Política

Xeque-mate na influência
política de Ronan no Paço?

DANIEL LIMA - 02/02/2024

O Diretório Municipal do Partido do Ronan Maria Pinto, dono do Diário do Grande ABC, é quem decide ou pretende decidir quem será o candidato à sucessão de Paulinho Serra, escolhido lá atrás pela mesma agremiação. O resto, acreditem, não passaria de figuração.

Mas convém lembrar que é uma figuração inconformada. O candidato escolhido pelo Partido do Ronan Maria Pinto é o jovem Gilvan Junior, secretário de Saúde. A determinação enlouqueceu o Paço Municipal.

O que falta saber e só o tempo dirá é se desta vez o PMMP (Partido do Ronan Maria Pinto) sairá vitorioso ou se a oposição, até outro dia morta e enterrada, ressuscitaria inclusive com reforços de ressentidos e amargurados.

Não custa lembrar a título de perspectiva que a oposição formal é uma coisa, com partidos oponentes que até agora não dão muito sinal de vida. A oposição mais abrasiva são os dissidentes da situação. A oposição de dissidentes pode ser arrasadora entre outras razões porque os dissidentes sabem como os privilegiados agem.

CRESCE REPROVAÇÃO

A julgar pela bananosa posta à prova e que está em processo de reprovação, porque todos ou quase todos se descobriram ludibriados, o incêndio ameaça alastrar-se. Por mais notoriedade que tenham os agrupamentos do prefeito Paulinho Serra, já não se pode garantir que estejam em situação privilegiada, de dar as cartas e jogar de mão.

O PRMP, no caso o Diário do Grande ABC, já definiu até um codinome à suposta liderança do prefeito Paulinho Serra. Atribui-se ao tucano o estofo de “capitão”, dentro das regras de jogo de lealdade e reconhecimento ou produção de virtudes que interessam a todos que estão no poder.

Paulinho Serra talvez se convença mesmo de que é o capitão dos grupos que agora digladiam para valer pelo comando ou compartilhamento do Paço Municipal, endereço simbólico e prático que está em segundo lugar na escala orçamentária da região – atrás apenas de São Bernardo, outra meta do pretendido mas muito mais complicado esticamento de poderes do PRMP.

MUITAS LEITURAS

Há várias leituras de que conhecimento, imaginação, idiossincrasias e ressentimentos fazem sobre o anúncio subliminar (seria mesmo subliminar?) da edição do braço jornalístico do PRMP indicando o jovem secretário de Saúde Gilvan Junior como suposto herdeiro da cadeira ocupada por Paulinho Serra.

As avaliações são múltiplas, podem dar espaço a vertentes até mesmo estrambólicas, mas uma coisa parece insofismável e irrebatível, quando não solidamente conflitiva: há um mau-humor exasperante no Paço Municipal, com olhares esticadíssimos àquele prédio de poucos andares, logo em frente, na Rua Catequese, ocupado pelo comandante e, agora sim, “capitão”, Ronan Maria Pinto.

A insatisfação é generalizada não necessariamente porque o jovem indicado para defender as cores do capitão do Paço que não é o capitão do espaço político. Gilvan Junior é considerado um bom menino, até prova em contrário.

PEDAÇO DO BOLO

O que pesa é que se prometeu individualmente a vários concorrentes do Paço um bolo especial em forma do cargo principal, e todos, menos Gilvan Junior, de repente, caíram na real: só vai sobrar mesmo um pedacinho para cada um, em forma de secretaria, como ocupam hoje, ou mesmo no Legislativo, agora com mais vagas e mais convergências como puxadinho do Executivo.

O plano do PRMP é esse mesmo, garantem os mais próximos, mas se trabalha estrategicamente também com um nível de flexibilidade pragmática: Gilvan Junior poderia ser deslocado ao cargo de vice-prefeito para abrir espaços ao ex-petista Eduardo Leite, vereador que veste a camisa do PSB de Geraldo Alckimin. 

Não haveria outra maneira de contornar eventual insatisfação de Gilvan Junior com o apeamento do cargo de concorrente a prefeito, como ele deixou evidenciado na entrevista ao braço jornalístico do Partido de Ronan Maria Pinto. É o Executivo ou nada. Não especificou se o posto de vice-prefeito o satisfaria. Talvez se satisfaça porque teria sido previamente lembrado de que há composições extra-Paço que podem ser imprescindíveis.

PREFEITO ENCALACRADO

Essa possível combinação passa pelo destino dos sonhos de Paulinho Serra seguir com a carreira extra-região, hoje presidente provisório do PSDB no Estado de São Paulo. Uma reunião do convulsivo PSDB agora sob o comando nacional de Aécio Neves e outras cabeças brancas decidirá se Paulinho Serra seguirá tucano ou se se bandearia para o time de Alckmin.

Há várias alternativas que a política nacional apresenta a quem está no jogo sem se incomodar com rótulo de conservadorismo ou progressismo, ou regressismo, entre direita e esquerda. Essa, de Paulinho Serra rumo ao entorno do governo petista de Lula da Silva, é uma das mais apontadas em caso de atropelamento pelo comando nacional do PSDB.

Nesse caso, ou seja, no caso de Paulinho Serra sofrer esvaziamento fora do âmbito de Santo André, talvez tudo se encaminhe para que o secretário sem pasta da gestão de Paulinho Serra, o especialista em Direito Eleitoral, Leandro Petrin, seja chamado a ocupar a titularidade da chapa situacionista. Nesse ponto, ainda outro dia, Petrin se manifestou com a discrição de sempre no braço jornalístico do Partido de Ronan Maria Pinto.

MUITAS POSSIBILIDADES

As possibilidades que brotam com relação à ocupação do Paço de Santo André ganham tentáculos verossímeis e inverossímeis, mas nada indica que verossimilhanças e inverossimilhanças não podem trocar de roupa, ou seja, de uma coisa se tornar outra coisa e outra coisa se tornar uma coisa.

Há muitas críticas veladas no Paço Municipal e também no Legislativo. As interferências supostamente estranhas no jogo sucessório não são aceitas por muitos dos pré-candidatos nomeados em matéria publicada pelo braço jornalístico do Partido do Ronan Maria Pinto. Aliás, nada sobre a política e a administração de Paulinho Serra publicado no Diário do Grande ABC é por acaso. Há um filtro encaixotado numa estratégia definida há muito tempo, de suporte ao ungido pelas forças mais expressivas entre os grupos que controlam a Administração de Paulinho Serra.

Transformar o Diário do Grande ABC numa central político-partidária é a opção de Ronan Maria Pinto como forma de influenciar o ambiente da região, com desdobramentos econômicos e sociais. Não concordo em absoluto com essa pretensão, mas se é assim que Ronan Maria Pinto gosta de participar do jogo social, que assim seja. E que, portanto, aguente as consequências. Ou, por outro lado, satisfaça-se com os resultados.

REGRA PARA TODOS

Lembro-me bem que durante um dos encontros que mantive com Ronan Maria Pinto há um pouco mais de dois anos, não o condenei nem o condeno a fazer do Diário do Grande ABC uma tribuna político-partidária, porque a maioria da mídia assim o é. Só interpus uma relativização da qual jamais abriria mão: para que o Diário do Grande ABC atenda aos desejos da sociedade servil e desorganizada, seria imprescindível que contrapusesse a todos os políticos em busca de estrelato ou algo assemelhado o compromisso formal de seguir uma agenda múltipla em defesa da valorização da região. Quem aderisse ao projeto republicano que se colocaria à mesa, tendo com um dos pilares a responsabilidade crítica de entender o que se passa na região, teria obviamente o respaldo noticioso do jornal.

Um exemplo? Como não dar visibilidade a eventual grupo de dirigentes econômicos da região que decidam colocar o trecho sul do Rodoanel na alça de mira de mudanças depois que se comprovou aqui há muito tempo, muito tempo mesmo, que a obra significou duro golpe no PIB regional? O problema do Diário do Grande ABC de Ronan Maria Pinto dar conta desse recado é que o Diário do Grande ABC de Ronan Maria Pinto jamais publicou que o trecho sul do Rodoanel é o cadafalso da economia regional por causa de características sobre as quais aprofundei estudos e análises, quando não estatísticas.

PAUTAS TRANSBORDAM

Sem exagero algum, muito pelo contrário, há duas dezenas de pautas, no mínimo, que comportariam uma herança maldita a ser atacada não só pelo Diário do Grande ABC, mas por todos os veículos de comunicação da região. Por que então nada acontece? Ora bolas: não faltam compromissos arraigados entre as partes desse bolo indigesto; e para que não se firam melindres, mantêm-se tudo como está para ver como fica.

Por conta disso, ao invés de uma ação coletivista que ultrapassasse as fronteiras políticas e partidárias, o Diário do Grande ABC do empresário Ronan Maria Pinto virou sim um Diretório Municipal em Santo André, com profunda influência na gestão de Paulinho Serra, como o fora a partir de Aidan Ravin. O resultado só poderia ser o que temos.

Aliás, foi por conta disso (e o documento em forma de Planejamento Editorial Estratégico é público), ao desembarcar na Redação do Diário do Grande ABC em 2004, permanecendo 11 meses, uma das propostas centrais era a quebra de correntes improdutivas de endeusamento ou demonização de amigos e inimigos.

CONSELHO EDITORIAL 

O Partido do Ronan Maria Pinto é tão varejista quanto a Administração de Paulinho Serra. E por menos relativamente importante que seja o Diário do Grande ABC (e todos os jornais, de maneira geral) desde que a Internet entrou em campo com novas fontes de informações conjugadas com o esfacelamento econômico da publicação, persiste uma certa dependência em Santo André, principalmente em Santo André, de que o jornal da Rua Catequese seria o farol a iluminar corações e mentes.

Não é bem assim. Ronan Maria Pinto faria um bem à sociedade se abrisse a linha editorial do jornal a quem entende do ramo, a quem tem personalidade, a quem não é maria-vai-com-as-outras e a quem tem compromisso real com a sociedade.

Não pensem neste jornalista porque não pretendo jamais voltar a uma redação convencional. Não conheço ninguém na praça que tenha essa costura de perfil, mas quem disse que uma ação coletiva, bem azeitada, de um conselho editorial respeitado, formado por gente da sociedade, não seria providencial?

Tanto é ou continua sendo que, naquele Planejamento Editorial Estratégico que apliquei durante 11 meses no Diário do Grande ABC, quando o horizonte inicial era de cinco anos, uma das primeiras providências que tomei foi selecionar 101 representantes de diversas atividades da sociedade para compor uma ação coordenada. Eles tomaram posse num Teatro Municipal de Santo André lotado. E foram jogados às traças após minha saída do jornal, por pressão dos aventureiros de sempre que gravitam no entorno do jornal.



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