Esportes

Ramalhão, Azulão e Tigre: três
certezas e três grandes dúvidas

DANIEL LIMA - 12/04/2010

Os jogos do final de semana que envolveram equipes do Grande ABC deixam três certezas relativas e três dúvidas estratégicas. As certezas relativas são as seguintes: o Santo André já está nas finais do Campeonato Paulista, contra o Santos. O São Caetano já está nas finais do título do Interior contra o Botafogo de Ribeirão Preto. E o São Bernardo já está entre os quatro finalistas da Série B do Campeonato Paulista, com consequente acesso à Série A.


Agora vêm as dúvidas estratégicas: o Santo André seria um Juventude, finalista do Campeonato Gaúcho de 2008, goleado impiedosamente pelo Internacional, ou mesmo uma Ponte Preta, do mesmo ano, goleada na final pelo Palmeiras no Parque Antártica? O São Caetano ganharia o título do Interior mas não conseguiria fazer do Paulista o melhor trampolim para a Série B do Campeonato Brasileiro? E o São Bernardo, chegaria à Série A do Campeonato Paulista do ano que vem com o destino carimbado de retorno imediato à Série B, como os quatro times que subiram no ano passado e foram rebaixados este ano?


Francamente, não boto fé em nenhuma das possibilidades reunidas nas dúvidas estratégicas, por razões que vou explicar. Antes, traduzo o significado do conceito de certeza relativa, porque é provável que algum preciosista da linguagem tente me desclassificar por adjetivar o que aparentemente não teria adjetivação. Espero ser feliz na definição.


Trata-se do seguinte: certeza relativa é tudo que nos envolve na vida, menos a morte, esta sim certeza absoluta, absolutamente certa.


Mais uma tentativa de definição, porque o assunto é complexo: certeza relativa é tudo aquilo que parece tão evidente que somente o imponderável, o Sobrenatural de Almeida, poderia alterar.


Um exemplo de certeza absoluta que virou certeza relativa e que se provou grande derrapada: a mais que iminente queda do Fluminense no ano passado à Série B do Brasileiro.


Quem, em santa consciência, seria capaz de apostar um tostão sequer na salvação do Fluminense?


É sob esse ângulo explicativo que tanto o Santo André está nas finais do Paulista contra o Santos, o São Caetano na final do título do Interior contra o Botafogo de Ribeirão Preto e o São Bernardo pronto para comemorar uma das quatro vagas de acesso à Série A do Campeonato Paulista.


Menos mal, muito menos mal, que as dúvidas que igualmente atingem as três equipes do Grande ABC sejam menos que dúvidas relativas. São dúvidas estratégicas. Afinal, o que são dúvidas estratégicas e o que são dúvidas relativas?


Dúvidas relativas são resultados possíveis de acontecer num quadro de probabilidade que não pode ser desclassificado.


Dúvidas estratégicas são apenas um dispositivo de comedimento em análises para que se deixe aberta a possibilidade de desembarque de improvável tropeço.


Por isso, está na condição de dúvida estratégica tanto o Santo André ser goleado pelo Santos nas finais da Série A do Paulista, quanto o São Caetano entrar na Série B do Brasileiro ainda em busca de uma fórmula tática menos burocrática e o São Bernardo conhecer a alegria do acesso de forma tão efêmera quanto Monte Azul, Rio Branco, Rio Claro e Sertãozinho nesta temporada da Série A.


Resumidamente, porque o espaço assim o exige, exponho as razões de minhas certezas e dúvidas.


Sobre o Santo André: o time não jogou o que pode contra o Grêmio Prudente, chegou a ser ameaçado de derrota, mas mesmo abaixo da potencialidade mereceu a vitória porque enfrentou um adversário ainda em formação tática, que sobrevive de alguns valores. Sem nenhum grande destaque individual na partida, o Santo André jogou com relativa folga no segundo tempo. O que sugere a possibilidade de a equipe ser um Juventude ou uma Ponte Preto redivivos é a fragilidade do sistema defensivo. É impressionante como os adversários chegam facilmente ao gol de Júlio César. O Santo André é um tormento no ataque e uma alucinação na defesa. Sem equilíbrio, o sonho do título poderia virar um pesadelo.


Sobre o São Caetano: jogar em casa contra o Oeste de Itápolis precisando de vitória simples para decidir o quase inexplicável título de campeão do Interior é o que menos preocupa, porque bem ou mal a equipe deverá valer-se da força defensiva e espetará o adversário lá na frente. O que inquieta é a pobreza do repertório ofensivo. O São Caetano precisa dar um jeito na partitura monocórdia. Exceto Vanderlei, o virtuoso, os demais seguem uma toada por demais manjada. O técnico Roberto Fonseca precisa surpreender o adversário no próximo jogo. Nada melhor que mexer na mobilidade ofensiva da equipe, o que implica experimentos individuais no ataque, no meio de campo e eventualmente nas laterais. O São Caetano já atingiu nível satisfatório para iniciar a Série B do Brasileiro, mas para concorrer para valer a uma das quatro vagas à Série A precisa melhorar o repertório ofensivo.


Sobre o São Bernardo: vi poucas vezes e mesmo assim entrecortadamente a equipe que vai levar o Grande ABC a inédita terceira vaga na Série A do Campeonato Paulista, ano que vem. O que preocupa é a possibilidade de enclausuramento, que pode ser traduzido como espécie de blindagem à construção de um novo patamar organizacional para tornar a equipe frequentadora permanente do principal campeonato regional do País. Que não se enganem os dirigentes do Tigre, porque o buraco é bem mais embaixo na Série A do Paulista. Seria muito pior se em vez de 20, fossem não mais que 16 os participantes. Um limite mais que justo no regime empresarial em que se instalou o futebol brasileiro de calendário apertadíssimo.


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