Um encontro realizado ontem à noite na sala de diretoria do Esporte Clube Santo André, no Parque Poliesportivo, Jaçatuba, talvez ganhe importância histórica de recomposição de peças e de elementos ao fortalecimento do Ramalhão.
Depois de exatos três anos de privatização do futebol da cidade, que passou do controle do Esporte Clube Santo André para o Saged (Santo André Gestão Empresarial e Desportiva), e da conclusão crítica de que é possível fazer muito mais para, entre outras finalidades, evitar novos vexames de representação popular como os dois jogos da final contra o Santos, no Pacaembu, a reunião de ontem deve ser um divisor de águas.
Tomara que seja, tomara que seja, mas não o será se não houver engajamento de número considerável de gente que diz que carrega o Ramalhão no peito.
Acreditar que haverá fórmula mágica, um pó-de-pirlimpimpim que desate os nós que se cristalizam, é excesso de otimismo, de ingenuidade ou de egocentrismo.
Foram 90 minutos de reunião. Tempo exato para a disputa de uma partida de futebol sem intervalo. O que se colocou naquele encontro foi muito mais que a decisão de um jogo de futebol. Foi o próprio futuro do Ramalhão.
O modelo que está aí, mesmo com o sucesso no Campeonato Paulista, não assegura perenidade. Até porque não é a primeira vez nem será a última que o Ramalhão aparece numa etapa decisiva de uma competição.
Ninguém será capaz de apostar para valer que o Ramalhão se sustentará por muitos anos entre os principais clubes do Estado ou que seja capaz de cumprir muitas jornadas seguidas na Série A do Campeonato Brasileiro, da qual foi apeado quando debutou.
A gangorra do futebol do Santo André é resultado da fragilidade estrutural, econômica, financeira, social, política e institucional. Por isso mesmo o Ramalhão está sujeito às chuvas do título da Copa do Brasil e de finalista da Série A do Campeonato Paulista e às tempestades de rebaixamento à Série B do Brasileiro e à Série B do Paulista.
Participaram da reunião, além deste jornalista, o presidente do Saged, empresário Ronan Maria Pinto; o presidente do EC Santo André, Celso Luiz de Almeida; o presidente do Conselho Deliberativo do EC Santo André, empresário Duílio Pisaneschi; o vice-presidente do EC Santo André e presidente do Conselho de Acionistas do Saged, Jairo Livolis; e o vice-presidente do Saged, empresário Romualdo Magro Filho.
Gente graduadíssima. O encontro derivou de questionário que enviei a todos eles (e também ao ex-presidente do Conselho Deliberativo do EC Santo André, Luiz Antonio Lepori) sobre vários pontos relativos ao futuro do Ramalhão.
Vou ser breve na exposição de pontos sobre os quais deverão girar os principais debates nos próximos tempos, envolvendo, em princípio, integrantes do quadro de acionistas do Saged.
Alguns aspectos foram mais ou menos aprofundados, enquanto outros apenas levemente explicitados ou implicitados sem maiores evoluções analíticas. Acredito que o que se extraiu da reunião, além do refluxo de certa tensão causada provocativamente pelo questionário que agora se tornou dispensável, foi um certo grau de comprometimento a dar andamento à agenda delineada.
Acredito que não estarei incorrendo em excessos nem em omissões ao expor os pontos cardeais sobre os quais deverão girar os estudos e as ações que beneficiariam o Ramalhão.
O primeiro ponto e mais importante, a julgar pela ênfase com que foi assimilado principalmente pelo presidente do Saged, Ronan Maria Pinto, diz respeito à harmonização das relações contratuais entre o Esporte Clube Santo André e o Saged. O resumo da ópera é o seguinte: Ronan Maria Pinto concorda integralmente com este jornalista — e ao que parece também com os demais participantes da mesa — de que é indispensável encontrar saída jurídica para que o EC Santo André não sofra eventuais complicações financeiras por participar como acionista do Saged. É possível encontrar uma saída que retire o EC Santo André do quadro de acionistas e de contratempos legais. Entretanto, não se deve perder de vista que a medida não pode desprezar complementaridade de interesses entre as partes, inclusive com a manutenção da denominação.
O segundo ponto decorre do primeiro, porque o Clube de Campo do EC Santo André, na Vila Luzita, poderia virar espaço de treinamentos do Ramalhão. Tudo vai depender de operação jurídica que satisfaça tanto à direção liderada por Celso Luiz de Almeida quanto a empresa presidida por Ronan Maria Pinto. Há engenharia de financiamento estatal que possibilitaria a concretização de antigo plano do então presidente do EC Santo André e então comandante do Ramalhão, Jairo Livolis, de construção de um centro de treinamento à formação de craques. Não faltariam instrumentos legais de cessão de uso da área ao Saged, empresa que administra o Ramalhão.
O terceiro ponto refere-se à maior inserção institucional do Ramalhão na sociedade, ação da qual resultariam desdobramentos amplamente favoráveis ao fortalecimento da imagem corporativa. Quando se trata de ação institucional isso quer dizer reforço de entidades diversas, através de lideranças e associados.
O quarto ponto é algo semelhante à maior inserção institucional, só que direcionada à comunidade como um todo. O processo culminaria com o adensamento das arquibancadas do Estádio Bruno Daniel sem recorrer necessariamente a ingressos gratuitos. Principalmente no ambiente de Ensino Fundamental é possível concorrer como os grandes clubes paulistas que dominam o noticiário da mídia. Não seria vergonha alguma o Santo André assumir a condição de segundo clube de muitos. É melhor que primeiro clube de poucos, como hoje.
O quinto ponto volta-se ao que chamaria de potencialização corporativa, que viria a ser a composição de estrutura empresarial para o Ramalhão. A departamentalização do Saged seria controlada por acionistas vocacionados às respectivas áreas de atuação profissional ou empresarial, fincando-se raízes à profissionalização.
O sexto ponto envolve a potencialização acionária, ou seja, a elevação do número de participantes do quadro de acionistas. Nesse ponto, haveria necessidade de reformulação do regime de cotas, abrindo-se espaços a novos investidores. Os valores monetários certamente teriam de ser reanalizados para adequarem-se aos respectivos bolsos dos interessados.
O sétimo ponto trata de enfeixar no conjunto de atividades do Ramalhão uma forte estrutura de marketing que contemple e sistematize todas as áreas do clube esportivo-empresarial.
Trata-se, como se observa, de pauta preliminar bastante substanciosa. Repito que não há mágica na resolução dos problemas históricos e recentes do Santo André. Entendo que vale a pena essa tentativa. Há três anos se colocou em campo um Santo André diferente do modelo com que foi concebido, quando futebol profissional era visto com romantismo. Os tempos são outros, as demandas são cada vez mais opressivas e quem não se der conta disso vai desaparecer do mercado da bola, elemento cultural valiosíssimo à divulgação da imagem municipal e regional.
Total de 985 matérias | Página 1
05/08/2024 Conselho da Salvação para o Santo André