Respirando por avariados aparelhos matemáticos, Santo André e Náutico se enfrentam neste final de semana para assinar o atestado de óbito na Série A do Campeonato Brasileiro. E o Fluminense, caçapa cantada de rebaixamento por todos os cronistas com um mínimo de juízo, está aí dependente das próprias forças para seguir na principal vitrine do nosso futebol. Quem disse que o Sobrenatural de Almeida do tricolino Nelson Rodrigues não reapareceria no mundo da bola?
A campanha do Fluminense nesta reta final confirma a única possibilidade de mudança significativa na competição, situação vivenciada no passado pelo Flamengo e pelo Goiás, que escaparam da queda com arrancadas espetaculares na reta de chegada, que também poderia ser reta de partida, e do São Paulo, que chegou ao título do ano passado depois de descartado pela maioria dos analistas.
Duvido que equipes sem institucionalidade consigam registrar feitos memoráveis semelhantes porque é nessas horas que o conjunto formado por tradição, torcida, bastidores e, principalmente, confiança do elenco, faz a diferença. É até possível que o Fluminense não escape da degola, o que seria uma pena. O time carioca oferece emocionante lição reabilitadora não só no campo esportivo, mas também ao cotidiano de quem sempre busca exemplos de superação.
Talvez o Fluminense ainda tenha de pagar o preço da estupidez de ter demitido o técnico Carlos Alberto Parreira, por conta de arrogância de considerar-se humilhado por perder em casa para o Santo André. A mesma arrogância que o time do Grande ABC desfilou na competição e, por isso mesmo, está às portas da Série B.
Sim, o Fluminense não admitiu a derrota em casa para o Santo André, um time sem tradição na competição, um time da periferia da Capital paulista — essas coisas que pesam subjetivamente na interpretação de um resultado. No caso do Santo André, a empáfia de propagar até recentemente que pretendia mesmo uma vaga na Libertadores da América criou um mundo imaginário do qual só se deu conta quando a vaca já estava irremediavelmente no brejo.
A goleada do Santo André sobre o Avaí é assunto sobre o qual não posso emitir qualquer juízo de valor técnico e tático. Estava grudado na telinha, acompanhando a vitória do Botafogo contra o São Paulo. Logo depois assisti ao apressado Flamengo diante de um Goiás retemperado que, se repetir a dose contra os sãopaulinos, domingo, levará a decisão da competição para a rodada final. Uma combinação nada exótica de resultados no final de semana colocaria São Paulo, Flamengo, Internacional e Palmeiras com 62 pontos. Com vantagem para o Internacional, com mais vitórias e mais saldo de gols.
A imagem de respirar por aparelhos não tem porção catastrófica. A rodada do final de semana não foi nada generosa com o Santo André e o Náutico, já que tanto o Fluminense quanto o Botafogo venceram. Reta de chegada é assim mesmo. Nem sempre o melhor é apenas vencer. É preciso vencer e esperar que os concorrentes diretos tropecem.
A novidade na zona de influência do descenso é que os dois times paranaenses entraram no eixo de turbulência, com 44 pontos ganhos cada um, como o Botafogo, dois pontos apenas à frente do Fluminense. Ao que tudo indica, ficará para a rodada final, principalmente no envolvente Coritiba versus Fluminense e Botafogo versus Palmeiras a definição do último dos moicanos do rebaixamento. Estou começando a desconfiar que os cariocas podem se salvar por completo.
Uma análise da Série A do Campeonato Brasileiro desde a implantação do regime de pontos corridos conclui que esta é a versão de maior estreitamento da diferença de produtividade dos times que ocupam os quatro primeiros lugares na classificação e dos quatro da zona de rebaixamento.
São Paulo, Flamengo, Internacional e Palmeiras totalizam 241 pontos ganhos após 36 rodadas, contra 149 pontos de Fluminense, Santo André, Náutico e Sport. O índice de produtividade dos quatro primeiros é apenas 38,17% superior ao dos quatro últimos. Nas edições anteriores a diferença sempre foi superior a 42% e chegou até mesmo a 48%.
O que isso significa? Significa que os primeiros colocados jamais foram tão pouco produtivos. Já os quatro últimos não são assim tão resistentes porque em outras temporadas a soma de pontos dos integrantes da zona do rebaixamento após 36 rodadas não era muito diferente da deste ano. Em alguns casos, a soma de pontos dos lanterninhas era superior a desta temporada. O que talvez ocorra pela primeira vez é o rompimento do limite histórico de 45 pontos (ou 39,5% de produtividade) para se manter na Série A. Responsabilidade do desvio estatístico que o Fluminense pode patrocinar sob a liderança de Fred.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André