Vamos ao que interessa, depois da rodada do final de semana da Série A e da Série B do Campeonato Brasileiro: embora a apenas três pontos da marca de salvamento, o Santo André tem muito menos condições gerais para escapar da degola do que o São Caetano de chegar à Série A, apesar de estar seis pontos abaixo do quarto colocado da Série B. Faltam em cada uma das duas competições oito rodadas ou 21% dos pontos da temporada. Como se observa, escasseia terrivelmente espaço para reviravoltas.
Ao Santo André faltam equilíbrio tático e virtudes técnicas para fugir do rebaixamento iminente.
Ao São Caetano faltou nos momentos decisivos, contra as equipes que estão à frente na classificação, uma azeitada mais forte do conjunto adquirido na competição após a contratação de reforços.
O Santo André teve uma capacidade insuperável de desmanchar o que vinha dando certo, porque o pecado da soberba o atingiu diretivamente. As jornadas na Série B moldaram o Avaí e o Barueri, clubes com os quais o Santo André pode ser comparado, clube com os quais, aliás, disputou a competição no ano passado e os superou na classificação final.
O São Caetano encontrou forças, bom senso e competência para reestruturar-se durante a competição deste ano. Seria demais esperar que após péssima largada, quando inclusive frequentou insistentemente a zona de rebaixamento, chegasse entre os quatro. Ainda há esperanças, é verdade, mas provavelmente não passará disso.
É mais que provável que Santo André e São Caetano façam clássicos na Série B do ano que vem. Quem disser o contrário é discípulo de Pangloss, de otimismo incurável.
Apenas para reforçar os conceitos: o grande fosso entre o Santo André e o São Caetano nesta temporada do Brasileiro é que o Ramalhão se desmanchou a cada rodada com uma carga pesadíssima de erros crassos, enquanto o São Caetano saiu das trevas de um descenso cantado em verso e prosa e, recuperando fôlego a cada rodada, ainda que tenuamente flerta com o acesso.
Está tão fácil e escancarada para um a queda quanto está complicado e quase impossível para outro o acesso.
Enquanto ao Santo André resta praticamente a disputa com o Botafogo do Rio para fugir da queda (sem contar que o Náutico e o Sport chegam para tumultuar ainda mais a situação), para o São Caetano há três candidatos (Figueirense, Atlético Goianiense e Portuguesa de Desportos) à única vaga ao acesso.
Pensando bem, as duas equipes estão, nesse caso, em situação semelhante: disputam com outras três o direito de manter-se na Série A (no caso do Santo André) ou de chegar à Série A (no caso do São Caetano).
Vi pela televisão os jogos do São Caetano e do Santo André no final de semana.
O São Caetano voltou a mostrar que possivelmente não terá grandes dificuldades de, nas oito rodadas que restam, somar pontos suficientes para ficar pelo menos entre os seis primeiros colocados. É claro que o quinto e o sexto lugares não adiantarão nada, exceto a prova da recuperação.
Se repetir os pontos conquistados nas oito últimas rodadas do primeiro turno contra os adversários que virão, com mando de jogo invertido, poderá inclusive aproximar-se para valer da última vaga. É bom lembrar que naqueles oito jogos o São Caetano confirmou a arrancada que o retirou da zona de rebaixamento e o levou às margens do acesso. Arrancada que começou um jogo antes, contra o ABC. O mesmo ABC derrotado sexta-feira. Se repetir a tabela, o São Caetano chegaria a 55% de aproveitamento. O projetado para garantir o acesso são 58%.
Não tivesse perdido os dois alas (Arthur e Éverton Ribeiro) nos jogos mais importantes do segundo turno, contra as equipes que o superam na classificação, o São Caetano possivelmente teria acumulado pontos para estar na briga do acesso com uma dose maior de realismo.
Também fez falta um jogador que não consta do elenco: um ponta de lança com fome de gol, para aproximar-se mais constantemente do centroavante Washington. A suspensão do técnico Antonio Carlos Zago também pesou um bocado. Ele exerce importante liderança à beira do gramado. Embora ainda não consiga manter-se estável durante todo o jogo, o São Caetano está longe do time desajustado do primeiro turno.
Já o Santo André que a TV mostrou contra o Atlético Paranaense está a caminho de certa arrumação tática, depois da chegada de Sérgio Soares. Entretanto, o peso das mudanças constantes, com o desembarque de jogadores que demoram a adquirir ritmo desejado, e o desespero provocado pela frequência com que está na zona do rebaixamento, intranquilizam tremendamente.
O Santo André que fez da paciência a arma letal na Série B do ano passado e na Série A do Campeonato Paulista deste ano está preso à urgência de vencer. Por isso, sofre enxurradas de contragolpes e ataca sem criatividade. Insiste em jogadas repetitivas com jogadores sem confiança.
Chegou o Santo André ao ponto de exigir dos críticos certos cuidados com sentenças definitivas. O precário sentido de grupo torna cada jogador vítima preferencial dos desajustes. Quando uma equipe está organizada, as individualidades costumam ser melhores do que de fato o são, porque a força do conjunto agrega valor. Quando falta coletivismo, as individualidades rendem muito menos do que de fato podem render. Também é assim na vida corporativa, nas famílias, nas entidades.
Ninguém faz sucesso sozinho, como reforça o livro lançado ainda outro dia pelo dono da Jovem Pan, Antonio Augusto Amaral de Carvalho.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André