A melhor notícia do Santo André no final de semana de vitória na Série A do Campeonato Brasileiro e consequente afastamento milimétrico da zona de rebaixamento é que a megalomania diretiva está sob controle.
A propagação de conquista de uma das quatro primeiras colocações que garantem vaga à Taça Libertadores da América e, após sequência de maus resultados, o consolo de uma vaga entre os oito colocados imediatos à Copa Sul-Americana, demoraram a sair do radar do bom senso e do realismo.
Agora a ordem é fugir do rebaixamento a qualquer custo. Inclusive metafísico, já que ressuscitaram a camisa amarela dos tempos do presidente Wigand Rodrigues dos Santos, início da história do clube, quando a torcida era muito maior.
O problema do Santo André é que os investimentos foram projetados e efetivados para disputar a Taça Libertadores. Acreditava-se piamente que a equipe iria abafar na temporada, como o fizera na Série B do Campeonato Brasileiro do ano passado e no Campeonato Paulista deste ano.
Entretanto, esqueceram de combinar com os adversários. E os adversários, como se sabe, quando se trata de Série A do Campeonato Brasileiro, não são de fácil digestão.
Que o digam os dois clubes cariocas ameaçados de rebaixamento. Nada pior para o Santo André porque, infelizmente, reafirmo a desconfiança de que a Série B só tem espaço para um time grande do Rio de Janeiro, Estado que trocará o Vasco da Gama, um dos quatro que subirão nesta temporada, pelo Fluminense, praticamente nocauteado após a derrota para o Flamengo.
A ficha do Santo André demorou a cair. Às vezes me pergunto a razão. Será que os sensores estavam desligados por conta da mistura de futebol e política, com o vice-presidente Romualdo Magro e o craque Marcelinho Carioca dividindo a concentração e o empenho entre gramados e votos?
Nada contra objetivos políticos tanto de um como de outro, mas jamais na história do Santo André se projetou associação de votos e futebol. Essa combinação dificilmente dá bom resultado.
Tenho cá comigo que se Marcelinho Carioca concentrasse única e exclusivamente interesses na equipe, o desempenho sempre maiúsculo poderia ter assegurado mais alguns pontos decisivos ao Santo André. Performance sempre destacada e ausência dos gramados foram intermitentes durante a temporada.
Confesso que não vi o jogo de sábado contra o Vitória, exceto os chamados melhores momentos, mas ouvi várias fontes que me relatam que o time jogou como deveria ter jogado tantos outros jogos, ou seja, cuidando primeiro da defesa, reconhecendo-se inferior aos adversários, e contragolpeando com eficiência.
O técnico Sérgio Soares deverá encontrar ainda uma maneira inteligente de a equipe se comportar no campeonato. A dúvida é se haverá tempo à recuperação. Duvido, por conta de que há apenas cinco concorrentes ao rebaixamento. Como o Fluminense está com o pé na cova, parece longe de exagero dizer que de fato há quatro concorrentes à degola. Aposto que o Botafogo escapará.
Dirão os mais otimistas que o Flamengo também tinha tudo isso a mais que o Santo André, mas perdeu a Copa do Brasil no Maracanã para os comandados de Péricles Chamusca. Providencial o argumento. A diferença é que Copa do Brasil equivale a 100 metros rasos de mata-mata e Campeonato Brasileiro é maratona.
Aliás, não é de hoje que aposto no Botafogo por razões mais que óbvias: tem mais time, mais representatividade política, mais institucionalidade e mais camisa que o Santo André.
Estou apontando o time que fugirá do descenso sem temer olhares de reprovação. Todos sabem que não visto a armadura do politicamente correto e que, nesse caso, gostaria muito de estar enganado.
A maioria dos torcedores e dirigentes do Santo André com os quais converso tem praticamente a mesma opinião. A única diferença está no apontamento de quem escapará. O Santo André está em todas as listas de rebaixados. É um time que se desmanchou durante a competição porque a grandiloquência sufocou a prudência. Confundiu-se quantidade com qualidade. Subestimou o coletivo em favor do individual.
A reação do presidente Ronan Maria Pinto na última semana é sintomática da gravidade da situação e por isso mesmo carrega valor intrínseco. Primeiro, porque o apeia de vez do cavalo do exagero a idealização de Libertadores e Sul-Americana. Segundo, porque exterioriza o que tem de melhor como presidente do clube — o sentido motivacional. Terceiro, porque o grupo de jogadores estava precisando mesmo de um puxão de orelhas, embora o formato público, em manchete de jornal, não seja o mais recomendável num regime empresarial. Quarto, porque nestas alturas do campeonato, o dirigente não tem mais nada a perder. A vaca da Série A está indo para o brejo e nada mais razoável que tentar salvar a companhia. Ou, quem sabe, retirar das costas diretivas o maior peso dos desencontros.
Se o resultado de sábado diante do Vitória parecia levar o Santo André a um final de semana feliz, tudo complicou nos jogos de domingo com a surpreendente conquista de três pontos do Botafogo em Goiás e o empate do Sport em Porto Alegre. Estar momentaneamente fora da zona de rebaixamento é importante. A pressão psicológica é sempre um inferno a ser administrado. Mas ainda é pouco quando se observa as próximas rodadas.
A troca de camisa, o impacto das declarações do presidente Ronan Maria Pinto e as cartinhas encaminhadas aos jogadores por meninos e meninas carentes de uma entidade assistencial de Santo André são peças de um mesmo tabuleiro emocional, assim como outras iniciativas não reveladas. Ah, teve também desfile de adolescentes por vários pontos geográficos de Santo André. Uma pena que menos de duas mil pessoas insistiram em acompanhar o jogo no Estádio Bruno Daniel. Imaginar que o Santo André recuperará a torcida num passe de mágica é acreditar que basta bater três vezes na madeira e gritar campeão para revirar a tabela de ponta cabeça.
Mesmo assim, acho que o Santo André poderia apelar ainda mais para o emocional nas rodadas que faltam ao convocar a sociedade local a comparecer ao Estádio Bruno Daniel, jogando com a importância de permanecer na Série A. Sei que a iniciativa poderá não derreter a camada de gelo de desinteresse de uma maioria assustadora que não está nem aí com a sorte da equipe, mas se o apelo envolver cidadania municipal, quem sabe um punhado de gente resolva sair do armário da apatia.
O Santo André não pode jogar a toalha jamais, mas também já deu mostras contábeis de que se excedeu além da conta nos investimentos. Há déficit orçamentário que só será atenuado se a equipe não for rebaixada. Mesmo assim, mesmo com eventual manutenção na Série A, será um desastre porque o custo-benefício poderá comprometer a próxima temporada.
Não é sensato dizer que qualquer custo é válido para sustentar um time na Série A, porque o conceito ensejaria liberalidade excessiva no planejamento financeiro, em conflito com as fontes de receitas.
Nenhuma equipe sofre o peso do rebaixamento por acaso. Assim como subdesenvolvimento, rebaixamento é sucessão de equívocos.
Os times médios que se perdem numa temporada costumam cair na mesma temporada ou numa das temporadas seguintes, porque o acúmulo de complicações drena a resistência.
Já os times grandes que aprendem com as dores da queda concretizada ou da ameaça da queda iminente, como Corinthians, Internacional, Flamengo, Palmeiras e tantos outros, acabam fortalecidos.
Faltou ao Santo André humildade para gerenciar com equilíbrio a participação na Série A, por isso corre o risco de ser um time temporão na principal competição do futebol do País. As próximas 11 rodadas vão decidir a sorte. O inimigo é o Botafogo do Rio.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André