Esportes

Sobrenatural de Almeida

DANIEL LIMA - 12/11/2009

Não é porque o Santo André está com a alma encomendada e a caminho do purgatório que deva entregar a rapadura antes que as ínfimas possibilidades matemáticas evaporem.

O rebaixamento do Santo André à Série B do Campeonato Brasileiro é uma crônica esportiva anunciada, mas o imponderável não pode ser descartado jamais.

Ganhar os quatro jogos é a única saída e isso tem significado assustador. Já no final de semana contra o Goiás no Serra Dourada o Santo André poderá dar adeus ao experimento mais fantástico em quatro décadas de futebol, ou seja, atuar durante tantos meses na principal vitrine esportiva do País.

Muito ainda haverá de ser escrito e discutido sobre a atuação do Santo André nesta temporada. Neste momento, as possibilidades de seguir na Série A rivalizam-se com a recuperação da imagem da Uniban diante das feministas após o ruinoso caso daquela loira postiça de pernas grossas. Quem achar a comparação forte certamente desconhece a gana das mulheres que não abrem mão de defender as mulheres em quaisquer circunstâncias ou então não pesquisou a classificação do campeonato.

Esse deve ser o ponto de partida para qualquer tipo de estratégia que o Santo André adotar neste final de competição.

Suavizar a situação é utilizar a arma da dissimulação que não conduzirá a resultado positivo algum. Jogadores, comissão técnica e dirigentes devem encarar o quadro de emergência a ser superado.

Parece que foi assim que o Fluminense partiu para uma reviravolta da qual continuo a duvidar que alcance o objetivo libertador. Mas ninguém jamais poderá contestar a recuperação do Fluminense como prova viva de dignidade e determinação de um grupo de profissionais.

O que quero dizer é que o Santo André não pode jogar a toalha, como parece que jogou domingo contra o Corinthians, notadamente após o segundo gol.

Pior que o rebaixamento é o rebaixamento sem luta, sem fé, sem determinação.

Este não é o momento apropriado para incursões por outras áreas do Santo André, as quais poderiam facilmente explicar os resultados em campo.

Não seria este jornalista o responsável pela instauração de um ambiente de mal-estar permanente por conta da realidade na tábua de classificação.

Independentemente do resultado final da competição, sei bem o que pretendo fazer como profissional que tem a obrigação de informar. O Santo André do futuro com que todos sonham não será melhor ou pior se a equipe estiver na Série A ou Série B do Campeonato Brasileiro. Será simplesmente o Santo André diferente do passado de romantismo esportivo e do Santo André do presente de gulodice empresarial.

Futebol é algo tão contraditório que os cases de sucesso e de fracasso se misturam. Pequenos detalhes fazem a diferença entre um modelo vitorioso e um modelo perdedor, mas também em outras situações não fazem diferença alguma.

A fórmula do triunfo de hoje pode ganhar roupagem diferente e constrangedora amanhã. As circunstâncias costumam mudar os rumos dos acontecimentos.

Um grande dirigente esportivo num ano pode ser a bola da vez de críticas no ano seguinte. Um técnico badalado hoje pode estar numa nau à deriva logo em seguida.

O mundo da bola é muito mais travesso que qualquer outro mundo.

Telê Santana entrou para a história do São Paulo bicampeão mundial nos anos 1990 depois de chegar ao Morumbi com a pecha de pé-frio na Seleção Brasileira. Tantos outros exemplos poderiam ser rebocados. Em contraposição, Oswaldo de Oliveira, um técnico apenas bem educado com a Imprensa, ganhou o Mundial de Clubes com o Corinthians na esteira do planejamento e das obras técnico-táticas de Vanderlei Luxemburgo.

O que quero dizer com isso é que não existem verdades absolutas no futebol. O Sobrenatural de Almeida tem sua porção de participação que costuma mudar tudo.

É do Sobrenatural de Almeida que o Santo André precisa nesta reta de chegada, mas a impressão é que também nessa corrida o Ramalhão chegou atrasado, porque essa alma gestada pelo gênio de Nelson Rodrigues em crônicas antológicas já tomou o corpo do Fluminense, clube de coração do cronista carioca.


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