As complicações caseiras do São Caetano na Série B do Campeonato Brasileiro podem conduzir a equipe a clássicos regionais na mesma competição no ano que vem, diante da possibilidade de o Santo André ser rebaixado da Série A.
Não cometeria o sacrilégio de mandar confeccionar ingressos para os supostos dois jogos das equipes na próxima temporada do Brasileiro da Série B. Também não incidiria no entusiasmo desregrado de sugerir que as duas equipes jogariam sim, mas pela Série A. Embora fosse mal menor, está longe das perspectivas a possibilidade de continuarem onde estão nesta temporada, porque a situação do Santo André é dramática.
Não estou entregando nem os pontos do acesso do São Caetano nem do descenso do Santo André, mas o rendimento das equipes e os números das duas competições não podem submergir à torcida regional. Estamos numa situação desagradavelmente incômoda.
Entre as três alternativas apontadas acima, fico constrangidamente com a primeira. Vamos ter clássicos regionais pelo Brasileiro da Série B, ano que vem. Qualquer resultado fora desse diagnóstico me deixaria imensamente feliz.
A derrota do São Caetano em casa para o Guarani de Campinas na noite de terça-feira foi agravada na luta pelo acesso também pelo surpreendente resultado do Figueirense contra o Vasco porque eleva para pelo menos cinco o número de concorrentes às duas vagas mais visíveis à Série A. Vasco e Guarani parecem estar com o passaporte assegurado.
Embora tenha assistido apenas ao segundo tempo do jogo com o Guarani na televisão, por conta de compromisso em São Paulo, não tenho dúvidas em afirmar que o São Caetano sofreu com as mesmas limitações do jogo igualmente importante em casa contra o Ceará: a ausência de alternativa de jogo além do passe sempre bem feito, das viradas sob medida, da previsibilidade de algumas triangulações e ultrapassagens centrais ou laterais, essas coisas bem treinadas mas que ainda não atingiram a velocidade desejada por conta de arrumação tática recente de um grupo reformulado durante a competição.
Uma situação coletiva bem melhor que a do Santo André na Série A, por exemplo, tanto que o São Caetano logo se afastou da zona de rebaixamento, onde parecia afundar, e se projetou rumo a uma agora improvável classificação entre os quatro primeiros.
A perda por contusão dos dois alas, um dos quais no desastrado jogo com o Vasco da Gama, minou o potencial de redenção do São Caetano no campeonato.
Sem Arthur e sem Everton Ribeiro, gravemente contundidos, o São Caetano perdeu mais que bons marcadores e o posicionamento defensivo: Arthur e Everton Ribeiro ocupavam também espaços estratégicos de suporte ao meio de campo e ao ataque, além de lubrificarem a engrenagem de dinamismo do restante do grupo.
Sem os dois jogadores o São Caetano tornou-se repetitivo, previsível e enfadonho na construção ofensiva. Sobretudo num Estádio Anacleto Campanella de dimensões reduzidas e de adversários mais interessados em bloquear e jogar no contragolpe.
Também pesa nessa equação de limitações técnicas e táticas do São Caetano a ausência de Antonio Carlos Zago na área técnica, por conta de suspensão de 120 dias por ter invadido o campo para comemorar um gol da equipe em cima da hora. Trata-se de exagero do tribunal da CBF. Situações análogas jamais tiveram decisões tão drásticas.
Teria sido tardia a reformulação do São Caetano, logo depois de largada sofrível no primeiro turno, quando ganhou apenas um dos 10 primeiros jogos?
A fórmula ideal para quem quer subir é montar o time o quanto antes da competição ser iniciada, mas não existe receituário que não possa ser explorado. O risco para quem protela mudanças ou para quem procede a mudanças desnecessárias sempre existe. O Grêmio de Mano Menezes foi estruturado durante a competição e subiu na Batalha dos Aflitos. O que parece pesar de fato no caso do São Caetano é o duplo golpe dos laterais-alas. É uma tremenda falta de sorte a supressão de duas peças chave do sistema tático.
Sem volantes criativos e invasivos e com dois meias — Xuxa e Eduardo Ramos — pouco ponteagudos em infiltrações, os pontas de lança representados por Arthur e Everton Ribeiro eram agudamente produtivos. O talento de Roger, lateral/ala de muita classe, está comprometido por flagrante debilidade física provocada pela descontinuidade da carga de treinamentos. Quem fica fora de alguns jogos sempre precisará de alguns jogos para recuperar a forma.
O que mais interessa nesse momento ao torcedor do São Caetano é o que será da equipe nas últimas 11 rodadas. O afastamento da zona de classificação quando se acreditava que os jogos contra o Ceará e o Guarani em casa seriam plataformas de salto na tabela é frustrante mesmo. Agora a equipe de Antonio Carlos está a seis pontos da linha de corte do acesso. Reúne 41 pontos ganhos como a Portuguesa (50,6% de aproveitamento), enquanto o Ceará conta com 47 pontos (58%) como o Atlético Goianiense. Já o Guarani com 52 pontos (64,2% de aproveitamento) e o Vasco com 55 (67,9% de aproveitamento) estão prestes a comemorar o retorno à Série A.
A matemática desafia o São Caetano a novas superações. Para atingir a meta mínima classificatória de 58% de aproveitamento ao final da disputa (nenhuma equipe precisou subir para a Série A do Brasileiro com índice maior do que esse) terá de ganhar 25 pontos em 33, ou 75,7% de aproveitamento.
É quase impossível. Talvez a vantagem ou o consolo seja a programação das rodadas que restam. Depois de desperdiçar oportunidades de superar parte dos principais concorrentes nos confrontos diretos, sobrarão equipes de menor peso na competição. É fato que Atlético Goianiense, Portuguesa e Figueirense, com as quais o São Caetano disputa uma das duas vagas que restariam na competição (além do Ceará) estão no caminho da equipe. Talvez esses novos jogos de chamados seis pontos definam mesmo as duas últimas vagas. Seria preciso o São Caetano repetir a façanha do primeiro turno, quando venceu sete jogos seguidos.
O Guarani está com um pé na Série A já que precisa somar apenas novos 14 pontos em 33 — ou 42,4% de aproveitamento — para deixar os pontepretanos irados de vez. Ganhar 42,4% dos pontos na reta de chegada da competição para quem até agora alcançou 64,2% não foge das probabilidades.
Já o Vasco com 55 pontos parece dar sinais de afrouxamento típico de quem intimamente reconhece que resgatará uma das vagas do Rio de Janeiro no próximo Brasileiro da Série A, quem sabe para amenizar a queda de pelo menos um dos rivais regionais, Fluminense ou Botafogo, ou mesmo os dois. O sonho vascaíno de superar o Corinthians, recordista de produtividade da Série B, parece desvanecer. Terá de somar 31 dos 33 pontos para superar os paulistas.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André