Vencer o Grêmio mas terminar a rodada da Série A do Campeonato Brasileiro com sorriso amarelo porque não obteve a recompensa classificatória — eis um final de semana distante do ideal para o Santo André. Dificilmente alguém teria acertado os resultados conjugados das equipes que estão na zona de rebaixamento.
É claro que o resultado do Santo André foi tão importante quanto justo, mas estamos falando de reta de chegada, de rebaixamento, de tudo que de fato pesa na balança da temporada — e é nessas horas que vai bem uma boa dose de sorte.
E o Santo André não contou com a sorte. A vitória do Botafogo em Porto Alegre, do Fluminense no Mineirão e do Náutico no clássico do Estádio dos Aflitos contra o Sport foram tudo que não poderia acontecer.
Querem os leitores que torcem pela permanência do Santo André na Série A mais uma justificativa para entenderem que o final de semana foi complicado? Pois também é um mau negócio a troca do Fluminense pelo Sport na lanterninha na competição. Embora o Botafogo seja mesmo o concorrente que deve se livrar da degola, o Fluminense entra na parada para acentuar a fragilidade institucional do Santo André. Apenas um carioca cairá, provavelmente o heróico Fluminense, mas até que a extrema unção seja dada, pode ajudar a entornar ainda mais o caldo do Santo André.
O time de Sérgio Soares caminha para ampla e irrestrita queda à Série B, mas ao que tudo indica o fará de forma honrada, sem entregar a rapadura. Os resultados contra Palmeiras e Grêmio são indicativos disso, mas não resisto a lamentar novamente os exageros defensivos contra o Cruzeiro no Mineirão.
O Fluminense não precisou de mais que três dias para, em situação muito mais adversa, mostrar que camisa e institucionalidade podem fazer a diferença. Fez com o Cruzeiro o que se apresentou de forma muito mais palpável ao Santo André. Teve aquela personalidade tática e técnica que emerge da história. Faltou ao Santo André contra o Cruzeiro o rompimento do Complexo de Gata Borralheira que calou o Maracanã naquele final de junho de 2004 de decisão da Copa do Brasil.
Sei lá quantos por cento os estatísticos que frequentam sites esportivos e programação de televisão atribuem à possibilidade de queda do Santo André à Série B.
Só sei que, como insinuei ainda outro dia, não confio muito nos números de Oswald de Souza e de Tristão Garcia. Eles são voláteis demais, saltitantes demais. A cada rodada a numerologia ganha novas formas. Como estou acostumado com pesquisas eleitorais, muito mais moderadas, mais sensatas, muito mais graduais, fico de orelha em pé.
Será que tanto um quanto outro estudioso não estaria forçando a barra com metodologias malucas voltadas à audiência? Se alguém se meter a fazer um estudo minucioso do andar da carruagem dos números que os professores desfilam ao final de cada rodada, inquietudes não faltarão.
Ainda outro dia Tristão Garcia escreveu que 48 pontos seriam indispensáveis à fuga do rebaixamento. Logo em seguida baixou para 47. Agora dizem que chegou aos 45 pontos que apontei faz muito tempo sem volatilidade, sem saltos, sem idas e vindas. Apenas guiado por dados históricos, que cabem perfeitamente na lógica matemática, se lógica matemática for a expressão mais adequada para explicar o índice de aproveitamento indispensável para ganhar título, classificar-se à Libertadores, garantir uma vaga na Sul-Americana e fugir do rebaixamento.
Tudo absolutamente previsível por conta de experiências da própria competição.
O que sei mesmo e já cansei de escrever, porque fui aos meandros classificatórios de todas as edições anteriores, é que está cada vez mais consolidada a projeção de que bastam 39,5% (tenho arredondado para 40%, porque significam 45 pontos ganhos) de aproveitamento para fugir do rebaixamento. Qualquer time que entre numa disputa do Brasileiro, seja da Série A, seja da Série B, tem que projetar um mínimo de 39,6% de produtividade para não ser assaltado pela queda. Já para garantir o título com folga o mínimo necessário é de 68% de aproveitamento.
Para chegar a 45 pontos ganhos o Santo André precisará somar 10 dos 15 dos cinco jogos que restam. Como o Náutico. O Fluminense precisa de 12 dos 15 pontos e o Botafogo de apenas sete. Atlético Paranaense e Coritiba já estão praticamente fora desse barco que aderna. É possível sim que com menos de 45 pontos em 114 disputados se escape do rebaixamento, mas aí entra em jogo série de ponderações e, principalmente, a expectativa até a última rodada. Garantia mesmo são 45 pontos ganhos, e estamos conversados.
Com três jogos fora — Corinthians, Goiás e Internacional — e dois em casa — Avaí e Náutico — a situação está pra lá de estressante ao Santo André. Ainda mais que agora disputa a última vaga para fugir da queda com Botafogo, Náutico e Fluminense. O consolo é que dá sinais de que estabilizou o processo de recuperação. Isso significa que o time de Sérgio Soares já não oscila para baixo, já não é um avião em queda livre.
Tudo certo não fosse a situação em que o Santo André se encontra na classificação, exigindo-lhe arremetida forte. Algo que a equipe ainda não sinalizou. Ganhar 10 pontos em 15 significa conquistar 66,6% dos pontos a disputar até o final da competição e, com isso, alcançar 39,5% de produtividade geral. Uma tarefa nada fácil porque até agora, em 33 jogos, registrou 35,35% de produtividade.
Qualquer um dos degoláveis só escapará do rebaixamento, exceto o Botafogo, se alcançar nos cinco jogos finais números que estariam acima da produtividade que São Paulo e Palmeiras contabilizaram até agora, com 58,5% de rendimento. Ou seja: futebol de candidatíssimo ao título. O Botafogo só precisa de 46,6% para respirar aliviado ao final da última rodada.
Nada é impossível, porque são vários os casos de equipes que nos chamados tiros curtos, de série de cinco jogos ou mais alguns, registram índices de rendimento espetaculares. Mas são raríssimos os casos de tamanha superação em reta de chegada, quando os nervos gerais estão à flor da pele e vagas para diferentes competições escancaram-se matematicamente.
Ao Santo André não resta saída senão derrotar o Corinthians domingo no Pacaembu para baixar a taxa de exigência de rendimento para 58% nos quatro jogos finais. Viram como a fuga do rebaixamento seria heróica? Tanto quanto para o Fluminense como para o Náutico. Três pontos de dianteira a cinco rodadas do final fazem muita diferença.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André