O PT Federal está repensando a calibragem de competitividade do PT de Santo André na disputa pela Prefeitura em outubro próximo. As derrapadas do prefeito Paulinho Serra na definição de nomes que concorreriam na chapa situacionista e o festejada participação do ex-prefeito Carlos Grana, no Ministério do Trabalho e Emprego, são pontos convergentes de que teria acabado a brincadeira de uma disputa amistosa.
Dessa forma, o jogo seria para valer mesmo. O PT acredita que ao mesmo tempo em que ganhou musculatura popular com o retorno de Lula da Silva à presidência da República, o prefeito Paulinho Serra teria comprometido o poder de influência com a fragmentação conflituosa de um grupo até então aparentemente equilibrado.
Por mais que se consolidem evidências de que o PT Federal está mais suscetível a descarregar interesse em ver o partido disputando para valer o Paço de Santo André há contrafluxos cuidadosamente observados. Ainda há petistas de Santo André, próximos da Administração de Paulinho Serra, que defendem um jogo amistoso em outubro. Os custos a serem empenhados seriam elevados demais ante perspectivas de sucesso. Entretanto, cada vez mais esse grupo perde força municipal diante da constatação de que a gestão de Paulinho Serra não resistiria mais ao contraditório que explodiu entre os próprios integrantes da Administração.
DESGASTE DO PAÇO
Há detecção de sinais de desgaste da Administração de Paulinho Serra em Santo André, principalmente após o que foi considerada uma declaração de arrogância ao trombetear que contava com nove nomes para concorrer à sucessão.
O barco de suposta hegemonia controlada está afundando. Não faltam insatisfação e revolta entre vários pré-candidatos já descartados. Com isso, o ambiente estaria propício a uma arremetida vigorosa que poderia levar a disputa ao segundo turno. O que parecia impossível há alguns meses agora se cristaliza como provável.
Exatamente por isso e também porque o PT está insatisfeito com as últimas declarações de Paulinho Serra, a conversão de Carlos Grana à disputa municipal é vista como entusiasmo ainda moderado, mas em ascensão. Haveria articulações tanto em Santo André como em Brasília para contornar a indicação inicial de Bete Siraque, candidata nas últimas eleições e a mais cotada para a temporada deste ano.
APROVAÇÃO DE LULA
O ex-prefeito Carlos Grana estaria aparentemente aprovado pela cúpula federal, notadamente junto ao presidente Lula da Silva e ao próprio ministro Luiz Marinho. Nada mais importante, depois de ter sido superado na tentativa de reeleger-se prefeito de Santo André em 2016. Grana perdeu no segundo turno para Paulinho Serra, ex-secretário de Mobilidade Urbana do petista.
Não faltam avaliações que enquadram a saída de Paulinho Serra do governo de Carlos Grana para se lançar candidato a prefeito quando a situação federal do partido beirava o caos, com a Operação Lava-Jato e o impeachment de Dilma Rousseff. Dizem os petistas que Paulinho Serra foi uma espécie de Geraldo Alckmin não realizado. Ou seja: participou do governo de Carlos Grana e em seguida deixou o Paço Municipal e virou adversário. Adversário até determinado ponto. Não faltaram petistas que se aboletaram na gestão de Paulinho Serra, na qual ainda permanecem.
Carlos Grana perdeu aquela disputa em 2016 como tantos outros petistas que também foram derrotados por causa do ambiente político e econômico nacional. Agora a situação é diferente. Lula da Silva está de volta à presidência e mantém um eleitorado fiel principalmente entre populações mais humildes. O PT de Lula da Silva perdeu a disputa presidencial para Jair Bolsonaro em Santo André por apenas quatro pontos percentuais de diferença.
SECRETÁRIO MOTIVADOR
Brasília observa Carlos Grana atentamente e, paralelamente ao desgaste político de Paulinho Serra na condução da chapa à sucessão, teria encontrado um ponto de equilíbrio de competitividade eleitoral principalmente, nesse período, juntamente com concorrentes não alinhados ao Paço Municipal.
Outro ponto, embora sem o mesmo peso decisório de possível reviravolta de competitividade para valer, é o nome a ser indicado pelo grupo de Paulinho Serra para disputar o cargo de prefeito. O secretário de Saúde Gilvan Junior, interrogação como gestor público segundo a ótica petista, tamanha a rapidez de ascensão no segundo mandato de Paulinho Serra, seria alvo fácil junto ao eleitorado mais popular que parecia concentrar-se majoritariamente a favor dos situacionistas.
Interlocutores petistas instalados em pontos básicos da política de Santo André já detectaram o que alguns chamam de revolta explícita e também de revolta controlada de vários prefeituráveis que constavam da lista anunciada pelo prefeito Paulinho Serra.
BOTAFOGANDO
Considera-se que o chamado campo situacionista poderia ser dividido por pré-candidatos descartados pelo Paço Municipal e, com a potencialização do PT, além da candidatura de Eduardo Leite, proscrito pelo Paço Municipal, a disputa fatalmente iria para o segundo turno.
O segundo turno potencial de Santo André já é especulado como espécie de Síndrome de Botafogo, ou seja, provocaria uma derrota histórica do grupo de Paulinho Serra. Síndrome de Botafogo é uma alusão à equipe carioca que no Campeonato Brasileiro do ano passado terminou o primeiro turno com 47 pontos ganhos em 56 possíveis e já era considerada virtual campeã. No segundo turno, ganhou apenas 17 pontos e acabou em quinto lugar na classificação final.
Também pesa contra Paulinho Serra nessa possível nova etapa de observações que envolvem integrantes do PT Federal a assiduidade com que o prefeito tucano tem se manifestado criticamente contra o PT. Teria sido rompido um acordo de cavalheiros à preservação de petistas em Santo André, especialmente de Celso Daniel.
Mas Paulinho Serra, ainda outro dia, fez uma avaliação desairosa do prefeito assassinado em 2022. O PT Federal tem como uma das possíveis artilharias pesadas contra a gestão de Paulinho Serra o Projeto Santo André Cidade Futuro, criado por Celso Daniel e que o atual prefeito transformou no Projeto Santo André 500 ANOS. O PT acusaria Paulinho Serra de plagiador despreparado. Seria uma contraofensiva em respeito à memória de Celso Daniel, nome sagrado em Santo André.
PROJETO PLAGIADO
Mais que isso: há entre petistas com conhecimento municipal que defendem levar o Projeto Santo André Cidade Futuro às ruas não só como prova da visão futurista do então prefeito mas também como elo histórico do partido com o maior nome da política local em todos os tempos. A iniciativa teria, segundo avaliações preliminares, o condão de tornar o PT mais palatável principalmente junto à classe média que Celso Daniel conquistou em dois mandatos seguidos.
Portanto, ao mexer no vespeiro de competência de Celso Daniel, uma desfaçatez segundo analistas do partido, o prefeito Paulinho Serra entregou de bandeja a cabeça do pretenso sucessor. Petistas mais radicais também colocam no cesto de pecados capitais de Paulinho Serra outras referências críticas envolvendo o ex-prefeito Carlos Grana, desconsiderando-se o contexto político-eleitoral de 2016, no caso os estragos de Dilma Rousseff e os efeitos da Operação Lava Jato.
Carlos Grana está em Brasília há vários meses. E goza de prestigio no partido depois de atuar na coordenação do Grupo de Trabalho que negociou a proposta que resultou na PL dos Aplicativos, como se tornou conhecida a relação de trabalho entre empresas e motoristas e entregadores. Numa entrevista ao jornal Reporter Diário nesta semana, Carlos Grana afirmou que o encontro das águas que agora vão para o Congresso Nacional foi um “desafio gigantesco” que resultou em resultados de “referência internacional”.
COORDENAÇÃO DE SUCESSO
O Grupo de Trabalho coordenado por Carlos Grana a convite do ministro Luiz Marinho foi integrado por representantes do governo federal, 15 dos trabalhadores e outros 15 de empresas do setor. Foram oito meses de negociações de uma proposta que regulamentação da categoria.
À parte os conflitos de interpretação da proposta aprovada preliminarmente, entre outras razões porque embute divergências ideológicas, a habilidade com que Carlos Grana atuou junto às partes teria elevado a expectativa de que valeria a pena tê-lo como concorrente à Prefeitura de Santo André e, mais que isso, como prefeito, porque a situação não teria a turbulência macroeconômica e macropolítica do passado que o levou à guilhotina, assim como tantos outros petistas que concorreram às prefeituras.
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