Duvideodó que o Santo André vai ser domingo na decisão contra o Santos o mesmo time ofensivo do Campeonato Paulista. Duvideodó que o São Caetano na decisão de amanhã com o Botafogo de Ribeirão Preto vai ser o mesmo time cauteloso do Campeonato Paulista. Duvideodó que o São Bernardo na decisão de amanhã contra o Pão de Açúcar por uma vaga na Série A do Campeonato Paulista do ano que vem vai se deixar levar pelo perigosíssimo embalo do já-ganhou de precisar de apenas um ponto.
Viram os leitores como estou decidido a imprimir certezas numa tarde de sexta-feira em que boa parte já está escalando o descanso no final de semana? Certezas no futebol são obras de malucos, dirão os mais céticos. Que sejam, que sejam.
Antecipo que não vai aqui sentimento que não seja de pura intuição, amiga dileta do conhecimento, parente próxima do bom senso.
O Santo André não pode correr o risco de, em nome de ofensivismo que deu o que falar na temporada, achar que pode encarar o fabuloso Santos em igualdade de condições. Não bastasse o ambiente hostil do Pacaembu na tarde deste domingo, terá equipe superior a ameaçá-la não apenas com uma derrota, mas com uma goleada.
A capacidade evolutiva do Santo André já parece ter-se esgotado nas limitações técnicas dos jogadores, que atingiram o ápice durante a competição. O Santos também alcançou estado de graça. O abismo que separa as duas equipes é claro. O Santos tem individualidades que sobrepujam fartamente as individualidades do Santo André. E os carregadores de piano inspiraram-se tanto nos craques que chegam a superar as expectativas.
O Santos de grandes espetáculos foi forjado primeiro com o individualismo de craques de primeira, depois se fortaleceu na plataforma de um conjunto que se organizou ao longo da competição. Já não é o time desequilibrado dos primeiros jogos. Já não faz do ataque a única razão de viver, por melhores que sejam os predicados do sistema ofensivo.
Já o Santo André partiu de empreitada inversa, de sustentabilidade coletiva que fez emergir vários bons valores individuais. Uma pena que não conseguiu ajeitar-se defensivamente. É um time vulnerável demais.
A substituição do expulso Carlinhos pelo jovem Arthur sinaliza um Santo André compulsoriamente mais cuidadoso no sistema de defesa, por conta das características individuais dos dois jogadores. Haverá menos espaços nas costas do lateral e sobretudo entre o chamado quarto-zagueiro e o lateral-esquerdo. Carlinhos é excelente apoiador, até porque sua origem é a ponta-esquerda, mas é um convite ao ataque adversário. Do outro lado da defesa do Santo André está um Cicinho insinuante com as bolas nos pés, mas marcador condenável. É pelas extremidades que o Santos costuma destroçar defesas. Quando Ganso e Marquinhos armam triangulações internas ou laterais, é um Deus nos acuda. Os zagueiros de área do Santo André têm dificuldades para cobrir as laterais, porque são lentos. Fosse Sérgio Soares, jogaria com três zagueiros.
Somente a superação individual e principalmente coletiva do Santo André impedirá que o Santos faça mais uma jornada de gala no Pacaembu. Não faltará, diante de eventual surpresa, quem se atribuirá refinamento intuitivo, explicitado no clichê de “não falei?”. Mas isso não passa de bobagem. Em condições normais, o Santo André sairá derrotado do Pacaembu nos dois jogos. O que não pode é sair desmoralizado, como a Ponte Preta na final de 2008 contra o Palmeiras, ou o Juventude contra o Internacional no Beira Rio, na mesma temporada. O time de Sérgio Soares merece encerrar a competição com todas as honras, independente do título improvável.
Diferentemente do Santo André, o São Caetano terá mesmo de atacar o Botafogo de Ribeirão Preto neste sábado no Anacleto Campanella. Só assim disputaria o segundo jogo da decisão do título do Interior em condição vantajosa. Mais que a situação compulsória de quem entra em desvantagem nos critérios de desempate, o São Caetano tem a movê-lo em direção ao ataque o conhecimento que o técnico Roberto Fonseca acumula do adversário. Afinal, o Botafogo foi montado pelo treinador que substituiu Antonio Carlos Zago no Azulão. Deixar para decidir em Ribeirão Preto é convite à decepção.
Por isso mesmo a definição da equipe levará em conta a necessidade de marcar gols. Não que Roberto Fonseca repetirá a ousadia do segundo tempo de sábado passado contra o Oeste de Itápolis ao colocar três atacantes nos lugares de três jogadores mais defensivos. Aquela foi uma situação circunstancial, de segundo tempo contra um oponente que teve um jogador expulso. Mas, daí a adotar sistema de jogo mais cauteloso vai grande distância. A segurança de Roberto Fonseca em relação ao futuro na equipe — ou seja, de que a comandará na Série B do Campeonato Brasileiro — é mais que suficiente para que desprenda-se de excessos de cautela.
Completando o final de semana do futebol do Grande ABC, eis que estou confiantíssimo no sucesso do São Bernardo neste sábado contra o Pão de Açúcar. Um empate é suficiente num Estádio de Vila Euclides que deverá receber 15 mil torcedores. A derrota do Santo André domingo para o Grêmio Prudente deve ter servido de lição para o Tigre. Ou seja: a um passo da Série A do Paulista não se permite que se comemore antes da hora. A vantagem do empate não pode ser uma porta aberta ao desleixo.
O São Bernardo não vai frustrar a expectativa geral de que pela primeira vez na história, ano que vem, teremos três representantes na Série A do Estadual mais disputado do País. Já imaginaram (e vou escrever sobre o assunto na semana que vem) que grande oportunidade de o Grande ABC realizar campanha institucional para adensar o público nos jogos de suas equipes? Precisamos nos preparar para evitar o vexame deste domingo no Pacaembu, quando o setor de tobogã vai ser ocupado por apenas algumas centenas de ramalhinos, enquanto os santistas provavelmente invadirão o espaço por falta de lugares em outras áreas do estádio.
É isso que dá lotar artificialmente o Bruno Daniel com ações divorciadas da sustentabilidade social, como domingo contra o Grêmio Prudente. Os políticos que se fartaram de ingressos distribuídos com a única finalidade de levar quem quer que fosse ao Bruno Daniel não vão bancar a ida de ramalhinos ao Pacaembu. Eles só aparecem quando o terreno é propício para investidas eleitorais. É assim em todo lugar.
Total de 985 matérias | Página 1
05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André