Esportes

Final de semana quase perfeito
para o futebol do Grande ABC

DANIEL LIMA - 19/04/2010

Se o Santo André consegue o ineditismo de classificar-se à final da Série A do Campeonato Paulista, se o São Caetano ganha e vai disputar a final do título do Interior e se o São Bernardo vence e está a apenas um ponto da mesma Série A do Campeonato Paulista, o que teria faltado ao futebol do Grande ABC no final de semana que passou?


Simples, simples e simples: faltou o Santo André não decepcionar na derrota para o Grêmio Prudente, quanto ficou a um gol da eliminação.


Pior que a derrota foi a confirmação de que o sistema defensivo continua uma lástima, o que gera insegurança coletiva.


Quando do outro lado da final encontra-se um Santos arrebatador, acho melhor colocar as barbas de molho. Se o técnico Sérgio Soares não reforçar a marcação, poderemos ter decisão histórica também em resultado. O Santo André é candidatíssimo a ser goleado, como a Ponte Preta o foi pelo Palmeiras em 2008 por 5 a 1 e, naquela mesma temporada, o Juventude caiu de oito diante do Internacional de Porto Alegre.


Repito o conceito para que não haja deturpação do conteúdo; se o Santo André não alterar o sistema de jogo que tanto sucesso ofensivo fez na competição, encontrará no Santos locomotiva em sentido contrário que o amassará sem dó nem piedade.


Portanto, está nas mãos do técnico Sérgio Soares a porção de competência tática para permitir que o Santo André termine a competição com dignidade de finalista, não apenas como ponto fora da curva de probabilidades que indicariam qualquer um dos demais times grandes a ocupar a vaga.


Terminar com dignidade uma decisão de campeonato esse espetacular Santos prescinde da vitória e do título. Basta ser adversário à altura do melhor time brasileiro deste começo de temporada. Ganhar seria épico.


Já no jogo de ontem num Estádio Bruno Daniel espalhafatosamente preparado para recepcionar o finalista, o que tivemos, além da empáfia de comemoração antecipada com profunda partidarização política, foi uma equipe que em poucos minutos se deu conta de que exageraram na dose ao tratá-la como vencedora precoce do confronto com um adversário de rendimento inferior na semana anterior.


O Santo André de dentro de campo refletiu o anarquismo dos dias que precederam ao jogo. Anarquismo no sentido de politizar exageradamente a disputa, com excesso de cores do Paço Municipal em associação com a direção do Saged, empresa que administra o futebol da cidade. A contaminação do elenco foi automática.


Quando se deu conta de que o Grêmio Prudente veio para jogar com três atacantes e por isso mesmo concedeu falsos espaços de organização no meio de campo, fechando-se nas proximidades da grande área, o Santo André caiu na real de que não teria moleza. Como não teve.


Tanto não teve que, embora tardiamente, porque correu muitos riscos, decidiu jogar com o regulamento debaixo do braço. Sérgio Soares substituiu atacantes por defensores nos últimos 15 minutos para sustentar a desvantagem de apenas um gol.


Não tenho dúvidas de que o Santo André se deixou levar pelo exagero. Tanto que o Diário do Grande ABC anunciou em letras garrafais numa das últimas edições antes do jogo que o treinamento tático da equipe, fechado aos curiosos, foi o último preparativo para o “show” que viria no domingo.


Show de horrores, é bom dizer. O time fez provavelmente a pior apresentação na temporada. Deixou-se trair pelo entusiasmo desregrado e, em seguida, pela insegurança da desvantagem no placar — situação que tornou precária a vantagem do regulamento.


É claro que a eliminação do Santo André poderia ser avaliada como duro castigo para uma equipe que, depois do Santos, mais entusiasmou quem gosta de futebol bem jogado, com criatividade, triângulos móveis, alternativas de ataque. Uma equipe que, não fosse o Santos em estado de graça, estaria arrebatando muitos corações neste País.


O problema todo é que há a pedra do Santos no caminho, um adversário que pode se dar ao luxo de também descuidar-se da defesa, embora ontem contra o São Paulo o técnico Dorival Júnior tenha dado mais consistência ao setor ao reforçar a marcação no meio de campo. Algo que Sérgio Soares insistiu em desdenhar. Só mudou de ideia ao perceber que a vaca poderia ir para o brejo.


Não há incoerência em sugerir que Sérgio Soares mude o sistema tático nos jogos decisivos. Primeiro porque atenuaria a vulnerabilidade defensiva. Segundo porque o Santo André vem encontrando cada vez mais dificuldades para surpreender os adversários, marcado com mais atenção nos pontos fortes de jogadas mais agudas. Terceiro porque o Santos que está aí dispensa comentários.


Já o técnico do São Caetano, Roberto Fonseca quebrou o predomínio da metodologia inabaláveis e defensivamente cuidadosa quando, no segundo tempo, com um jogador a mais em campo e à beira de um ataque de nervos porque precisava vencer o Oeste de Itápolis, colocou três atacantes em campo, retirando jogadores menos ofensivos.


Com isso, o São Caetano foi para o tudo sem dar possibilidades do contraponto do nada. Avançou os zagueiros e contou com o volante Jairo inspiradíssimo na proteção da defesa, principalmente pela direita onde Arthur mais marcador foi trocado pelo atacante Wendel. Ganhou o São Caetano nos minutos finais e vai para uma decisão com um Botafogo de Ribeirão Preto montado pelo próprio técnico Roberto Fonseca, trazido daquele tricolor como substituto de Antonio Carlos, contratado pelo Palmeiras.


Interessante o destino de Roberto Fonseca, porque pode ser campeão com um time preparado pelo treinador que o antecedeu e pode perder o título para um treinador que o sucedeu. Suas digitais estão nos dois grupos de jogadores. No Botafogo pela montagem do elenco. No São Caetano pela importância de fazer o possível para adaptar a equipe a seus fundamentos teóricos e práticos.


Para completar, mais de 13 mil pessoas que pagaram ingresso a R$ 5 viram o São Bernardo vencer o União de Santa Bárbara do Oeste e, com isso, praticamente encomendar uma das vagas à Série A do Campeonato Paulista do ano que vem. Se não houver comemorações antecipadas do tipo Ramalhão do final de semana, o São Bernardo festejará o acesso já neste sábado em casa contra o Pão de Açúcar e enfrentará o Linense na última rodada no Interior sem precisar de mais nada senão cumprir a tabela.


Por fim, reparem no texto da semana passada a respeito do futuro do Grande ABC neste final de primeira etapa da temporada: escrevi que o Santo André enfrentaria o Santos nas finais, que o São Bernardo subiria e que o São Caetano jogaria com o Botafogo a decisão do Interior. De vez em quando acerto nesse lotérico mundo do futebol.


Agora, para o próximo final de semana, algo me diz que teremos a classificação matematicamente garantida do São Bernardo, a vitória no primeiro jogo da decisão de um São Caetano que evolui com consistência e, se Sérgio Soares não tomar juízo defensivo, uma nova goleada do Santos. Se Sérgio Soares tomar juízo, a provável derrota estará absolutamente dentro da normalidade. Ou seja: sofrerá não mais que três gols. Uma façanha, convenhamos.


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