Esportes

Futuro do Santo André não é
tarefa para salvador da pátria

DANIEL LIMA - 08/06/2010

Leitores preocupados com o Ramalhão e que acompanharam atentamente o artigo deste veículo digital (Reunião para colocar Santo André no rumo certo. Será que agora vai?) me perguntam se tudo o que foi repassado como resultado daquela reunião com dirigentes e ex-dirigentes poderia ser entendido como alerta contra o risco de privilegiar alguém ser caracterizado como salvador da pátria?


Prometi que responderia aqui e aqui respondo: a viabilidade de reoxigenar o organismo do mais antigo clube profissional da região se ampliará tremendamente na medida em que mais se distanciar de um agente específico.


Não existe futuro no Ramalhão se estiver condicionado a um salvador da pátria.


É isso que procurei transplantar quando enfatizo a importância de criarem-se departamentos especializados para dar suporte ao Saged, empresa que administra o futebol do Ramalhão. Esse processo correria em raia própria. Na outra raia se daria o afastamento jurídico do Esporte Clube Santo André de qualquer ressonância da atuação do Saged.


O que apresentei naquele texto foi uma operação de resgate, de atualização e de adaptação do modelo que enviei aos acionistas do Saged há praticamente três anos, quando mal acabara de se consumar a transferência do patrimônio esportivo do EC Santo André para aquela empresa esportiva, possibilitando ao Ramalhão ganhar competitividade nos gramados paulistas e brasileiros.


Por isso mesmo, quem cair na bobagem de afirmar que este jornalista só se limita a criticar o Ramalhão não merece a menor credibilidade. Nenhum representante do clube associativo ou do clube-empresa produziu algo minimamente defensável como prova de inquietação com o futuro do Ramalhão. Todos os acionistas do Saged receberam cópias daquele trabalho há três anos. O material está, inclusive, postado neste site.


O máximo que podem falar é que não tenho comparecido fisicamente aos jogos da equipe. É uma verdade. Qualquer dia desses explico as razões que, entretanto, não me impedem de acompanhar atentamente o rendimento da equipe e de apontar, como apontei nas primeiras rodadas do Campeonato Paulista, o que muitos cronistas só enxergaram mais tarde, quando o Ramalhão estava às portas das semifinais.


Deixar de ver jogos do Santo André nos estádios não é sinônimo de desinteresse. Há gente que não perde um jogo sequer e não faz absolutamente nada pelo Ramalhão. Mais que isso: mais atrapalha do que ajuda.


O futuro do Ramalhão antes do Saged era incerto, como alardeava o então mentor intelectual da mudança, Jairo Livolis, que durante mais de uma década dirigiu o clube. Quando a migração se deu, em maio de 2007, Jairo Livolis continuava à frente do futebol do Ramalhão, embora o presidente do EC Santo André fosse o recém-empossado Celso Luiz de Almeida.


Quem pretender, por vontade própria ou influenciado por terceiros, assumir isoladamente as iniciativas que deverão culminar com o fortalecimento do futebol de Santo André em todas as esferas da sociedade, terá feito contrato diabólico. O egocentrismo e a vaidade se sobreporão à lucidez e à racionalidade.


O futuro do Ramalhão não se assemelha a de um corredor fundista que faz o próprio resultado. É um barco de remadores que precisam enfrentar a borrasca.


Exceto o presidente do Saged, Ronan Maria Pinto, a quem deve ser atribuída a liderança do processo, nenhum outro integrante do quadro de acionistas do Saged estará revestido de condições e de obrigações para encabeçar a iniciativa.


A vontade política deve estar concentrada e em seguida descentralizada sob monitoramento de Ronan Maria Pinto. Não há outro dirigente ou acionista do Saged que reúna condições essenciais que se rivalizem com o dirigente que amealha os maiores poderes decisórios no Ramalhão. Entretanto, jamais Ronan Maria Pinto ou qualquer outro dirigente que assuma a presidência do Saged chegará a estágio de transformações se não contar com um grupo numeroso de colaboradores.


Se me perguntarem mais uma vez sobre as possibilidades de Ronan Maria Pinto de fato liderar essa empreitada, não saberia responder. Não sei mesmo se diante da avalanche de compromissos que o empresário contabiliza no dia a dia terá de fato assimilado a importância de comandar a iniciativa. Repassar a prerrogativa de mobilizar instâncias legais do Saged e, em seguida, do Esporte Clube Santo André, principalmente do Conselho Deliberativo, não resolverá nada.


Se a vontade política do presidente do Saged não se manifestar e se não for abrangente como deve ser, diluindo-se importância na medida em que cresceria a integração de parceiros de jornada, nada será possível. Talvez tudo se esgotaria na resolução da armadilha jurídica que coloca uma espada sobre a cabeça financeira do Esporte Clube Santo André, por eventuais prejuízos causados pelo Saged.


Não dá mais mesmo para adiar a separação de corpos entre EC Santo André e Saged, para que não se lamente o leite derramado mais tarde.


Ou alguém tem dúvida de que o modelo em execução há três anos é espécie de suruba jurídica sem nenhum compromisso social, quando o correto seria um divórcio jurídico com comprometimento social?


Vou traduzir a metáfora da seguinte forma: o modelo praticado une juridicamente de forma ilegítima dois corpos distantes que jamais gozaram de lua-de-mel. Esporte Clube Santo André e Saged têm vidas próprias e distintas. O modelo que precisa ser estabelecido deve separar legalmente o Esporte Clube Santo André do Saged e uni-los socialmente, ou seja, com medidas interativas entre o Parque Poliesportivo, que é de fato o Esporte Clube Santo André, e o Ramalhão, que é o time de futebol.


Tudo isso está explicita ou implicitamente exposto no texto anterior.


Além de Ronan Maria Pinto na condução dos acionistas do Saged, um outro nome surge como fundamental para juntar metades da laranja institucional do futebol de Santo André nas alterações que não podem deixar de ocorrer: o do presidente do Conselho Deliberativo do EC Santo André, Duílio Pisaneschi. Sem a liderança e a boa vontade desse antigo colaborador do clube, interessadíssimo em contribuir na remontagem da estrutura atual, dificilmente se dará a potencialização do Ramalhão.


A aglutinação de conselheiros deliberativos do Esporte Clube Santo André no projeto de institucionalidade do Ramalhão passa obrigatoriamente pela sensibilização de Duílio Pisaneschi. A transposição de antigos aficcionados e colaboradores do EC Santo André para o Saged vai depender do arcabouço legal que seria introduzido no estatuto do Saged para recolher muitas contribuições que poderão ser acrescentadas nas medidas a serem adotadas.


A expectativa é de que, passada uma semana daquela que poderá ser histórica reunião no Poliesportivo do Parque Jaçatuba, cresce a expectativa à primeira reunião com acionistas do Saged, quando se delinearia, de fato, espécie de agenda do futuro do Ramalhão.


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