Esportes

Santo André continua sobrando;
São Caetano acerta na escolha

DANIEL LIMA - 01/03/2010

Jogos no mesmo dia mas em horários diferentes permitiram, finalmente, que observações sobre o Santo André e o São Caetano na Série A do Campeonato Paulista não fossem prejudicadas por intermitentes cortes e substituições de imagens que a simultaneidade de transmissões televisivas estimula. E o que se viu no final de semana foram duas boas notícias para o futebol da região: o Santo André deu um show de bola na Portuguesa, atazanando o adversário o tempo todo com futebol visceralmente ofensivo, e o São Caetano, apesar da derrota em Ribeirão Preto, encontrou-se com um espelho que acena com a garantia de que acertou em cheio ao contratar o técnico Roberto Fonseca, ex-treinador e organizador do Botafogo local.


Primeiro sobre o Santo André, valem algumas novas observações, além da estrutural de que joga, ao lado do Santos, o futebol mais alegre, descontraído, atrevido e demolidor do Campeonato Paulista. O armador Bruno César já aparece como o principal destaque individual da equipe, depois de começo vacilante e fora de forma, embora Gil siga a trajetória de discreta e indispensável peça de marcação e apoio ao ataque.


Resta saber o que fará o técnico Sérgio Soares quando algumas opções se apresentam tanto em forma de reforços como de recuperação médica. A retomada da titularidade de Nunes deve ser posta em xeque. O centroavante de mobilidade escassa colocaria em risco a ciranda do ataque, embora ofereça o contraponto da opção aérea em jogadas não necessariamente de bola parada. Nunes parece, nestas alturas do campeonato, mais talhado como opção no banco de reservas do que como dono da camisa de titular.


Pelo menos no jogo com a Portuguesa o sistema de marcação do Santo André foi mais agudo, apertando o cerco e diminuindo os espaços. Resta saber se a mobilização em torno da recuperação da bola em todos os cantos foi obra de um efetivo avanço de consciência coletiva do grupo ou decorreu de eventual cansaço físico do adversário, que jogou no meio da semana pela Copa do Brasil em Roraima. Não se pode desprezar também o fato de que a Portuguesa joga em câmara lenta.


Já o São Caetano perdeu para um bem organizado Botafogo em Ribeirão Preto quando mais merecia estar na frente. Depois de um primeiro tempo equilibrado, com duas equipes de atitudes semelhantes, de posse de bola, de cuidados defensivos e de ataques comedidos, no segundo o São Caetano estava melhor com o avanço em bloco da defesa e compactação dos setores. Entretanto, uma estranha substituição do armador Everton Ribeiro pelo volante Adriano e um erro de passe na intermediária defensiva proporcionaram ao Botafogo um contragolpe fatal. Nada pior para o São Caetano porque os espaços se fecharam de vez e os contragolpes ficaram mais explícitos como tática do Botafogo, dono do melhor sistema defensivo da competição.


O encontro do criador Roberto Fonseca com a criatura Botafogo transmite a sensação de que o São Caetano acertou em cheio na escolha do substituto de Antonio Carlos Zago. Trata-se, em princípio, de dois treinadores com ideias semelhantes e, a bem da verdade, antípodas do modelo adotado por Sérgio Soares e Dorival Júnior: primeiro cuidar da defesa, segundo reforçar a marcação no meio de campo e terceiro, atacar o adversário, preferencialmente em alta velocidade.


Somente o futebol poderia explicar o fato de que, por enquanto, perante a grande mídia, o São Caetano aparece com mais destaque do que o Santo André, apesar de o Ramalhão realizar campanha superior e estar às portas da classificação às semifinais. A goleada frente ao Palmeiras deu visibilidade ao São Caetano. Já o Santo André não construiu o edifício de sucesso até agora com a luminosidade que os confrontos com os grandes times permitem. Daí a mídia maior subestimar ou não se dar conta de que o time de Sérgio Soares está atuando de forma brilhante, irresponsavelmente brilhante.


Os jogos com Corinthians, São Paulo e Palmeiras poderão confirmar a trajetória de sucesso do Santo André rumo à classificação. Ou a equipe entregaria a rapadura diante de adversários preparados por treinadores menos receptivos à liberalidade tática e mais pontiagudos na engenharia da eficiência mortal? A vulnerabilidade defensiva do Santo André, minimizada contra a Portuguesa por conta de intensa guerrilha de marcação, pode ser o calcanhar de Aquiles no confronto contra esses três grandes, como o foi contra o Santos, no Estádio Bruno Daniel.


A perspectiva do São Caetano continua positiva se não se deixar levar por eventual ciumeira de rivalidade com o Santo André. A corrida do Azulão não é contra o relógio no Campeonato Paulista, mas a favor do relógio da Série B do Campeonato Brasileiro. Como aliás deve ser a corrida do Santo André.


E nesse ponto a contratação de Luciano Henrique, ex-Sport Recife, mostra que a direção técnica está atenta, porque desde o ano passado faltava mesmo uma opção de ponta de lança pela direita para fazer por ali o que Everton Ribeiro faz tão bem pela esquerda. Sem contar que além de Vanderlei cada vez mais em forma, surge Luciano Mandi que, deslocando-se entre as duas pontas com pernas longas e cabeça erguida, revela-se um atacante com potencial promissor.


O maior problema de Santo André e de São Caetano parece não ser mais fazer uma boa campanha na Série A do Campeonato Paulista, mas impedir que vários de seus principais destaques batam asas ao final da competição. O técnico Antonio Carlos Zago já antecipou à direção do Palmeiras que alguns reforços de que a equipe precisa estão em São Caetano. Aposto em três nomes. Everton Ribeiro não está entre eles porque é do Corinthians. O lateral Arthur, Luciano Mandi e Vanderlei são os mais cotados. No Santo André, Gil, Bruno César e Rodriguinho também estão na mira de equipes da Série A do Brasileiro.


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