Esportes

Sinistralidade em alta

DANIEL LIMA - 29/10/2009

Aumentou o risco de sinistralidade do Santo André na Série A do Campeonato Brasileiro. Fosse um veículo, o Santo André seria um dos modelos mais procurados por quem vive de furtos e roubos. E, portanto, a apólice de seguros ficaria bem mais salgada.

Numa casa de apostas, se casas de apostam existissem no Brasil, como as casas de apostas de Londres, o Santo André estaria entre os degoláveis da vez. E significaria altíssimo prêmio a quem apostasse permanência na Série A do próximo ano.

Quem estaria disposto a bancar a escapadela do Santo André da Série B do Brasileiro do ano que vem depois da noite de quarta-feira?

Perder para o Cruzeiro não deveria provocar nenhum trauma. Primeiro porque o jogo foi no Mineirão, segundo porque o Cruzeiro tem mais time que a maioria dos adversários, e terceiro porque o Santo André não anda lá das pernas.

O problema é que o Santo André perdeu quando estava com o jogo ganho, embora pudesse ter virado o primeiro tempo em imensa desvantagem.

Trocando em miúdos: O Santo André estava vencendo o jogo mais perdido da temporada e acabou perdendo os três pontos mais escancarados dessa mesma temporada.

O Santo André deixou que a canoa virasse quando tudo indicava que o Cruzeiro fazia água.

O gol de Júnior Dutra parecia repetir sobre o Cruzeiro os efeitos do segundo gol do Estudiantes na final da Copa Libertadores da América, também no Mineirão. Igualmente de virada. O Cruzeiro ficou atordoado, entregue à própria sorte. Mas o Santo André não aproveitou, deu tempo para o adversário arranjar-se emocionalmente. O desenlace não poderia ser outro. Restou o choro inútil e exagerado dos perdedores, de reclamar da arbitragem irregularidade no terceiro gol dos mineiros.

Estou ainda mais convicto de que o Botafogo do Rio vai escapar da degola. O jogo com o Náutico e a derrota para o Flamengo no final de semana são sintomáticos. Foram dois pênaltis assinalados em circunstâncias mais que duvidosas. Contra o Flamengo foi um escândalo, já que o centroavante André Lima atirou-se ao solo, fingindo contato com um zagueiro adversário. Contra o Náutico a cena foi igualmente cinematográfica.

O Botafogo só não será apeado da Série A se errar demais. Como é um time do mesmo nível ou um pouco mais apetrechado que os demais ameaçados de descenso, o fator político-institucional deve fazer a diferença. É tão pouco provável que dois times cariocas caiam na mesma temporada quanto sugerir que o Santo André, o mais frágil em institucionalidade entre os ameaçados de rebaixamento, terá alguma dose de colaboração das arbitragens. Já deveria erguer mãos aos céus por não estar sendo prejudicado. E não pensem que estou lançando desconfiança sobre as arbitragens dos jogos dos rebaixáveis. O ambiente de cada jogo e o entorno histórico também determinam a construção de resultado — que muitas vezes deriva de pressão à arbitragem.

Que a proteção ao Botafogo não sirva de desculpa ao Santo André. Até porque, pelo andar da carruagem, o time de Sérgio Soares possivelmente nem poderá reclamar de benesses aos cariocas, já que está ameaçadíssimo de ficar abaixo do Náutico e do Sport na classificação.

Na hora de a onça da personalidade coletiva beber a água da autosustentação técnica e tática, como foram os últimos 20 minutos do jogo com o Cruzeiro, o que se viu foi a lambança de amedrontamento. A defesa e o meio de campo do Santo André enfiaram-se sob a saia territorial do goleiro Neneca. Sobrou espaço para o Cruzeiro fazer ainda melhor o que já faz normalmente: a exploração lateral do campo em velocidade, em passes rápidos, em triangulações, com cruzamentos e viradas de jogo permanentes. Quem oferece espaço para o Cruzeiro jogar, fica fora do jogo.

Não consto da relação de jornalistas que procuram individualizar bode expiatório nos maus resultados, mas as últimas atuações de Marcelinho Carioca fogem ao padrão imediatamente anterior no Santo André.

Marcelinho já não tem idade nem fôlego para brilhar o tempo todo, como tantos outros veteranos que desfilam pelos gramados do Brasileiro. Entretanto, é indiscutível a queda de produção. Sei lá se está desconcentrado por conta de ambições políticas, mas que não consegue ser importante para o Santo André como Paulo Bayer é para o Atlético Paranaense, Marcelinho Paraíba para o Coritiba e Carlinhos Bala para o Náutico, só para citar algumas celebridades dos gramados, isso é inegável. Talvez sinta também individualmente a debilidade do conjunto.

Embora acredite que além de veículo visadíssimo pelos malfeitores do rebaixamento acuse complicações que o levam ao acostamento da competitividade, o Santo André não pode jamais jogar a toalha.

O jogo com o Grêmio é oportunidade de ouro para recuperar-se do amedrontamento tático do Mineirão e, com isso, voltar à disputa em condições semelhantes à dos demais ameaçados.

Sinceramente não acredito em milagres, mas como está nas páginas de jornais e revistas uma candidata a santa que viveu em Santo André, quem sabe não valeria a pena uma esticadinha adicional de fé. Até porque fé não tem limites.


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