As circunstâncias classificatórias da Série A do Campeonato Paulista vão determinar o estreitamento da distância do perfil técnico-tático que Santo André e São Caetano exibiram até agora na temporada. É muito provável que na Série B do Campeonato Brasileiro, que se inicia na próxima semana, a diferença de estilo de jogo seja mínima. O São Caetano ganhará mais técnica e o Santo André mais força.
A direção do São Caetano está investindo na harmonia de mais leveza e velocidade num time marcado pela força física e coletivismo tático. A contratação do lateral Fernandinho, do meia Kleber e do atacante Mazinho, do Oeste de Itápolis, acrescenta camadas de velocidade e habilidade a um grupo com dificuldade de mudar o jeito de jogar e de surpreender os adversários.
Já o Santo André, que perderá vários titulares nestes próximos dias, deverá recorrer a reposições do mesmo corte, mas possivelmente com muito mais dificuldades de qualificação.
É viável nas primeiras rodadas da Série B do Brasileiro a tendência de o Santo André ocupar posição secundária em relação ao São Caetano. O rearranjo tático é compulsório quando se altera demais a estrutura de uma equipe. A dinâmica de jogo, portanto, se modifica. O que era desenvolvido naturalmente pelo conjunto, torna-se oneroso.
Santo André e São Caetano terão, possivelmente, muito mais semelhanças do que distinções. Diferentemente, portanto, do Campeonato Paulista que termina neste final de semana. O São Caetano precisará se desdobrar para voltar de Ribeirão Preto com o título de campeão do Interior. Já o Santo André deverá se esforçar para não encerrar a competição sob chuva de gols de um Santos sem ameaça de cartão amarelo.
Podem dizer que sou pessimista com relação à sorte do Santo André. Podem dizer à vontade, porque não ligo para pressões desse tipo.
Fui provavelmente o primeiro jornalista da praça a enxergar o Santo André grande time na temporada. Notem que escrevi “grande time na temporada”, não “o grande time da temporada”, que é justamente o Santos. A constatação e a empolgação não turvaram a relativização dos fatos.
O Santo André sentiu a evolução estacionar a partir de determinadas situações. Ocorreu o contrário com os santistas. A diferença é que a elasticidade técnica evolutiva do Santos é muito superior a do Santo André. Há talentos que se exaurem na exata medida da consolidação grupal, como é o caso dos jogadores de maior destaque do Santo André. Há talentos quase inesgotáveis, independente da ação grupal — como várias estrelas do Santos.
O Santo André tem limites que o Santos ainda não encontrou, algo condicionado à graduação dos adversários. Nada mais óbvio para quem conta com Neymar, Robinho, André, Ganso, além de coadjuvantes em estado de graça, como Wesley. Até Pará resolveu jogar na Vila o que esbanjava no Santo André. Talvez tudo isso encontre sérias barreiras contra um Grêmio, pela Copa do Brasil, mas não diante do Santo André.
As equipes de futebol devem ser reavaliadas na medida em que os confrontos aparecem.
A volta à lateral de Carlinhos repotencializa o sistema ofensivo do Santo André, mas mantém a vulnerabilidade defensiva.
Carlinhos é ala de muito potencial técnico, de precisão do passe, de chute forte, de cruzamentos precisos, mas é marcador deficiente. Não tanto quanto Rômulo, improvisado na esquerda no primeiro jogo com subsequentes danos já explicados aqui.
Com Carlinhos de ala o Santo André requer reforço na marcação do meio de campo ou mesmo um terceiro zagueiro. Sérgio Soares continua a esnobar a alternativa, inebriado pela fase classificatória, quando o nível de exigências foi outro.
Essa história de que não se mexe em time que está ganhando, como estava ganhando o Santo André na fase classificatória, é uma das grandes bobagens do futebol.
Fosse técnico do Santo André, não teria dúvidas em reforçar a cautela apresentada no primeiro jogo, quando Sérgio Soares priorizou quatro jogadores na cobertura aos quatro zagueiros e explorou os contragolpes. Só não repetiria o deslumbramento de desprezar a força ofensiva do Santos ao sair atabalhoadamente ao ataque, principalmente com Rômulo.
O Santo André não pode abdicar de sistema defensivo forte. Fixar-se na exploração dos erros do Santos não pode ser visto como contra-senso porque quem precisa da vitória é o Santo André. Essa é a terapêutica recomendada. O adversário não vai se limitar a explorar a vantagem do regulamento. O Santos é um grupo vocacionado ao ataque e ao ataque irá desde o primeiro apito.
Não teria dúvidas em retirar da equipe o irregular centroavante Nunes, sobre o qual o Santo André faz esforço descomunal para encontrar comprador. Daria mais liberdade a Bruno César, depois de escalar um terceiro zagueiro. Todos os zagueiros de área do Santo André são pesados e lentos demais. Aliás, exatamente por serem pesados e lentos demais um terceiro zagueiro se faz emergencial diante do Santos.
Se o Santo André não se conscientizar de que não pode seguir com a Síndrome de Zoológico, dará com os burros nágua além da conta do natural favoritismo do Santos. O que significa Síndrome de Zoológico? É o Santo André satisfazer-se com o fato de que é grande atração coadjuvante no Pacaembu. Uma espécie de macaco fuzarqueiro, sobre o qual todos mantêm atenção complementar, porque estão mesmo com as atenções voltadas para espécimes de branco.
O Santo André precisa se esforçar para roubar a cena, não simplesmente dispor-se a aceitar migalhas de uma decisão histórica. Para isso, quanto menos jogar para agradar a platéia e mais para estragar a festa programada pelo Santos, melhor.
Do ponto de vista prático seria muito melhor cerrar os dentes e jogar de forma mais competitiva, mesmo que menos espetacular.
Trocando em miúdos: o Santo André do jogo bonito, das jogadas de aproximação, das triangulações móveis, dos deslocamentos contínuos, tem tudo para sair do Pacaembu como vice-campeão discreto, mas se adotar postura mais pragmática, mais inteligente, menos emocional, mais contundente, pode acrescentar ao currículo um resultado surpreendente que possivelmente só não o levaria ao título por conta dos erros do primeiro jogo, obrigando-o à vantagem de dois gols.
Já o São Caetano que vai a Ribeirão Preto teria mais possibilidades de voltar campeão do Interior se pudesse acrescentar os reforços vindos do Oeste de Itápolis. Faltaram à equipe do Grande ABC, inclusive para chegar entre os quatro semifinalistas, como o Santo André, alguns valores individuais que contribuíssem para quebrar a rigidez de marcação e de contragolpes forjados nos laboratórios de treinamentos.
A improvisação, a criatividade e a leveza ficaram concentradas demais no armador Everton Ribeiro e no ainda instável atacante Vanderlei. Com os reforços e também com a retomada de ritmo de treinamento e de jogos de Luciano Henrique, ex-Sport, o São Caetano tende a disputar o Campeonato Brasileiro com envergadura.
Mesmo sem os reforços o São Caetano pode voltar campeão do Interior. O Botafogo já mostrou dificuldades para enfrentar equipes que exercem marcação implacável. Dependerá do posicionamento da equipe de Roberto Fonseca o sucesso da empreitada. Jogar em contragolpes contra um Botafogo que costuma expor-se em casa é mesmo a melhor pedida. Um golpe fatal basta para colocar a mão na taça. O empate favorece a equipe da região depois da vitória em casa no último final de semana.
Como não fujo da raia e não considero prognóstico meramente palpite feliz ou infeliz, mas, em situações como desses dois jogos, resumo de constatações diversas, duvido que o Santos deixe de vencer o Santo André e que o São Caetano não possa sustentar um empate.
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05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André