Política

LULACÁ, TRAGICAMENTE?
COMO FOMOS EM 2023 (2)

DANIEL LIMA - 15/01/2024

Neste segundo capítulo, a temática é Desenvolvimento Econômico. Logo abaixo, o leitor vai ter à disposição o texto preparado em janeiro do ano passado, agora visitado em forma de análise crítica. 

Nada, absolutamente nada, que contornasse alguma previsão proposta um ano antes se alterou no ano passado. A região segue à deriva como um conjunto de municípios que supostamente teriam alguma afinidade de sobrevivência à queda contínua de riqueza. A divulgação do PIB Geral da região com dados de 2021 seguiu o ritual esperado.  

Houve crescimento previsível (de 6,56%) já que a temporada anterior, da pandemia do Coronavírus, fez muitos estragos, com queda de 5,92%. Há uma insensibilidade incontornável na região quando se trata de aferir o tamanho da encrenca de queda econômica.  

Parece haver um tratado não escrito de que o Desenvolvimento Econômico chegou a tal ponto de desmoronamento que o melhor mesmo é iludir o distinto público com um desfile sem cessar de resultados varejistas que não influem no placar final. Tornou-se imperativo em administrações públicas cantarolar a conquista de prêmios de diversos matizes mas sempre sob desconfiança quanto à importância e também critérios técnicos e éticos com que são concebidos.   

CLUBE ESVAZIADO  

O Clube dos Prefeitos, agora sob administração de representantes do Partido dos Trabalhadores (o secretário-geral é Mário Reali, ex-prefeito de Diadema) segue sem São Bernardo e São Caetano. Orlando Morando e José Auricchio Junior se escafederam. Eles não concordaram com as tratativas para ocupação do cargo de presidente, no caso do prefeito de Diadema, José de Filippi Júnior. A troca petista, que escolheu o prefeito de Mauá, Marcelo Oliveira, não os agradou.  

A pauta do Clube dos Prefeitos dirigida às demandas da região junto aos governos estadual e federal foi puxada de um passado de frustração e segue longe de dar prioridade às deficiências no campo econômico.  A lateralidade da pauta, que invade várias áreas correlacionadas ou não à Economia, não tem o poder transformador de que tanto precisa a região. 

Pior do que o que não houve em 2023 na região sob a influência do Clube dos Prefeitos e mesmo dos administradores públicos individualmente em Desenvolvimento Econômico é a perspectiva de que a toada se repetirá nesta nova temporada. O ABC Paulista é um fenômeno de vocação perdedora. Entra ano, sai ano, e as instâncias públicas que deveriam liderar um já tardio processo de recuperação econômica insistem em fechar olhos e ouvidos às demandas.  

FINGINDO NORMALIDADE 

Por mais absurdo que possa parecer, os gerenciadores do Clube dos Prefeitos transmitem a sensação de que sustentar a fórmula de que ao fingirem que nada ocorreu de mudanças na economia da região nas últimas décadas, poderiam salvar currículos, porque não se correria o risco de fracassarem ante os obstáculos à recuperação mesmo que parcial e discreta.  

É esse paradoxo da ineficiência e da inutilidade que persiste na região. E vai se avolumar ainda mais porque há armadilhas nacionais e internacionais, entre as quais a eletrificação do setor automotivo, atividade-eixo da economia da região, que avançam celeremente sob a batuta dos chineses.  

Os mesmos chineses que procuram endereços em que o risco ao capitalismo, mesmo que ao capitalismo de Estado, seja o menor possível. E este, todos sabem, não é o caso da região, pioneira na atividade que paga o alto preço de desempenhar uma retração de custos que é lenta, gradual e quase autodestruidora.   

ANÁLISE DE 2023 

O Grande ABC apresenta tantas fissuras no tecido econômico que é praticamente impossível sair do buraco negro em que se meteu desde que a guerra fiscal dos anos 1990 e a abertura econômica pulverizaram o setor automotivo, antes um quase monopólio nacional.  

O que o governo federal petista poderia fazer para retirar o Grande ABC da enrascada? É melhor não esperar nada. Os 14 anos de experiência demonstraram que o distanciamento será automático.  

E nesse ponto como em alguns outros a situação interna do Grande ABC ajuda a entender a incompatibilidade de juntar a região ao governo federal.  

Afinal, se é incapaz de organizar-se internamente para definir um plano de voo, como pretender que o Estado faça o trabalho mesmo que assessoriamente? 

Os dois mandatos de Luiz Marinho à frente da Prefeitura de São Bernardo, num período coincidente com os mandatos de Lula da Silva e Dilma Rousseff, foram frustrantes.  

A derrocada econômica seguida de impeachment da presidente petista destruiu ou interrompeu série de projetos e obras que Luiz Marinho trouxe para São Bernardo.  

Tudo praticamente foi por água abaixo. Inclusive o ambicioso plano de fazer de São Bernardo um arranjo produtivo do setor de defesa, com a instalação de empresa ligada à produção dos jatos suecos Gripem.  

Chegou-se a projetar cinco mil empregos diretos. Também constava da lista de investimentos empreendedores da área de gás e óleo, sob o embalo de ampliação da indústria naval brasileira. Mais uma frustração.  

Para que não continue a submergir economicamente, o Grande ABC do governo federal petista precisaria encontrar saída a dois desafios estruturais: evitar que o setor automotivo siga a rota do esvaziamento e injetar maior densidade às empresas de segunda geração do Polo Petroquímico de Capuava.  

O melhor é não esperar nada dessas duas fontes de riqueza.  

Primeiro porque o setor automotivo é indomável, rompe fronteiras nacionais e internacionais em busca de melhores resultados aos acionistas.  

Segundo porque o Polo Petroquímico de Capuava é integrado por empresas privadas que não têm obrigação de assumir estratégias de investimentos de terceiros. Nesse ponto, aliás, já o fazem mas dentro das regras convencionais do mercado, atraindo-as conforme estratégias próprias. 

Não há nada no horizonte que instigue a imaginação de que será possível mudar o roteiro que parece indelevelmente definido.  

O Grande ABC pode obter do governo federal algum tipo de contribuição, mas nada será substantivo num País em que as demandas regionais são um turbilhão desafiador à escassez de recursos dos cofres públicos, comprometidos em mais de 95% com despesas obrigatórias. E a farra do boi dos tempos petistas do BNDES de juros negativos já não tem vez naqueles volumes históricos, embora tenham crescido na primeira temporada do terceiro mandato de Lula da Silva.  

Dessa forma, não resta muita saída ao Grande ABC na relação com o governo federal.  

Fossem outros tempos, tempos de farta distribuição de recursos orçamentários e de financiamentos sem cuidados, o Grande ABC até que poderia sonhar com espécie de Plano Marshall, mas isso hoje é extravagância imaginativa.  

Não há dinheiro disponível e tampouco agentes públicos interessados em ajudar o Grande ABC a sair da pasmaceira econômica.  

A orfandade industrial, que já se traduziu em perda de musculatura tanto de Santo André como de São Caetano nos últimos 30 anos, também avança sobre São Bernardo e Diadema. E não dá sinais de arrefecer.  

O último grande saque do Grande ABC aos cofres federais tem nome, sobrenome e desperdício de recursos públicos permanente, aprovado que foi durante o primeiro mandato do governo Lula da Silva e sua sede por estabelecer recorde de criação de unidades do setor: Universidade Federal do Grande ABC. 



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