Política

Petista Leandro Petrin pode
ser sucessor de Paulinho Serra

DANIEL LIMA - 06/04/2023

O advogado Leandro Petrin, petista de origem, é o novo integrante da lista de potencial candidato do Paço Municipal nas eleições do ano que vem, em substituição a Paulinho Serra. Leandro Petrin integra a cúpula da Prefeitura de Santo André desde o primeiro dia de mandatos de Paulinho Serra. Antes formalmente, depois informalmente. 

Trata-se de um profissional ligado ao Direito Público e especialista em Direito Eleitoral. Possivelmente irá colocar em prática o cargo de chefe do Executivo de um Município em que a oposição evaporou. No caso, a oposição é o Partido dos Trabalhadores.  

A indicação ainda sufocada de Leandro Petrin tem tudo para se converter em realidade, mas não se deve descartar contraponto relevante quando se trata do poder hegemônico do grupo de Paulinho Serra.  

DIVIDIR E CONTROLAR  

Trata-se do seguinte: há estímulos concretos e também disfarçados de apoio a tantos concorrentes ao posto de futuro prefeito de Santo André a ponto de se especular que a iniciativa tem um fundo maquiavélico. Esse fundo está fundamentado na ideia central de que quanto mais potenciais candidatos apoiados pelo Paço Municipal, menos poder terá o futuro prefeito apoiado pelo Paço Municipal.  

Menos poder, claro, no conjunto da obra dos articuladores da sucessão de Paulinho Serra. Eles, os articuladores, vão continuar no comando da Prefeitura porque a soma das partes dos poderes que detêm é maior que a parte que compete ao prefeito propriamente dito.  

PEÇA-CHAVE 

Leandro Petrin é considerado aquela peça que junta todas as peças da engrenagem do governo municipal de Santo André. Haveria poucas possibilidade de causar ruídos numa transposição supostamente problemática.  

Leandro Petrin teria conseguido saltar vários passos à frente entre os concorrentes da situação ao Paço Municipal.  

Haveria consenso de que preencheria mais espaços no tabuleiro de competências do que qualquer outro concorrente. Mais que isso: suas relações com a cúpula regional do PT são tão sólidas que o plano de intersecção eleitoral de Santo André e São Bernardo, para desalojar o grupo de Orlando Morando do poder, seria facilitado. 

PLANO DE VOO 

Se ainda é muito cedo para levar a sério pesquisas eleitorais que já despontam na região, com precários números vulneráveis ao tempo, no campo da construção de candidaturas a situação é diferente.  

Já está mais que na hora de interlocuções que levem em conta o voto eletrônico. Preferencialmente, no caso do grupo que controla a Prefeitura de Santo André, também de olho na sucessão de Orlando Morando em São Bernardo. O mesmo Orlando Morando que é considerado inimigo número um do grupo de Paulinho Serra.  

Quando se junta a fome de uma vitória mais que garantida em Santo André com a vontade de corroer os poderes de Orlando Morando pelas bordas, o nome de Leandro Petrin ganha destaque.  

RELAÇÃO DE CONFIANÇA  

A iniciativa demonstraria o que poderia ser chamado de confiança de que as relações entre tucanos, petistas e outras agremiações que ocupam o Paço Municipal de Santo André serão preservados. Ou terão continuidade. E que a projeção de estender poderes à vizinhança mais rica e poderosa, caso de São Bernardo, tem peso preponderante na equação. 

Traduzindo tudo isso: o grupo de Paulinho Serra em Santo André estendeu uma rede de atração que visa desembarcar em São Bernardo a partir de janeiro de 2025. A regionalidade eleitoral é mais instigante que a regionalidade institucional.  

Dessa rede faz parte o deputado federal Alex Manente, do Cidadania, de domicilio eleitoral em São Bernardo e até agora um eterno pretendente a dirigir a Capital Econômica do Grande ABC.  

MANENTE PRESENTE  

Manente estaria na jornada eleitoral em São Bernardo juntamente com o deputado estadual petista Luiz Fernando Teixeira, concorrendo em raias separadas no primeiro turno e na mesma raia de coalizão no segundo turno. Resta saber quem vão enfrentar.  

O ex-vice-prefeito e também deputado federal Marcelo Lima é o mais forte concorrente do Paço, mas não está fora de cogitação outra escolha. O certo é que, como Paulinho Serra em Santo André, Orlando Morando encerrará um segundo mandato regulamentar e não poderá concorrer.  

A vitória do candidato do Paço de Santo André é considerada tão certa que nem mesmo eventuais crises poderiam alterar o rumo dos acontecimentos. A barbeiragem provocada e em curso motivada pelo projeto de lei de privatização da morte está ganhando corpo no Legislativo, que convidou o prefeito a prestar esclarecimentos.  

PROTESTO DOS MORTOS  

A ausência de adversários em Santo André é citada como algo tão fragorosamente alarmante. Não faltam brincadeiras, mesmo de mau gosto, relacionadas à privatização pretendida dos quatro cemitérios e de todo o entorno do sistema municipal funerário de Santo André.  

Dizem alguns vereadores que nem mesmo se os mortos saírem às ruas em protesto contra a privatização obscura enviada ao Legislativo haveria impacto suficiente para mudar o destino majoritário dos votos em Santo André à candidatura do Paço Municipal.  

É até possível que o PT lance algum candidato à Prefeitura de Santo André no próximo ano, mas nada aparentemente com fome e, mais que isso, demanda suficiente de votos que chegue sequer à metade do alcançado pelo presidente Lula da Silva nas últimas eleições.  

NACIONAL E MUNICIPAL  

Lula da Silva registrou 46% dos votos válidos contra Jair Bolsonaro em Santo André e superou o adversário, na região, por 55% a 46%.   

O resultado obtido por Lula da Silva em Santo André revela a resistência do ex-metalúrgico num Município menos industrializado e menos sindicalista que São Bernardo. 

A votação de Lula da Silva em Santo André seria mais um produto de um ambiente nacional transposto para os municípios. Nada que tenha parentesco com uma disputa essencialmente municipalista, na qual o PT apanhou feio nas eleições de 2020. A candidata Beth Siraque não chegou a dois dígitos de votos. Um vexame.  

CELSO DANIEL  

O que está na origem da projeção de que o PT de Santo André não faz cócegas em disputas eleitorais locais é que os rescaldos de Celso Daniel, o grande líder do partido nos anos 1990, seguem devastadores.  

Na medida em que o tempo passa mais o PT de Santo André sofre as consequências de uma dupla carga demolidora de votos: a morte de Celso Daniel e os escândalos do partido durante o governo Lula da Silva (Mensalão e Petrolão, entre outros), além do impeachment de Dilma Rousseff. Ou seja: a viuvez municipal se soma à vergonha nacional.  

O PT de Santo André, menos trabalhista que o PT de São Bernardo, Diadema e Mauá, não resistiu às tragédias.  A votação expressiva de Lula da Silva em Santo André é um paradoxo: ao mesmo tempo em que dá a impressão de que haveria luz no fim do túnel de avareza de votação a um candidato municipal, também transmite a sensação de que internamente o PT jogou a toalha eleitoral.  

Teria preferido virar um puxadinho dos tucanos e, agora, participar de um jogo jogado com olhos em outro Município. 

SEM MUDANÇA  

Não há quem aposte em mudança de rota do PT em Santo André entre outras razões porque a cúpula nacional do partido já analisa com máxima atenção as localidades nas quais se preocupará com a competitividade de concorrentes próprios às prefeituras e outras nas quais aliados teriam prioridade na indicação de candidatos.  

No caso específico de Santo André e de São Bernardo, a equação é mesmo combinada, associada, compartilhada, ou seja, tudo que indique cooperação.  

Quanto menos custar a disputa eleitoral em Santo André, mais será investido em São Bernardo. São Caetano não está no radar nem direta nem indiretamente, ou seja, com PT ou partido coligado. O PT está para São Caetano assim como a corda para o pescoço nos filmes de faroeste.



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