principais concorrentes ao Acesso, exceto o Vasco da Gama.

Nada melhor, portanto, já que nestas alturas do campeonato, no primeiro turno, o São Caetano caía pelas tabelas e muitos precipitados já o colocavam na Série C.

A vantagem do São Caetano em relação aos concorrentes diretos é que conta com uma banda larga para a melhoria individual e coletiva, na esteira das reformas táticas e técnicas de Antonio Carlos Zago. Os adversários, por saírem de base comparativa mais forte, por não viverem a depressão do primeiro turno do São Caetano, praticamente já atingiram o limite de rendimento.

Trocando em miúdos: o São Caetano sugere a possibilidade de que tem mais combustível no tangue do que os adversários diretos. Provavelmente não precisará fazer um pit stop nem derrapará na pista.

Já a sorte do Santo André na Série A do Brasileiro é mais complexa. Pelo andar da carruagem de pontos, restariam apenas quatro equipes para fugir das três últimas posições de degola, já que o Fluminense teve a alma encomendada e o Coritiba poderá fugir sem grandes sobressaltos do embolamento atual das últimas posições.

Náutico, Botafogo do Rio e Sport Recife formam a trinca com a qual o Santo André lutaria para continuar na Série A. Todos com mais tradição, mais torcida, mais institucionalidade. Uma equipe com a diagramação histórica do Santo André teria mais possibilidades de fugir do rebaixamento se fosse bem melhor que os adversários que se apresentam. Infelizmente, não é o caso. Um pênalti semelhante ao cometido por Miranda domingo passado dificilmente deixaria de ser marcado se o adversário fosse Botafogo, Náutico ou Sport.

Quem sabe o técnico Sérgio Soares consiga o milagre de dar arrumação tática que encurte o caminho ao coletivismo. Contra o São Paulo houve melhoria razoável da postura tática. Já não se deixaram tantos espaços para os contragolpes, o meio de campo não se afastou demais dos zagueiros, os zagueiros não se juntaram desnecessariamente ao goleiro, e os atacantes não ficaram tão abandonados. Mas nada disso chegou ao ponto de arrumação da maioria dos adversários.

O jogo de domingo com o Sport no Recife virou a batalha da ponte, porque com uma vitória o Santo André poderia matar dois coelhos com uma só cajadada. Primeiro, o Sport entraria definitivamente na lista dos desesperançados. Segundo, o Santo André daria uma respirada forte na hora certa, embora ainda insuficiente.

Reparou o leitor que a primeira e a segunda situações embutem contraditório que revela o tamanho da encrenca em que se meteu o Santo André? Esclareço: a recíproca do resultado do jogo também é verdadeira, porque se perder para o Sport o Santo André não só reabilitaria de vez o adversário à fuga do descenso como, também, mergulharia de vez no rio de crocodilos da degola.

Que os torcedores do Santo André não se iludam: o jogo com o Sport será muito mais difícil que o contra o preguiçoso São Paulo. Jogar na Ilha do Retiro é sempre uma aventura. A pressão é total. O Sport tem muito mais qualidade para permanecer na Série A do que deficiências para explicar eventual queda.


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