A salvação para o Santo André fugir do rebaixamento à Série B do Campeonato Brasileiro está na constatação de que há rabeiras tão rabeiras quanto o próprio Santo André. Entenda-se por rabeiras os times mais mal classificados e igualmente capengas na principal competição do País. Náutico, Santo André, Botafogo, Sport e Fluminense formam um quinteto desafinado de lascar. Se fossem pretendentes à orquestra sinfônica, o público não perdoaria e arremessaria melancias ao palco.
Na medida em que esses fantasmas submergem nas últimas colocações, mais atolam na baixa produtividade técnica e tática. São almas penadas nos gramados. O jogo entre Sport e Santo André domingo na Ilha do Retiro foi um atestado de paciência ou de resignação para quem o suportou ao vivo ou na televisão. Fica difícil acreditar que aquelas equipes escaparão da degola. Os nervos estão à flor da pele, a técnica entrou em colapso, a tática é do vai como Deus quiser e estamos conversados.
O estigma do rebaixamento abate tanto as equipes que os próprios torcedores se sentem perplexos. Jamais vi o Sport jogar diante de sua torcida como se fosse um funeral. O silêncio só foi quebrado nos dois gols. O acovardamento após o desempate, entregando o campo ofensivo ao Santo André, só não teve maiores consequências porque o adversário parecia não estar acreditando que se lhe ofereciam tanto espaço.
Seja qual for o resultado final da competição, é certo que o Santo André sofrerá rebaixamento moral, exceto se, por obra do acaso, só do acaso, desandar a ganhar os próximos jogos e, de repente, firmar-se rumo a uma das vagas da Sul-Americana. Mas, sinceramente, isso é apenas conjectura porque o futebol que a equipe anda jogando só não está condenado à Série B sem apelação porque os outros quatro concorrentes são semelhantes na ostensiva criminalidade de maltratar a bola.
Se existe Lei Maria da Penha para quem agride mulher, no futebol o jogo mal jogado poderia muito bem condenar os infratores à Lei Maria Chuteira. Ou será que as Marias Chuteiras não estão nem aí com a qualidade do jogo, mas apenas com as celebridades de ocasião?
Voltando a escrever sério, não tem essa história de que o Santo André precisava mesmo mexer no grupo de jogadores por conta das dificuldades do Campeonato Brasileiro. Exageram na dose, aprofundaram as cirurgias, transformaram uma recauchutagem simples, sem maiores riscos, numa cirurgia bariátrica, perpetrou-se intensa sessão de silicone nos seios, na face, na testa, no escambau. Conceberam um monstro de desorganização coletiva.
Não é nada agradável ler o que vou escrever, porque também não é nada agradável escrever o que estou escrevendo, mas se tivesse um bolo de apostas para definir os quatro rebaixados da temporada cravaria Fluminense, Náutico, Sport e Santo André, não necessariamente nesta ordem. Aliás, qualquer ordem não alteraria o infortúnio final.
Detesto dar palpite em futebol ou em qualquer outra atividade. Sou avesso a apontar resultado de jogos, a arriscar a cor das anáguas, tamanho de sutiã, essas coisas, porque tudo não passa de loteria e como tal enfraquece o senso analítico do qual não gosto de abrir mão. Entretanto, nesse caso do rebaixamento, não tem jeito senão apontar os prováveis degolados. E não se trata de palpite, mas de somatório de motivos ramificados em observações.
O Santo André é candidatíssimo à queda por vários motivos, como já escrevi. Não tem institucionalidade político-esportiva e social, está desgovernado tecnicamente, mal consegue se rearrumar taticamente, digladia-se num ambiente de privilégios a alguns jogadores, sobretudo Marcelinho Carioca que mistura política e futebol em hora errada, sofre com a impetuosidade do presidente Ronan Maria Pinto e assusta-se com o peso do fantasma de egresso da Série B, que ataca a auto-estima do grupo. Não se pode esquecer o que diz a estatística: metade dos times que subiram para a Série A foi devolvida à origem no ano seguinte.
Para escapar da Série B o Santo André precisaria contar com equipe bem mais organizada que as demais ameaçadas, todas mais tradicionais e com maior peso institucional. Esse é o problema, porque o Santo André provavelmente como grupo consegue ser o pior entre os cinco concorrentes às quatro valas de descenso.
Por mais que o técnico Sérgio Soares seja competente, ao que saiba não conta com passaporte à divindade. A equipe sob seu comando há três semanas emite alguns sinais de coletivismo, mas a debilidade é flagrante. Principalmente do sistema defensivo, uma passarela para os adversários deitarem e rolarem. São esporádicos e inconsistentes os momentos em que o Santo André parece uma equipe de futebol.
Mantenho a previsão de que serão necessários 45 pontos ganhos ou 40% de índice de aproveitamento para escapar da Série B, porque me fio nas edições anteriores do campeonato. Ninguém caiu até agora com 40% de produtividade e nem cairá este ano. Pode até ser que com um pouco menos se possa continuar na Série A, como o que temos agora, ao final de 26 rodadas, quando o Náutico está acima da linha de corte com 33,3% de produtividade. Mas é uma margem tênue demais. O Coritiba com 38,5% tem folga bem maior. O Atlético Paranaense também vai bem com 39,7%.
Ora, se é preciso chegar a 45 pontos ganhos ou 40% de produtividade, faltam ao Santo André 20 pontos em 36 a disputar, ou 55,5% de produtividade, marca semelhante a do Atlético Mineiro até agora na competição. Convenhamos que não é nada fácil.
Mesmo a projeção de que é possível que a pontuação dos quatro rebaixados ao final da temporada seja inferior a do ano passado e com isso a linha de corte não precise atingir 45 pontos ganhos ou 40% de produtividade, deve ser relativizada. Há pouca diferença entre os números dos quatro últimos colocados após a 26a rodada da Série A do ano passado e a Série A deste ano. O Vasco estava em 17° lugar no ano passado com 26 pontos ganhos (ou 33,3% de aproveitamento) enquanto neste ano o Santo André na mesma colocação está um pouco abaixo, com 25 pontos (ou 32,1%). Na média do ano passado os quatro últimos colocados somavam 32,37% de pontos na 26ª rodada contra 30,12% deste ano. Uma diferença irrelevante de 7%.
A má notícia para os clubes que estão frequentando o redemoinho rebaixista desta temporada é que, na mesma 26ª a rodada do ano passado, dos ocupantes dos quatro últimos postos apenas o Fluminense escapou da queda ao final da competição. Vasco, Portuguesa e Ipatinga caíram juntamente com o Figueirense, que, naquela 26ª rodada, ocupava o 15° lugar com 28 pontos, ou 35,9% de produtividade.
Quem será o Fluminense desta temporada, se Fluminense houver? Já imaginaram se for o próprio Fluminense, finalmente vencedor na rodada de domingo? Não acredito nessa possibilidade, depois da bobagem da demissão de Carlos Alberto Parreira.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André