Esportes

Santo André e São Caetano atingem
limites diferentes no campeonato

DANIEL LIMA - 22/03/2010

Restando quatro rodadas para o encerramento da fase classificatória da Série A do Campeonato Paulista a conclusão é quase óbvia mas nem por isso dispensável de exposição: o Santo André atingiu o limite máximo do estado da arte que lhe permite tanto a estrutura organizacional como o potencial individual e coletivo, enquanto o São Caetano atingiu o limite mínimo necessário, situação que abre alas a resultados mais interessantes no futuro. Só não pode se perder na intolerância e na pressa de resoluções que, invariavelmente, contratam novos problemas.


Não é por outra razão que o Santo André já é praticamente semifinalista do Campeonato Paulista e o São Caetano deverá atingir estágio de arranjo positivo à disputa da Série B do Campeonato Brasileiro.


O Santo André e o São Caetano que imagino para o futuro têm missões, portanto, diferentes. O Ramalhão não pode virar o fio e o São Caetano não pode perder a cabeça. Precisa sim ter paciência, sem se incomodar com o destaque do rival.


Os jogos do final de semana das duas equipes do Grande ABC foram decididos pelo fator emocional, principalmente. Quem conhece ambiente coletivo sabe o quanto um grupo motivado e imune a medos é capaz de expor-se ofensivamente e, em contraponto, um grupo ainda sob desconfiança interna e externa torna-se reticente.


O Santo André joga com a certeza de que o gol adversário é apenas um detalhe, alcançável a qualquer momento.


O São Caetano ainda joga com a certeza de que sempre faltará um passe mais calibrado ou um chute mais certeiro quando a oportunidade de marcar surgir.


O Santo André despreza com certa molequice cuidados maiores com o sistema defensivo. É sempre um desafio ao Santo André estar atrás no placar.


O São Caetano faz do sistema defensivo evangelho. O nível de insegurança o obriga a ter cautela. É sempre um tormento para o São Caetano a desvantagem no placar.


O Santo André está tão avantajado em auto-estima que seria desnecessário liquidar em apenas 10 minutos o jogo com o Bragantino. A vitória viria de qualquer forma.


Já o São Caetano sofreu um gol no início, conseguiu o empate ainda num período em que os nervos não o atrapalharam mas depois, num pênalti evitável, devolveu a vantagem ao Oeste de Itápolis e teve de fazer das tripas coração para empatar.


Faltou pouco para o São Caetano vencer, mas excedeu-se ao trocar velocidade por pressa. O conceito de valorizar a posse de bola foi para a cucuia. O time oscilou durante várias fases do jogo.


Bem ao contrário do Santo André, que transmite a sensação de que é programado tecnologicamente para manter o ritmo do começo ao fim.


O Santo André joga o tempo todo por aproximação, e melhorou muito pela direita com o mais técnico Cicinho no lugar do robótico Rômulo.


O São Caetano ainda não conseguiu romper o desenho ocupacional, mais espaçado, mesclando-o com triangulações e ultrapassagens por aproximação. Já foi mais repetitivo no alongamento de jogadas, mas ainda não consegue associar automaticamente as duas modalidades.


O limite máximo da potencialidade do Santo André nesta temporada, com as condições de que dispõe, não é chutometria. Esse patamar implica dizer que a equipe não pode ser desconsiderada na luta pelo título paulista, embora as circunstâncias de mata-mata sejam outras. Tudo começa do zero, ou do quase zero. A literatura esportiva está repleta de exemplos de equipes que chegaram à fase decisiva muito à frente de adversários que só se garantiram em cima da hora e o que se viu foram resultados surpreendentes.


O Santos de Robinho e Diego conquistou o Brasileiro de 2002 chegando apertadamente à fase de mata-mata na última rodada.


O Palmeiras arrasou na fase classificatória do Paulista do ano passado, mas caiu nas semifinais diante do Santos.


Estabelecer comparações entre São Caetano e Santo André não significa, pelo menos neste espaço, acirrar ânimos de rivalidade. Nada disso. O sentido é exclusivamente didático.


Santo André e São Caetano adotam modelos antagônicos. O primeiro é mais versátil, mais leve, mais veloz. O segundo mais metódico, mais pesado, mais estratégico. O Santo André está numa fase de encantamento. O São Caetano está numa fase de enquadramento.


A saída do técnico Antonio Carlos Zago e de membros da comissão técnica quebrou o ritmo do grupo. É preciso dar tempo ao tempo. Ao São Caetano o que interessa de fato nestas alturas do campeonato é simplesmente preparar-se para o Campeonato Brasileiro.


Simplesmente é força de expressão, porque tudo indica que se tivesse planejado na temporada passada calendário integrado como neste ano, teria possivelmente chegado entre os quatro primeiros à Série A. O São Caetano se arrumou no ano passado durante o Campeonato Brasileiro, quando estava nas últimas posições. Tudo indica que iniciará o Brasileiro deste ano azeitado, com espaços apenas para reparos individuais e coletivos.


Os vilões da semana passada das duas equipes recuperaram-se no final de semana.


Rodriguinho, artilheiro do Santo André e da competição, não mudou o jeito de jogar, continuou provocando faltas, mas desta vez o árbitro caiu na encenação. Tanto que o segundo gol do Santo André nasceu de uma falta cometida por Rodriguinho que o zagueiro do Bragantino retribuiu. O árbitro só viu o segundo lance. O cartão amarelo custou ao adversário a expulsão pouco tempo depois, por reincidência de infração. Nem de arbitragem o Santo André pode reclamar. Nunes cometeu falta no cruzamento-chute que terminou no fundo da rede.


Vanderlei foi para o banco de reservas do São Caetano, de onde saiu no segundo tempo para ajudar a mudar o jogo. Ele fez apenas o que alguém com talento jamais deveria abdicar, ou seja, atuar verticalmente, procurando insistentemente o gol. Foi um tormento para os zagueiros do Oeste. Acabou empatando o jogo num lance de puro oportunismo, de centroavante trombador que não é. Vanderlei se adapta melhor como segundo atacante, porque tem técnica refinada para amoldar o campo a seu gosto e habilidade.


Santo André e São Caetano estão no caminho certo rumo à Série B do Brasileiro, com possibilidades de acesso. Eventual disputa do título paulista é ponto fora da curva que premia o Santo André encantadoramente ofensivo. Resta saber se quando o bicho pegar para valer os descuidos defensivos, que permanecem, não serão mortais.


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