Administração Pública

Entenda o fracasso de 40
anos do PT em Diadema (2)

DANIEL LIMA - 27/10/2022

O modelo socialista que o PT e outros partidos de esquerda aplicaram na gestão da Prefeitura de Diadema nos últimos 40 anos (com breve interrupção cronológica, mas não efetivamente programática durante dois mandatos do conservador Lauro Michels) se mostrou retumbante fracasso no campo socioeconômico. A vaca da mobilidade social foi para o brejo do desencanto.  

Um dos 20 Maiores Municípios do Estado de São Paulo, e integrante do G-22 coordenado por CapitalSocial, Diadema apresenta a menor proporção de Classe Rica e de Classe Média Tradicional no ranking de riqueza acumulada, o PIB de Consumo. E os Pobres e Miseráveis são abundantes.  

A melhor tradução técnica para aferir o significado da constatação que se verifica no G-22 quando se coloca à mesa a proporção de classes sociais no conjunto da população (ricos, classe média, Classe C, pobres/ miseráveis) é o conceito de mobilidade social.  

MOBILIDADE SOCIAL  

Diadema de quase 500 mil habitantes tem baixíssima mobilidade social. Pobres e miseráveis têm maiores dificuldades para virarem Classe C, a Classe C pena um bocado para virar Classe Média Tradicional e os Ricos são minoria expressiva. 

Na reportagem/análise que produzi para o Grupo Estadão em 1986, quando fiz profunda anatomia de 48 meses da primeira gestão de um prefeito petista no Brasil, no caso Gilson Menezes, descortinou-se entre os entrevistados a premissa de que a Classe Média e a Classe Rica se afastariam de Diadema.  

Essa é uma das pautas da revisita às entranhas de Diadema neste começo de terceira década de novo século. Quarenta anos se passaram como um foguete e precisam ser resgatados não com o sabor do que se foi, mas do que se plantou e se colheu.  

MUITAS DERROTAS 

Os dados selecionados para essa abordagem são oficiais, de órgãos do governo federal, e fazem parte do portfólio de uma empresa que mais entende de distribuição da riqueza municipal, estadual e nacional. A Consultoria IPC, que anualmente produz o mais vasto estudo sobre potencial de consumo, espécie de PIB do Consumo.  

Diadema vai de mal a pior nesse indicador porque também vai mal em outros indicadores. Todos serão pauta nessa série. 

No ambiente estritamente regional, que considera dados dos sete municípios do Grande ABC, Diadema só supera a pequena e pobre Rio Grande da Serra quando se confrontam as massas de Classe Rica e Classe Média Tradicional.  

ESTRATOS SOCIAIS  

Como um todo, o Grande ABC conta com 3,7% de Classe Rica e 27,0% de famílias de  Classe Média Tradicional num total de 967.933 residências.  

Em números absolutos são 35.974 Ricos e 261.784 de Classe Média Tradicional. Um total, portanto, de 297.758 residências. Em Diadema a proporção de Ricos e de Classe Média em relação ao conjunto da população é de 1,8% e de 20,7%. 

Ou seja: no conjunto formado por Ricos e Classe Média Tradicional, Diadema soma participação relativa de 22,5% de famílias. A média do Grande ABC, incluindo-se Diadema, é de 30,7%.  

Há, portanto, 26,71% mais Ricos e Classe Média Tradicional na média regional. Se Diadema for retirada da conta, a média dos dois estratos sociais mais elevados da pirâmide econômica chega a 40,00%.   

MAIS CONSUMO  

A distribuição de riqueza acumulada em Diadema nesta temporada chegaria próxima ao sonho de socialistas regressivos.  

Enquanto o Grande ABC como um todo (inclusive Diadema) apresenta quadro de distribuição que coloca Ricos e Classe Média com 58,9% no total de consumo geral de R$ 98.886.814 bilhões nesta temporada, em Diadema são bem menos os afortunados dos principais patamares de mobilidade social: 48,3%. Uma superioridade média regional de 18% de vantagem. 

No conceito tradicional e deformador que despreza alternativas,  a conclusão de acadêmicos se dirigiria à lógica de que Diadema é menos desigual que outros municípios da região e que, portanto, é um modelo que converge ao acerto de gestão pública.  

A Diadema Vermelha conta com distância mais restrita de riqueza acumulada nas duas extremidades sociais. Portanto, é menos desigual. 

Será que essa interpretação rígida e de viés socialista mais avermelhado não se trataria de estupidez? Teria sustentação o argumento que embasa a teoria de que a aproximação de consumo (portanto, de estoque de riqueza) entre a extremidade menos distante da média de renda do Primeiro Mundo e a classe dos excluídos, pobres e miseráveis, é um sucesso a ser replicado?  

Como se observa, a rigidez interpretativa e filosófica de que a desigualdade social é uma praga de face única não pode ser tão rigidamente esgrimida.  

Na média do Grande ABC, o fosso que separa o consumo anual desta temporada envolvendo Ricos e Classe Média ante Pobres e Miseráveis é de 9,6 pontos percentuais.  

As duas classes do alto, formada por 297.758 residências, tem potencial de consumo de R$ 15.757.653 bilhões, ante R$ 6.305.348 bilhões do total de 670.175 mil Pobres e Miseráveis. Os demais valores seriam consumidos pela Classe C, com participação relativa de 34,7% no bolo.  

CONTRADIÇÃO  

Há evidente contradição no conceito de desigualdade social que, em resumo, pretende chegar ao paraíso de aproximar Ricos e Classe Média de Pobres e Miseráveis.  

Enquanto Diadema é um exemplo de baixíssima mobilidade social, superando apenas Rio Grande da Serra, São Caetano, de dados relativos mais contrastantes, é o sonho dourado de qualidade de vida. 

Detentora regional de maior proporção de Ricos e de Classe Média em relação ao total de domicílios (7,1% ante média regional de 3,7% e de apenas 1,8% de Diadema), a distância no critério de potencial de consumo entre as faixas mais elevadas de recursos financeiros e os Pobres e Miseráveis que envolve São Caetano é de 14,5 pontos proporcionais.  

Do total do PIB de Consumo de São Caetano desta temporada, a Classe Rica, somente a Classe Rica, ficará com 18,0%, ou R$ 1.444.782 bilhão de um total geral de R$ 8.059.469 bilhões. Já os Pobres e Miseráveis (11,5% das residências) ficarão com R$ 284.318.155 milhões, correspondente a 3,5% do valor total.  

MÉDIAS DISTINTAS  

Não custa confrontar mais uma vez a diferença entre os dois segmentos socioeconômicos na líder regional São Caetano e na quase lanterninha Diadema: os Ricos de São Caetano (7,1% do total de famílias) ficam com 18,0% do total de consumo, enquanto os Ricos de Diadema 1,8% das famílias) consomem 11,8%.  

E os Pobres e Miseráveis de São Caetano (11,5% das residências) ficam com 3,5% do consumo, enquanto em Diadema essas duas classes sociais coligadas somam 24,1% das residências e consome 10,6%.  

Quando se trata de média do PIB de Consumo por habitante, métrica que identifica o conjunto da obra de cada Município, São Caetano registra neste ano R$ 49.287,06 mil, enquanto Diadema não passa de R$ 26.830,36 mil. Nada menos que 45,56%.  

Definitivamente, o capitalismo privado no cabresto político de socialismo avermelhado de Diadema, resultado de uma multiplicidade de fatores embalados por uma visão discricionária da sociedade, não resiste ao que poderia ser chamado de modelo de capitalismo social.  

O próximo capítulo seguirá esmiuçando o PIB de Consumo do Grande ABC, sempre tendo Diadema como ponto de convergência avaliativa. Os dados vão reafirmar o fracasso de políticas públicas locais no campo econômico, com reflexos sociais evidentes.  



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