Política

Tarcísio dá um show de
discernimento eleitoral

DANIEL LIMA - 09/04/2024

Lula da Silva já teve muito, antes de envelhecer mal como está envelhecendo. Jair Bolsonaro tem bastante e parece distante de fadiga de material. Geraldo Alckmin também teve e continua tendo. Eduardo Suplicy também tem e não é nada diferente hoje que é velho, porque exultava quando jovem. Tarcísio de Freitas tem consolidado. Tão consolidadamente que deu provas ontem em Santo André. Ele não meteu a colher de precipitação na sopa de idiossincrasias das eleições municipais desta temporada.

Não me peçam para fazer uma exame geral do conceito de “discernimento político-eleitoral” que está subentendido na manchetíssima de hoje. Vou dedicar um artigo inteiro a isso, mas não será hoje. Resumidamente, o que Tarcísio de Freitas tem e que os nominados acima também têm ou tiveram é foco, comportamento, definição de público-alvo, de voto na urna. Goste-se ou não. Gosto de alguns, não gosto de outros.

Agora vamos aos fatos. Tarcísio de Freitas não subiu no muro da indecisão ao dizer em Santo André, para decepção visível de alguns apressados, que só definirá apoio na região aos finalistas do segundo turno que se apresentarem como adversários prováveis da esquerda. A exceção, porque já definida, está em São Caetano.

TITE GARANTIDO

Tarcísio de Freitas apoiará Tite Campanella, do PL, indicado pelo prefeito José Auricchio entre outras razões porque o prefeito José Auricchio não quer ficar fora do jogo politico local e estadual. Ele tem um filho para cuidar politicamente, caso sinta cansaço da própria carreira de quatro eleições vitoriosas. Auricchio está plenamente certo.

Tite Campanella fez o trabalho direitinho ao juntar-se ao deputado Thiago Auricchio no processo de sensibilização do governador. São Caetano tem turno único e exigiria a definição do governador que ficará para os segundos turnos programados.

É claro que não faltam áulicos na mídia regional a procurar transferir palavras de Tarcísio de Freitas, ou mesmo fotos com os candidatos que mais os agradam, como apoios explícitos. Uma bobagem sem limite. Coisa de quem botou determinadas injunções na cabeça e não abre mão.  

Tarcísio de Freitas logo tratou de utilizar a vacina da precaução ao enfatizar que, literalmente, onde houver bola dividida, ele só entra na finalíssima.

BOLAS DIVIDIDAS

A tarefa autoimposta pelo governador do Estado não será missão simples. Tudo pode acontecer na disputa do primeiro turno nos demais municípios onde houver  desdobramentos ao turno final. Agremiações associadas no campo conservador poderão passar para o enfrentamento direto no segundo turno e exigirem mais discernimento ainda do titular do Palácio dos Bandeirantes.

Ainda é cedo para conjecturas, mas a titulo de especulação fico a imaginar o que decidirá o governador em termos de apoio explícito, de ir às ruas, de gravar mensagens nas redes sociais, se, por exemplo, o candidato do Paço de Santo André for finalista juntamente com o ex-candidato do Paço Municipal  --, no caso  Gilvan-Petrin ou algo parecido, contra Luiz Zacarias.

Para quem prevalecerá o peso eleitoral do governador do Estado se houver conflito de interesses de conglomerados partidários? Como é que ficaria essa bola dividida? Acho que, nesse caso, que pode se repetir em outros endereços da região, o melhor é dar uma investigada profunda na vida eleitoral e política pregressa da turma finalista. Quem é conservador de fato ou quem é conservador de araque.

GESTÃO COMPLICADA

Em Santo André não é difícil colocar a candidatura do Paço Municipal sob suspeição e possível descarte, caso o eventual adversário do segundo turno seja mesmo um representante da direita conservadora.

Afinal, como convencer o governador do Estado que a gestão de Paulinho Serra estaria afinada com os pressupostos dos conservadores se durante a pandemia o tucano bateu para valer no presidente da República, mentor do governador do Estado?

Vamos lá que, de repente, aquele passado seja jogado no lixo em nome de uma nova composição política e também do calor daqueles momentos. Ou seja: esse fator de suposto desempate de decisão a quem apoiar precisaria seria atualizado.

E se for atualizado vamos ter o mesmo prefeito de Santo André atacando outro dia o mesmo Jair Bolsonaro, na tentativa de abafar vaias de público formado exclusivamente por professores, no Ginásio Municipal?

VOTOS EVAPORAM?

Mais ainda? Caso o governador mande aprofundar as informações e constatar o que jamais será contestado porque são fatos e provas, que o prefeito Paulinho Serra abriu dezenas de cargos a petistas que abandonaram o barco do então prefeito Carlos Grana muito antes da derrota previsível em 2016, a bordo da nave eleitoral implodida por Dilma Rousseff?

Repararam que, e insisto em lembrar que se trata apenas de especulação, se o cenário proposto for levado ao campo da realidade?

Está certo que o prefeito Paulinho Serra tem votos e que votos interessam a todos os políticos, mas não se pode esquecer que votos de prefeito sem mandato são votos que estão à solta durante pelo menos uma temporada de quatro anos inteiros. Essa equação só não vale para Lula e Bolsonaro. A outros, vai perdendo a viscosidade.

Tudo pode mudar em quatro anos. Principalmente quando determinados resultados efetivos de uma gestão feita de muito marketing for esquadrinhada, inclusive à luz de instâncias que aferem irregularidades durante a pandemia, por exemplo.

OPORTUNISMO PURO

Também em São Bernardo algo poderia ser capturado do passado e do presente. Está cada vez mais difícil para o deputado federal Alex Manente ir para o segundo turno, mas ele manobra possivelmente a última tentativa de viabilizar-se ante a concorrência mais forte. Trouxe para seu lado um vereador declaradamente bolsonarista, embora, até então, jamais se tenha manifestado em qualquer ocasião admirador, adepto ou parceiro mesmo que circunstancial do legado conservador de Bolsonaro.

Será que esse lance de oportunismo eleitoral faria o governador Tarcísio de Freitas emprestar apoio a Alex Manente num eventual segundo turno? Somente se o adversário for o petista Luiz Fernando Teixeira. Esse confronto é muito pouco provável. Marcelo Lima e Flávia Morando, isoladamente ou juntos, vão atrapalhar os planos de Manente.

Ainda voltaremos a esse assunto. E vamos esmiuçar na medida do possível o conceito de “discernimento político-eleitoral”. Adianto que no caso de Tarcísio de Freitas é um conjunto positivo, assim como em relação a Lula da Silva e a Jair Bolsonaro. Já quanto a Eduardo Suplicy e Geraldo Alckmin, à história é outra. Esperem para ler e crer.



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