Ganha força entre conselheiros deliberativos do Esporte Clube Santo André preocupados com o atual figurino de sustentação do Ramalhão a ideia de exigir a mudança do nome do representante da cidade para Grêmio Santo André. Pretende-se, complementarmente, sugerir à administração do clube-empresa, no caso o Saged (Santo André Gestão Empresarial e Desportiva), a abertura de comportas a novos acionistas. A popularização do quadro de acionistas, eliminando-se o exclusivismo de alguns, seria o antídoto ao centralismo. Quem acredita que a democracia que também pode ser chamada de representatividade social teria vez no Ramalhão? Seria sonhar demais, convenhamos. A substituição de EC Santo André por Grêmio Santo André já seria suficiente para colocar ordem no pedaço.
Entretanto, para que seja possível isso que é muito bonito, lindo e maravilhoso, é preciso combinar com o presidente Ronan Maria Pinto, dono do Diário do Grande ABC, dono do Ramalhão, conhecido pela enorme dificuldade de compartilhar. Ronan é desses exemplares que não aceitam posição secundária onde quer ser primeiro ou onde já é primeiro.
Sempre que a situação do Ramalhão for exposta é indispensável contextualizar. É isso que fazemos. O time de futebol que disputa a Série B do Campeonato Brasileiro é gerido pelo Saged, resultado de operação mais que patética de repasse dos ativos futebolísticos do Esporte Clube Santo André sob o comando de Jairo Livolis para o Saged presidido por Ronan Maria Pinto. O EC Santo André tem apenas 20 das 100 cotas do Saged, mas não reúne peso algum nas decisões. Tudo é liderado e definido por Ronan Maria Pinto.
Os investidores do Saged não passam de 20 empresários, a maioria ligada a Ronan Maria Pinto, senhor absoluto do destino do Ramalhão. As assembléias de acionistas do Saged são a homologação dos desejos do presidente. Tudo segue ritual de total obediência ao chefe. O Saged é uma empresa cujo dono finge que concede poderes aos diretores e acionistas, mas, na prática, mantém os cordéis sob controle total. Também é o único que se dedica integralmente ao Ramalhão. Mais que presidente, é um executivo.
Perdeu-se com o modelo de clube fechado do Saged e de um presidencialismo centralizador uma grande oportunidade de dar configuração social ao Ramalhão. A campanha desta temporada no Campeonato Paulista seria importante catalizador de intervenções.
A arrumação jurídica engendrada por Jairo Livolis para fortalecer o Ramalhão tornou o risco para o Esporte Clube Santo André imenso. As consequências econômicas e financeiras de fracasso do clube-empresa chamado Saged, que administra o Ramalhão, são temerárias. Não há casos de sucesso financeiro nos clubes brasileiros. Não há exemplos de receitas que superem as despesas. Pelo menos as receitas oficiais e as despesas oficiais, contabilizadas e sacramentadas.
Há repasses automáticos de responsabilidade solidária que penalizariam o EC Santo André. Por isso, a iniciativa de retirar dos ombros da associação do Parque Jaçatuba a cobertura de eventuais erros do Saged é providencial. Daí a ideia de criar o Grêmio Santo André, controlado pelo Saged. O EC Santo André respiraria aliviado. Não lhe sobrariam ônus da parceria. Da mesma forma que o Saged não teria de encaminhar ao EC Santo André eventuais lucros de 20% de participação relativa de cotista. Teria antes, é claro, de acertar essas contas para zerar a participar do EC Santo André, naquilo que se transformou espécie de negociata em que o clube poliesportivo do Parque Jaçatuba cedeu ativos e assumiu dívidas imensas com as quais tem convivido num orçamento apertado.
A operação de repasse dos ativos do Esporte Clube Santo André ao Saged é um escândalo desde que a direção da associação esportiva foi alijada da direção do clube-empresa e, mais que isso, não compartilha de qualquer decisão. Nem ao menos, vejam só, tem conhecimento do que se passa com as finanças do Saged. E olhe que já se completaram três anos desde que o Ramalhão ganhou essa retaguarda diretiva. Provavelmente nos últimos dias, desde as primeiras matérias neste site, alguma iniciativa deve ter sido tomada para procurar adequar a situação a um mínimo de moralidade.
Acredito que foi possível resumir a situação envolvendo EC Santo André e Saged.
Agora, vamos ao encaminhamento que conselheiros do EC Santo André pretendem ver resolvidos. A proposta é que o Saged demonstre que está interessado em democratizar a participação da sociedade e reformule o universo de acionistas. Seriam colocados à venda a preços populares nacos de integração na sociedade. Em vez dos gatos pingados atuais, poderiam envolver centenas de representantes da cidade. Algo como imaginou o então presidente do EC Santo André, Jairo Livolis, na primeira proposta de privatização do Ramalhão, cuja matéria está disponível neste veículo digital.
Embora a sugestão seja oportuna, é difícil acreditar que terá repercussão e efetivação. O presidencialismo radical de Ronan Maria Pinto é uma fonte de dispersão. Muito dificilmente novos acionistas vão aderir à proposta tendo em vista o regime personalista.
O ex-presidente Jairo Livolis não se pronuncia. O atual presidente, Celso Luiz de Almeida, prefere deixar a responsabilidade para o Conselho Deliberativo, quando então apresentaria as armas. O Ramalhão está com o destino societário selado e carimbado por Ronan Maria Pinto ou poderia haver mudanças? O dono do Diário do Grande ABC é um homem dinâmico, sabe como conseguir receitas mas não há garantia de que controlará despesas. Os três anos sem prestar contas do Saged são prenúncios de que pode haver algo de errado nessa história tanto quanto apenas comprovar o imperialismo diretivo. E prestação de contas, todos sabemos, não é simplesmente apresentar números e o aval de uma auditoria qualquer. Que Ronan Maria Pinto não se inspire nos chamados Portais de Transparência que a demagogia política inventou no setor governamental para engabelar o distinto público. Tudo não passa de trapaças numéricas, porque o essencial fica escondidinho.
O Saged não terá necessariamente nenhuma obrigação com a sociedade em revelar os números do empreendimento a partir do momento em que o Esporte Clube Santo André estiver fora de sua zona de influência legal. Ou seja: quando o EC Santo André deixar de ser acionista do Saged, o presidente Ronan Maria Pinto e os acionistas do clube-empresa poderão fazer o que bem entenderem, inclusive ser transparentes ou não na gestão do Saged. Bem diferente da situação que já acumula três anos.
Por que se preocupar se o EC Santo André será, em última instância, o desaguadouro de todas as eventuais irregularidades?
Por todas essas circunstâncias e fatos a democratização acionária que conselheiros do EC Santo André imaginam para o Saged para fortalecer o Ramalhão não encontra muita guarida. A tendência thatcheriana é uma ilusão, garantem os menos condescendentes com a situação atual.
De qualquer maneira, a semente de transformações está lançada. O EC Santo André mobiliza-se para uma assembléia diretiva que visa a colocar um ponto final nos riscos de integrar o Saged. Há movimentação em sentido contrário, para deixar tudo como está para ver como é que vai ficar.
Pressões já são denunciadas nos bastidores. A tropa de choque pró-manutenção do quadro jurídico é tão discreta quanto uma retroescavadeira. Tomara que não acovarde os conselheiros do Esporte Clube Santo André.
De minha parte, até mesmo para que se fortaleça de verdade o futebol do Ramalhão, não vou dar paz a quem pretende empurrar a situação com a barriga. O futebol de Santo André precisa dar um salto de qualidade que o retire do lotérico destino de brilhar de vez em quando, apenas de vez em quando. O Saged é o Ramalhão jurídico que não pode atuar com o respaldo omisso do EC Santo André.
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