Esportes

Rodriguinho e Vanderlei ajudam a
explicar derrotas do Grande ABC

DANIEL LIMA - 15/03/2010

Dois destaques ofensivos do Grande ABC na Série A do Campeonato Paulista ajudam a explicar a derrota do Santo André para o Corinthians e do São Caetano para a Portuguesa no final de semana.


O artilheiro Rodriguinho está exagerando na encenação de infrações, algo que pode ser traduzido como alguém que prefere substituir a possibilidade de dominar a bola limpamente pela esperteza de tentar ludibriar o árbitro.


Já Vanderlei peca por preciosismo, algo que pode ser traduzido como alguém que não se conforma em fazer o mais prático e trivial em situações de definição da jogada, optando pela mais arriscada assinatura especial.


Vanderlei é um talento que precisa aprender a simplificar as jogadas decisivas, principalmente quando a equipe que defende ainda está em busca de um roteiro mais denso e um gol qualquer, inclusive de traseiro, vale muito mais que uma jogada brilhante que não se completa.


Rodriguinho é um goleador que se acha mais esperto que a arbitragem e os adversários. Na medida em que o Santo André mais desponta no campeonato, mais Rodriguinho é vigiado por todos, principalmente pelos árbitros. E aí não pode reclamar da sorte. Foram três lances contra o Corinthians em que se deu mal, o principal num chorado pênalti que não existiu. Contra equipes médias costuma se dar bem na teatralização. Nada que amanhã não se altere, porque os árbitros trocam informações para capturar espertalhões.


Primeiro, algumas observações sobre a derrota do São Caetano para a Portuguesa, no sábado.


O resultado de 1 a 0 poderia ter sido evitado se o São Caetano não repetisse tanto e teimosamente a imprecisão ofensiva. Sempre há algum empecilho de última hora que transforma uma oportunidade de gol em frustração. Um dos quais é a insistência de Vanderlei em dar um toque de classe a mais, ele que é virtuosíssimo. Uma conversa ao pé do ouvido do treinador Roberto Fonseca poderá dar a Vanderlei o pragmatismo típico de jogadores menos dotados.


O resultado também poderia ter sido mais justo com o São Caetano num jogo de equipes muito semelhantes, com marcação forte, rapidez nos contragolpes em jogadas largas, obediência tática canina e poder de recomposição defensiva. É claro que tudo isso tem o contraponto de entorpecer espaços ofensivos. Todas as equipes com as características do São Caetano não podem se dar ao luxo de errar tanto o gol, porque da mesma forma que rareiam penetrações adversárias, são parcimoniosas no ataque.


Numericamente não é das melhores a campanha do São Caetano com Roberto Fonseca, técnico que ajustou o Botafogo de Ribeirão Preto. São três derrotas (todas por 1 a 0) e uma vitória. Mas a evolução do grupo, seguindo o trabalho de Antonio Carlos Zago, agora no Palmeiras, não sofreu abalo. Falta ajustar a pontaria, que, por sua vez, depende muito de um meia ofensivo com senso de organização que Everton Ribeiro, cada vez mais marcado, tem pela esquerda. E que Vanderlei seja mais objetivo.


Agora, a derrota do Santo André.


A equipe do Grande ABC perdeu ótima oportunidade de chegar à liderança do campeonato, mas confirmou a perspectiva de que já está praticamente classificada às semifinais, com possibilidades de dar muita dor de cabeça aos adversários.


Os primeiros 15 minutos do Corinthians foram estonteantes. O Santo André provavelmente não estava preparado para a blitz, mas mesmo se tivesse teria sofrido um bocado, dada a diferença técnica das equipes e a impressão de que o adversário sabia que precisava definir o jogo antes que lhe faltassem pernas e fôlego.


A equipe de Sérgio Soares impõe-se pelo conjunto de muita mobilidade e por uma ambição ofensiva que só tem o Santos como rival. Mas segue, como o Santos, descuidada no sistema defensivo. Embora tivesse mais volume de jogo no segundo tempo de ontem, poderia ter sofrido pelo menos mais três gols em contra-ataques corintianos.


Transponham o mesmo jogo para uma situação diferente, na qual o Corinthians não tivesse experimentado o cansaço de uma viagem longa no meio da semana e o confronto na Colômbia pela Taça Libertadores. O desgaste corintiano no segundo tempo só passou despercebido por quem não leva em conta o contexto do calendário do futebol brasileiro e sul-americano. A Portuguesa que perdeu para o Santo André num sábado no Bruno Daniel, três dias depois de jogar em Roraima, pela Copa do Brasil, não tem nada a ver com a Portuguesa que, descansada, enfrentou o São Caetano no final de semana. A integridade fisiológica faz muita diferença em embates nos quais não há disparidade de forças. A expulsão de Branquinho no começo do segundo tempo aliviou a barra do Corinthians.


Agora chegamos a Rodriguinho, especialista em abandonar a bola e projetar o corpo em direção ao adversário. A maioria dos árbitros o considera vítima, quando de fato é infrator. Rodriguinho é rápido, tem boa técnica, mas extrapola na esperteza. Não fosse por já estar começando a ser marcado pelas arbitragens como forjador de faltas, possivelmente teria transformado em pênalti o lance com Chicão no final do jogo de ontem.


Rodriguinho preferiu trocar o chute a gol pela tentativa de cavar a infração máxima. A maioria dos cronistas esportivos tem dificuldades para distinguir realidade de encenação. Há quem não enxergue nem impedimentos escandalosos, mesmo que repetidos à exaustão. O comentarista da Sportv teve sensibilidade para matar a charada. Rodriguinho lembra o menino travesso da história infantil que alardeia falso afogamento. Não foi o caso de ontem, mas quando de fato sofrer uma falta máxima, pode lamentar o erro da arbitragem condicionada a não lhe dar crédito.


A cinco rodadas do encerramento da fase classificatória do Campeonato Paulista, não tenho dúvida em confirmar as impressões do início da competição: Santo André e São Caetano estão aproveitando muito bem o tempo para se preparem à Série B do Campeonato Brasileiro. Salvo eventual desmanche, porque o negócio do futebol é um turbilhão que evoca mexidas inimagináveis nas equipes, estaremos muito bem preparados para tentar o acesso à Série A do Brasileiro. Sem contar que o Santo André entrará nas semifinais do Paulista com o respeito da maioria que conhece futebol, não é ruim da cabeça nem doente do pé.


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