Esportes

Aviso a conselheiros e acionistas: é
preciso definir futuro do Ramalhão

DANIEL LIMA - 19/04/2010

Vamos aproveitar o ambiente de euforia mais que justa do Ramalhão em campo (afinal, não é pouca coisa disputar o título paulista) para chamar a atenção e a responsabilidade de conselheiros deliberativos do Esporte Clube Santo André e acionistas do Saged (Santo André Gestão Empresarial e Desportiva): é preciso reestruturar o quanto antes a matriz contratual do futebol de Santo André.


Como se sabe e não custa repetir, o EC Santo André é a gênese do Saged. Vai completar três anos que o futebol de Santo André de quatro décadas foi privatizado pelo Saged. O EC Santo André continua com responsabilidade jurídica por muitas das contas que podem ser apresentadas no futuro, como várias que já foram quitadas. Por exemplo: toda a relação contratual com atletas tem o vínculo legal do EC Santo André, não do Saged.


Se o Saged contabilizar lucros, muitos lucros, o Santo André ficará com naco correspondente a 20 das 100 cotas negociadas com investidores. Se der prejuízo, a conta vai ultrapassar em muito esse limite. Afinal, é o EC Santo André que está potencialmente na berlinda.


Para encurtar a história, porque já escrevi alguns artigos sobre o assunto nos últimos dias, todos disponíveis neste site, exponho três alternativas para que a gestão do futebol em Santo André não seja contaminada por descompassos.


Primeiro: que o Saged desvincule-se formalmente o quanto antes da companhia do Esporte Clube Santo André e torne-se algo como Grêmio Santo André. Desta forma, assumiria todas as responsabilidades e vantagens da gestão independente que mantém. Isso mesmo: o EC Santo André não tem participação nos destinos do Saged, formado por acionistas sob a liderança e controle societário do empresário Ronan Maria Pinto. A representação institucional do Santo André no conjunto de acionistas é formal. Quando o Saged tomar essa providência, o EC Santo André não correrá o risco de sofrer duras perdas financeiras nem usufruirá de possíveis lucros de agiotagem, porque, repito, não tem nenhum poder de gestão do empreendimento privado sobre o qual não endereço preconceito algum. Muito pelo contrário: empresa é para dar lucro. Empresa de futebol que dá lucro certamente é empresa vitoriosa dentro de campo.


Segundo: que o EC Santo André reivindique a devolução do comando do futebol ao Saged, entre outros motivos porque o clube-empresa deixou de cumprir cláusulas contratuais que constam do estatuto social — embora o teor desse instrumento seja segredo para acionistas do Saged e principalmente para dirigentes e conselheiros do EC Santo André.


Terceiro: que o EC Santo André e o Saged firmem acordo de co-responsabilidade diretiva de tal ordem que o passado e o presente de glórias do futebol sejam respeitados e as decisões, compartilhadas. Aliás, foi sob essa perspectiva que se aprovou o projeto de fortalecimento do futebol de Santo André. Tanto que o ex-presidente do EC Santo André, Jairo Livolis, e o em seguida igualmente presidente do EC Santo André, Celso Luiz de Almeida, ocuparam cargos decisórios no Saged dos primeiros tempos. Acabaram, tanto eles quanto o Esporte Clube Santo André, soterrados por Ronan Maria Pinto.


A melhor opção seria a terceira, porque preencheria os propósitos da transferência do futebol para o Saged. Entretanto, não creio que tenha sustentação. Possivelmente, se anunciada, não passaria de embromação. As características empresariais de Ronan Maria Pinto, que multiplica impetuosidade, individualismo, controle absoluto da situação e interesses que vão muito além do futebol, definitivamente seriam contestadas pela direção do EC Santo André. Menos, se a direção do EC Santo André fingir que de fato compartilha o poder. Seria uma aproximação para inglês ver.


A opção mais viável é mesmo a criação do Grêmio Santo André, aproveitando-se de jurisprudência que permitiu a formação do Grêmio Prudente sem colocar em risco a posição hierárquica daquele clube-empresa nas esferas estadual e nacional. Desta forma, Santo André continuaria a contar com representação no futebol. É claro que será preciso acertar as contas do contrato que reservou 20 cotas ao EC Santo André. Aliás, um contrato leonino para o clube do Parque Jaçatuba, que detinha integralmente a patente do futebol como também imensa lista de jogadores.


A opção menos potencialmente factível (pelo menos enquanto não surgir na praça outro grupo de interessados no futebol da cidade) é a devolução do futebol ao Esporte Clube Santo André. Quando resolveu entregar a rapadura, em 2007, Jairo Livolis havia esgotado todas as tentativas para manter o futebol competitivo. Com Ronan Maria Pinto o Santo André elevou os níveis de investimentos e de recursos estruturais. Entretanto, como não há informações oficiais sobre as finanças do Saged, o que prevalece é imenso ponto de interrogação. Estaria o Saged afundado em dívidas ou nadando em dinheiro? Qualquer que seja a realidade, as 20 cotas do EC Santo André exigiriam prestação de contas. Entretanto, não há no EC Santo André ninguém com disposição para encaminhar o assunto. O que estaria fazendo o Conselho Deliberativo nestas alturas do campeonato?


O que vai acontecer no futebol do Santo André dependerá de conselheiros e dirigentes do Esporte Clube Santo André e dos acionistas do Saged. Quem continuar negligenciando e empurrando com a barriga terá de prestar contas à sociedade civil.


Vamos comemorar para valer os resultados do Ramalhão. Mas não vamos esquecer o dia seguinte. Não faltam exemplos na praça de que depois da bonança de bons resultados em campo costuma vir a tempestade de complicações administrativas e financeiras fora de campo.


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