A Folha de S. Paulo segue a utilizar pesquisas do Instituto Datafolha para fazer do jornalismo rede de manipulações. Conta para tanto com o suporte do Consórcio de Imprensa, grupo da Velha Imprensa que, a pretexto de cuidar do placar do Coronavírus no Brasil, fundiu-se como conglomerado de oposição ensandecida ao presidente da República.
Juízo de valor à parte sobre as barbeiragens do presidente Jair Bolsonaro, o que a Velha Imprensa vem fazendo diuturnamente, em nome da liberdade de expressão, é sabotagem continuada.
Quem entende de jornalismo não precisa se esforçar para decifrar a engrenagem de um contragolpe insano aos erros do presidente – bem como também medidas que acabaram com a farra de dinheiro público para amenizar políticas editoriais que, em muitas situações, poderiam ser chamadas de chantagens.
RUMO DRAMÁTICO
A mais recente pesquisa do Datafolha, publicada na edição de 10 de setembro, e massificada pela Velha Imprensa, é mais um passo rumo a um futuro próximo que pode ser dramático, qualquer que seja o resultado eleitoral.
A sondagem eleitoral foi engendrada com o objetivo principal e malicioso de esvaziar por meio de suposta ciência o comportamento social arrebatador do Sete de Setembro que, goste-se ou não, catapultou Jair Bolsonaro em direção a um segundo turno indesejado por quem teme reviravolta no placar.
Fiz breve apanhado dos principais trechos da ampla reportagem e análises que a Folha de S. Paulo entregou como produto enviesado aos leitores.
E A DEMOCRACIA?
Mais que ter direito à opinião, manifesta-se o direito à argumentação. Pretendia acrescentar a esse texto de pontos e contrapontos uma notícia divulgada pela mesma Folha de S. Paulo dois dias depois do que se viu nas páginas da publicação em 10 de setembro, mas vou deixar para amanhã.
Trata-se da percepção dos brasileiros sobre democracia. Um resultado que tem o significado de tiro no pé do Instituto Datafolha e da Folha de S. Paulo – além de atingir em cheio, também, o coração de alguns ministros do Supremo Tribunal Federal.
No estoque de textos de CapitalSocial, em mais de 30 anos de circulação impressa e digital, há mais de uma centena de avaliações sobre pesquisas eleitorais.
Na maioria dos casos há abordagens descredenciadoras de resultados. Esta não é a primeira vez que a Folha de S. Paulo e o Datafolha são combatidos com argumentos. Não seria o ambiente de polarização política que nos impediria que ir adiante.
SALVO-CONDUTO
Não preciso do salvo-conduto de ser um dos raros jornalistas do País a retirar o Caso Celso Daniel do inapropriado e mais que provado insustentável Departamento de Assassinato por Encomenda para supostamente defender o atual presidente ante a alucinante ofensiva da Velha Imprensa. Não é política nem ideologia. É jornalismo.
A Folha e o Datafolha (e as organizações do Consórcio de Imprensa) perderam a estribeira ética. Deixam de lado os grandes problemas nacionais para se meterem em buracos sem fundo de noticiários e análises rasos, retroalimentando o que há de pior nas redes sociais.
ATÉ O SUPREMO
Não é exagero a conclusão preliminar de que o Brasil corre em direção ao caos institucional ditado por extremistas de todas as bandas. Inclusive de gente graduadíssima, do Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral com projeções de conflitos sociais, como os que cercaram preparações para ao Sete de Setembro.
A naturalização de hostilidades que superam os limites sempre flexíveis da Democracia é o combustível que poderá fazer arder o que se espera de e reformas que reduzam o tamanho do Estado.
Leiam a versão impressa dos pontos principais da Folha de S. Paulo de oito de setembro e os respectivos contrapontos.
FOLHA DE SÃO PAULO
A mais recente pesquisa do Datafolha sobre a disputa pelo Palácio do Planalto mostra um cenário estável, com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) liderando a corrida de primeiro turno com 45% ante 34% de Jair Bolsonaro (PL). O presidente, contudo, oscilou positivamente dois pontos, dentro de margem de erro, e nominalmente esta é a menor distância entre eles desde maio de 2021. Realizada na quinta-feira (8) e nesta sexta-feira (9), o levantamento assim pode medir o impacto imediato das grandes manifestações comandadas pelo presidente por ocasião do 7 de setembro, na quarta. (...) O próprio Bolsonaro chamou aquilo de “datapovo”, em oposição ao trabalho do Datafolha. Por ora, e o efeito desse tipo de evento tende a se esvaziar passado o momento inicial, não é possível aferir se a oscilação sugere uma mudança de curva. (...) Na pesquisa anterior, realizada na semana passada, Lula tinha os mesmos 45% e Bolsonaro, 32%.
CAPITALSOCIAL
Diferentemente do que sugeriu a Folha, a nova pesquisa do Datafolha mostrou que a movimentação das pedras rumo à disputa de primeiro turno para a presidência da República segue ritual de encurtamento da distância entre o ex-presidente e o atual presidente.
A diferença de 23 pontos percentuais registrada pelo Datafolha na última semana de maio caiu para 11 pontos percentuais no começo de setembro. Mais da metade, portanto.
E dois desses pontos percentuais se deram pós-sete de setembro.
Observar pontualmente, no curto prazo, de corrida de 100 metros, o que é explicitamente uma maratona por votos, descredencia o enunciado principalmente porque há uma fita de chegada a ser rompida, o dois de outubro próximo. É isso que tem de estar sob análise.
Mais que isso: 23 de outubro, data de um provável segundo turno. A velocidade de mudança de votos pode mesmo ser supostamente lenta quando a próxima parada é dois de outubro, mas parece suficientemente ágil quando se olha um pouco mais adiante, em 23 de outubro.
Talvez a Folha de S. Paulo não se tenha dado conta de que o comando da campanha do presidente da República tenha essa porção temporal de reserva no horizonte.
A afirmativa de que efeitos eleitorais de evento como o registrado em sete de setembro tende ao esvaziamento não tem consistência, porque não está caracterizado em antecedentes.
Tanto quando a afirmativa de que o efeito imediato teria sido discretíssimo (apenas dois pontos percentuais de avanço de Bolsonaro e a manutenção dos 45% de Lula).
Não se pode esquecer que o Datafolha foi às ruas nos dois dias seguintes ao sete de setembro. Há possibilidades concretas de que os desdobramentos das manifestações sejam mais duradouros e intensos do que a interpretação da Folha sugere. Dados de pesquisas de outros institutos já teriam captado essas transformações.
A perspectiva da avaliação da Folha de S. Paulo valeria provavelmente para outros tempos, nos quais as redes sociais inexistiam ou eram impotentes.
FOLHA DE SÃO PAULO
Lula manteve os 48% de votos válidos, excluindo nulos e brancos, que é a forma com que a Justiça Eleitoral fecha a contas do pleito.
Se alguém tiver 50% mais um voto, está eleito em primeiro turno. Com a margem de erro, o petista ainda pode estar próximo da metade necessária, mas a tendência é de queda: em maio, tinha 54%. Bolsonaro oscilou de 34% para 36% da semana passada para cá.
Na simulação do segundo turno, Lula segue à frente, com os mesmos 53% da semana passada, enquanto o presidente oscilou um ponto para cima, chegando a 39%.
CAPITALSOCIAL
Demorou um tempo, alguns parágrafos, para a Folha de S. Paulo corrigir a omissão anterior, de ganho na curva do tempo. Mesmo assim não caracteriza a mudança como algo bastante representativo ao segundo turno, mas convém lembrar: em maio, com 55% dos votos no segundo turno, Lula da Silva mantinha vantagem de 23 pontos percentuais sobre Bolsonaro, que registrava 32%. Agora o segundo turno favorável a Lula da Silva caiu para 14 pontos (53% a 39%).
FOLHA DE SÃO PAULO
Ao contrário do impacto mais imediato de um acontecimento como o 7 de setembro, segue a ser visto o efeito esperado pela campanha bolsonarista do Auxílio Brasil. O programa de transferência de renda que substituiu o Bolsa Família já teve a primeira parcela toda paga em agosto, e até aqui não alterou significativamente o voto dos mais pobres.
Entre quem ganha até 2 salários mínimos, 50% da amostra deste levantamento, Bolsonaro ficou estável, com 26%, enquanto Lula tem 54%. A ajuda de R$ 600 chega a 20 milhões de famílias no país, e a maioria de quem o recebe direta ou indiretamente diz votar no petista (56%, ante 28% do presidente).
A expectativa do Planalto era de ver a iniciativa reverberando mesmo entre os mais pobres que não a utilizam. Para esses, e para segmentos intermediários de renda, a melhoria do cenário econômico e a queda no preço de combustíveis operada pela intervenção de Bolsonaro na Petrobras pareciam uma aposta mais certa.
Tanto foi assim, que o presidente havia subido entre aqueles que ganham de 2 a 5 mínimos, que somam 26% da amostra populacional. Só que o efeito só durou até a pesquisa passada.
CAPITALSOCIAL
Os efeitos do Renda Brasil esperados pelo comando da campanha de Bolsonaro não passarão pelo afugentamento agressivo do eleitorado de Lula da Silva entre os mais pobres.
Nem poderia, porque Lula é o pai dos miseráveis desde que implantou o Bolsa Família.
O projeto do presidente é reduzir o impacto da vantagem de Lula da Silva entre os mais pobres, especialmente no Nordeste, de nove Estados majoritariamente petistas.
Ainda é prematuro caracterizar a mobilidade de votos em direção a Bolsonaro nesse extrato social. Mas não custa lembrar o que o Datafolha registra e a Folha omite: a diferença favorável a Lula entre os pobres e miseráveis era de 40 pontos percentuais em maio e caiu para 28 pontos percentuais na mais recente pesquisa.
Tudo indica que a distância será ainda menos discrepante até dois de outubro. E que poderá sofrer novo impacto na fita de chegada de 23 de outubro, nas urnas do segundo turno.
A melhoria no cenário econômico também caminha ao lado das pretensões de reeleição de Bolsonaro. Vários indicadores seguem avançando.
O emprego cresce, a inflação cai, os combustíveis já não custam os olhos da cara. Tudo isso se reflete na mudança da curva de votos detectada não só pelo Datafolha, embora a Folha trate de mitigar, quando não de colocar sob condicionalidades que não se sustentariam no curto prazo.
FOLHA DE SÃO PAULO
No embate pelo volumoso segmento feminino, 52% da amostra, as tiradas machistas do presidente no 7 de setembro, quando puxou o coro de “imbrochável” e comparou sua mulher, Michelle, à de Lula e de outros, não mudaram o quadro. O petista oscilou de 48% para 46% e Bolsonaro de 28% para 29%.
CAPITALSOCIAL
Também nesse caso, a linha do tempo e da curva eleitoral mostram que se reduz a cada nova rodada de pesquisa a distância de votos entre as mulheres que preferem votar em Lula. Em maio, segundo gráfico do Datafolha, a distância era próxima a 30 pontos percentuais. Agora são 17 pontos percentuais – 46% a 29% para Lula.
FOLHA DE SÃO PAULO
No corte religioso, Bolsonaro manteve sua dianteira entre os 27% de evangélicos dessa pesquisa, pontuando 51% ante 28% do petista. Este lidera entre os mais numerosos, mas menos vocais politicamente, católicos (52% da amostra): tem 54%, enquanto o presidente marca 27%.
CAPITALSOCIAL
Também nesse caso Folha/Datafolha omitem a curva do tempo: em maio, Bolsonaro e Lula estavam praticamente empatados entre os evangélicos. Agora Bolsonaro conta com 51% ante 28% do petista.
Há indicações de que a diferença vai se alargar. Sem contar, adicionalmente, que a mostra do Datafolha pode estar defasada: evangélicos seriam mais que 27% estimados no Brasil, e os católicos, menos que os 52%.
Outra questão relevante sobre cortes por segmentos (e que vale para todos, além do religioso) é que a margem de erro de dois pontos percentuais para cima ou para baixo é estatisticamente frágil, porque se baseia no total geral de eleitores ouvidos pelo Datafolha.
Ou seja: para que o corte religioso pudesse ser avaliado com segurança, seria necessária a aplicação de total de questionários equivalente ao conjunto da obra levada a campo pelo instituto, de 2.766 entrevistas.
Os 27% evangélicos entrevistados são apenas um quarto e não o total da amostra o que, evidentemente, dá elasticidade ampla à margem de erro. Traduzindo: todo recorte da pesquisa central está sujeito a chuvas de dúvidas e tempestades de desconfiança.
FOLHA DE SÃO PAULO
Uma mudança relevante se viu no Sudeste do país, com 43% dos eleitores. Ali, a subida de Bolsonaro, que reduzira da pesquisa de agosto para a da semana passada a diferença para Lula pela metade, parou. Os números agora são estáveis: 41% para o ex-presidente, 36% para o atual.
CAPITALSOCIAL
A edição da Folha não traz gráfico sobre o comportamento do voto no Sudeste, mas o pressuposto é evidente: com 43% de peso geral no eleitorado nacional, o Sudeste também vem registrando crescimento do voto em Bolsonaro. Não o fosse, a diferença geral não teria se estreitado desde maio, marco de comparações da Folha.
FOLHA DE SÃO PAULO
Comparado a outros presidentes que se reelegeram, Bolsonaro tem índices piores a um mês do pleito. Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1998, tinha aprovação de 43%; Lula em 2006%, tinha 46%; e Dilma Rousseff (PT), em 2014, ia a 36%.
CAPITALSOCIAL
Esse tipo de confronto não se sustenta nestes dias em qualquer ambiente eleitoral, mesmo em disputas municipais, com raras exceções. Os tempos são outros.
Chegaram os aparelhinhos diabólicos (para o bem e para o mal) que qualquer brasileiro carrega no bolso ou na bolsa. E os aplicativos que se somam à Internet. A Velha Imprensa já não comanda o espetáculo como antes. Nem mesmo a poderosa Rede Globo.
No mundo inteiro a aprovação relativa e o voto final foram para o beleleu. Há mais democracia informativa, mesmo com exageros que devem ser escrutinados pelos próprios usuários na maioria dos casos.
FOLHA DE SÃO PAULO
Três de cada quatro eleitores entrevistados disseram já ter decidido o voto do primeiro turno – índice estável há algum tempo e indicador de um quadro sólido para o final de campanha.
A título de comparação, a esta altura da última corrida presidencial, 45% dos eleitores declaravam que poderiam mudar de ideia até o dia da votação.
O espaço reduzido para grandes alterações vem favorecendo o petista, uma vez que Lula manteve um patamar que beira a chance de vitória em primeiro turno – algo ainda imprevisível neste ponto da corrida.
CAPITALSOCIAL
Os dados do Datafolha não dizem o que a Folha de S. Paulo afirma. A vulnerabilidade do voto é elevada, ainda. Entenda-se vulnerabilidade do voto todo voto não consistentemente garantido. E voto não consistentemente garantido, em larga proporção, é o voto resultante da opção de voto estimulado, ou seja, que se define apenas com a exibição do cartão com os nomes dos candidatos ao entrevistado.
Segundo o Datafolha, 39% dos eleitores optaram por Lula da Silva no voto espontâneo, enquanto 31% optaram por Bolsonaro. Quando se mostra o cartão, Lula sobe para 45% e Bolsonaro para 34% na disputa de primeiro turno.
No mesmo questionamento, 17% responderam que não sabem em quem votar, enquanto outros 4% votariam branco, nulo ou em nenhum dos candidatos.
O Datafolha aponta que 77% dos eleitores estão decididos sobre o voto. Essa é a soma de votos espontâneos e votos estimulados. Parece exagero considerar os dois blocos como um bloco apenas. É no intervalo entre um e outro votos que trafega a vulnerabilidade do voto. Há sim um universo de eleitores permeáveis a mudança de rota eleitoral.
Traduzindo: mesmo que assim fosse, ou seja, que 77% já tivessem decidido o voto, 86% dos quais para Lula e 83% para Bolsonaro, há um caudal de 23%, segundo o Datafolha, decididos a mudar de ideia.
Não é pouca coisa, como se observa. Sobremodo numa disputa cujos resultados preliminares detectados nas pesquisas se encaminham ao estreitamento no placar.
Portanto, não há espaço suficiente para cravar o nome mais provável que ocupará o Palácio do Planalto no ano que vem.
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